Inquérito SP_D2_311

SPEAKER 3: : Maria da Glória e Maria () Carmo, gostaríamos que falassem a respeito de São Paulo, suas experiências com ela.

SPEAKER 0: : É uma cidade turbulenta, né? Difícil de se viver na atualidade, mas também para nós é muito difícil morar noutro lugar, né? Quem mora aqui, acho que não se ajeita no ambiente diferente. Agora, Maria do Carmo.

SPEAKER 1: : Bom, eu nunca experimentei morar em outro lugar. Às vezes, eu gostaria, por causa do clima, principalmente. Quando faz frio, eu todo inverno, eu tenho intenção de mudar de cidade. Quando chega o verão, eu esqueço do projeto. Para mim, é o principal. É o tempo feio, assim, uns seis meses seguidos, a gente não aguenta, né? agora, quanto à dificuldade, eu resolvi meu problema vivendo, assim, no bairro. E eu acho que é o que todo mundo devia fazer. Inclusive, eu acho que ia aliviar muito o trânsito, que só saísse do bairro quem tem muita necessidade. Eu procurei pôr as crianças em escola aqui perto e que eles fiquem para o resto da vida nas escolas aqui de perto. E cada bairro ou cada zona sempre tem um lugar bom para você pôr seu filho. Não precisa pôr do outro lado da cidade para estar todo dia indo levar e buscar. Minhas compras também eu resolvo por aqui mesmo. Eu sei que eu pago mais caro. comprando aqui, mas eu não tenho coragem de enfrentar uma () uma vinte e cinco de março, nem ao menos o centro. Eu acho que não deve. Eu economizo mais economizando gasolina, ou táxi, ou estacionamento, e comprando aqui mesmo. E eu tento fazer uma vida assim, já arrumei dentista, tudo por aqui. Só me falta médico, porque eu não tive coragem de mudar ainda. Mas assim que eu souber de alguma coisa, que alguém conheça, e que seja bom, eu mudo. Não faço a mínima questão. ()

SPEAKER 0: : Sobre o comércio... Eh... o comércio realmente aqui no nosso bairro é muito bom, né, e não temos de tudo ainda, porque Perdizes era meio refratário o comércio até pouco tempo. Mas o Pinheiros fica aqui vizinho, o pessoal das Perdizes costuma ir para lá quando não há coisa equivalente por aqui, escola também, minhas filhas estão por aqui. Procuramos resolver muitas coisas aqui desse lado, mas eu sinto falta do comércio aos domingos, que eu já falei, né? Porque com essa vida muito atribulada, de muitas atividades que a gente tem, muitas vezes a gente precisa, né? No domingo que não se pode fazer outras coisas e fazer uma compra. coisa que a gente tem que aguentar, não é? Pagar seu tributo a essa cidade tão grande. Outras coisas desta cidade, gente demais, barulho demais, não é? Difícil até para a gente repousar, porque mesmo nas horas em que a gente repousa ainda tem muita gente em ativida Mas como eu já disse, acho que eu não me acostumaria num ambiente assim diferente, né? Depois de certo tempo a gente se sente falta, porque essas horas todas ocupadas, os dias cheios, fazem falta.

SPEAKER 1: : Você. Bom, eu acho que a apesar de muitos defeitos, a vantagem maior que a gente tem aqui é que todo mundo é muito ocupado, então não tem assim muito tempo para fazer fofoca, para falar da vida dos outros, Isso eu sei que acontece no interior. A pessoa tem algumas vantagens por morar no interior, uma vida mais sossegada, mas, em compensação, está sujeita a tudo o que faz. Tem alguém conhecido olhando, comentando, tem aquele problema de variar de roupa, que aqui não tem. Aqui a gente anda na rua e todo mundo é desconhecido, você pode pôr a mesma roupa todo dia que ninguém repara. Isso é mais fácil para nós. Nesse ponto, nós podemos ser mais desprendidos do que uma pessoa que more no interior. Agora, quanto a comércio dos domingos, para mim não faz falta, porque domingo, () se tem tempo bom, eu vou para o clube, sumo. Se tem tempo ruim, eu aproveito para ficar em casa descansando. É um dia sem sair, eu acho ótimo. Bom, o trânsito eu acho que é o maior de todos os nossos problemas. Para mim é. Como me põe muito nervosa, eu acho que a outras pessoas também há de pôr. Até de vez em quando a gente lê até que houve tiroteio, assassinato por causa de questões de trânsito, quer dizer, uma briguinha que começa em nada e termina em tragédia, porque é uma coisa mesmo irritante. Uma pessoa que trabalhou o dia inteiro ou que vai trabalhar e está atrasada e pega um congestionamento. E isso, acho que dificulta muito a vida das pessoas. Acho que () nosso pior problema. Acho que a hora que a gente tiver uma rede de metrô completa, isso vai ser resolvido em parte. A tranquilidade da pessoa poder sair de casa perto da hora do serviço e poder chegar logo em casa para ter um tempinho para descansar, que atualmente as pessoas não podem. Por exemplo, eu sei porque as diaristas, geralmente que vêm à casa da gente, mora assim em Carapicuíba, Diadema, todas contam que levam três horas para chegar no emprego. Com que disposição a pessoa pode chegar para trabalhar? Tomando três conduções. Quer dizer, dá até dó. Três horas para vim, três horas para voltar, então a pessoa não dorme. Isso eu sei que é problema de toda a classe pobre, operários, tudo. É a condução. É um um grande problema, um grande mal. Porque eu posso me restringir ao bairro, então eu me considero uma pessoa muito feliz, mas aquela pessoa que não pode, que não tem um emprego perto da sua casa, está perdida.

SPEAKER 0: : Quem tem muitos filhos também, não é? Um em cada escola, um com cada horário, o esse problema do trânsito também é muito grave. A gente podendo, como já dissemos, solucionar a vida perto de casa é ótimo, mas não é todo mundo que pode. Então, realmente, o o problema de trânsito é terrível. Ainda ontem eu comecei o minhocão lá na cidade, eu vinha do aeroporto. Do aeroporto até o centro, levei cinco minutos. Estando no minhocão até aqui, a ponta, que eu já moro, né, perto da ponta do minhocão, eu levei meia hora, andando metro por metro. Depois, ao chegar aqui no fim, quase no Largo Padre Péricles, tinha uma perua atravessada, toda amassada. Quer dizer, um carro que estava aqui na ponta, prejudicou aquele trânsito todo. À uma e quinze da tarde, que é a hora que o pessoal vem almoçar, não é? E volta para o bairro, foi um problema mesmo. Imagine antes de existir o minhocão, era pior ainda. ###

SPEAKER 3: : A São João muito sobrecarregada ()

SPEAKER 0: : Bom, a cidade de São Paulo foi crescendo de qualquer jeito. Essa é a realidade, porque eu já moro aqui há muitos anos, né? Quando eu era mocinha, se fazia () na rua... Como é que chama aquela rua? vinte e quatro de maio? O pessoal passava para cá. Barão de Itapetininga  Passava para cá, passava para lá de carro, ia, voltava, as moças ficavam na calçada olhando. Imagine, não faz tantos anos assim. De modo que a gente vê que o crescimento foi uma coisa horrorosa. E agora que eu tenho dado aula na periferia, que eu já contei para você, e eu fico abismada. nem sabia que São Paulo ia até esses lugares. É uma coisa imensa, que não existia. Aqui onde eu moro atualmente, não havia nada. Porque eu morava há vinte anos aqui na João Ramalho. Aqui nesse pedaço não havia mais nada. Entre Perdizes e Sumaré, Perdizes e Pompeia, era um abismo, córrego aí, não havia construção. A nossa casa era a última aqui nesse quarteirão, onde hoje é o conjunto ãh aqui, superquadra. Nossa casa era naquela esquina e acabava, dali para frente era mato. Então, foi () há vinte anos atrás, esse crescimento que todos os bairros emendaram, Foi tudo, nada planejado. E por isso há... E as fábricas de automóvel, né? Agora diz que vão aumentar, a Volkswagen vai aumentar a produção esse ano. Então, você vai sair do lugar. O jeito é fugir do centro () Até é um favor que nós, donas de casa, fazemos de não ir para o centro da cidade. Só quando há mesmo uma coisa muito importante, assinar um papel num cartório, ir a um médico que só, assim mesmo, os médicos estão fugindo do centro. Só em casos muito especiais. Fora disso, a gente não deve ir, que chega os homens que têm mesmo que ir, não é? Eu acho que desafogar o centro já ajuda bastante. ()

SPEAKER 1: : Bom, eu acho que o problema é mesmo Não foi planejado, mas, além disso, a cidade é muito acidentada. Isso dificulta também muito as coisas. E  Agora, os acidentes prejudicam mais ainda o trânsito, porque nas ladeiras, com esse calorão, é um enorme quantidade de carros que ficam enguiçada, porque a gasolina evapora, porque fica muito quente o carro. Então, isso ajuda também a atrapalhar um pouco. Mas o pior mesmo eu acho que é a desorganização no sentido de falta de educação do motorista, porque se todo mundo obedecesse às às plaquinhas, eu sei que elas são insuficientes, mas se a se ao menos as placas existentes, todo mundo tentasse obedecer, tentasse seguir todas as regras, a coisa ia ficar um pouquinho mais fácil. Mas isso sempre foi assim, cada um faz o que quer e eu não não vejo possibilidade nenhuma de corrigir, porque isso acho que é questão de educação. Só se houvesse a cadeira de trânsito na escola, desde o curso primário, desde o primeiro ano. Mesmo uma explicação, que a pessoa crescesse com aquela noção de que tem que obedecer às regras para ajudar os outros, para se ajudar. ### Bom, aqui tem o Parque Ibirapuera, o zoológico. Ah, o Parque da Água Branca, aqui perto de nós, nos Perdizes, é ótimo. Ainda é uma área verde muito boa, muito salutar. Agora, não sei se ela vai ser prejudicada pelo metrô que vai passar logo por ali. parece que, espero que nenhum dos planos, nenhum dos traçados que estão em estudo venham a cortar o parque, porque isso seria uma judiação. E onde mais que a gente vai? Tem lá na Serra da Cantareira, esse eu nunca fui. Pois é, na Avenida Paulista nunca fui, não não sei como é que é. Mas ãh tem o quê...  O Horto Florestal, acho que é só, Dizem que tem outras coisas, mas eu não conheço. Essa parte assim de represa, Guarapiranga, eu nunca fui, mas já li que é um passeio. Não sei como funciona o negócio.

SPEAKER 0: : Nós temos também o Butantã e a Cidade Universitária, que eu gosto muito quando a gente recebe amigos estrangeiros, a gente leva para ver a Ci a Cidade Universitária, O Palácio dos Bandeirantes, o Butantã são lugares que a gente costuma levar. E Os outros que você citou eu também conheço. A gente sabe que existe mais alguma coisa por aí, mas () também nunca fui, nunca vi.

SPEAKER 3: : () E sobre as áreas verdes de São Paulo?

SPEAKER 0: : Bom, elas fazem muita falta, essa poluição que a gente tem por aqui. A gente sabe que é causada, né,  pela falta de áreas verdes. Mesmo esse problema das nossas chuvas, das nossas enchentes, tem a mesma causa, né? Que () Houve uma mudança ecológica muito grande, né, aqui em São Paulo. E precisamos de mais áreas verdes, mas eu acho que estar plantando árvore aí é uma coisa muito vagarosa. A gente precisa mais é poupar o que existe e não destruir mais, né? Fazer pé firme, se bem que já exista muito pouca coisa, mas foi só agora que a gente descobriu o prejuízo que estava causando. Bom, as favelas surgiram ãh com essa chegada enorme de gente de fora, sem condição de viver, e foram se encostando por aí, fazendo esses aglomerados enormes. Nós temos aqui nosso vizinho, né? de bairro, uma favela muito grande, vizinha aí do Playcenter e do Pacaembu. Até ela é meio escondida, né, porque o terreno é muito plano, fica assim meio baixo, e eu custei para ver, embora aí na igreja nós trabalhássemos para eles. () Fazíamos arrecadação de coisas, mas eu não era do pessoal que levava, eu não sabia nem bem a localização. Mas é aqui mesmo, né, () num bairro bem central, e a favela é muito grande, e atualmente os meninos vão para ali para aquela avenida, perto da marginal, e ficam andando no meio dos automóveis, pedindo esmola, e contam até certos casos, que eu não sei se são verdadeiros, de agressões à motorista que não dá. Está muito ruim aquilo mesmo, assim muito pertinho aqui () da gente, né? Não sei () Eu não sei qual seria a solução, é muito difícil (riso) dar uma opinião a respeito.

SPEAKER 1: : ### A primeira ideia que me ocorreu foi que uma das causas é o afluxo de gente de fora mesmo. Agora, acho que () pode fazer nada para impedir, porque tem que se preservar as liberdades, né? A liberdade de movimento das pessoas dentro do seu próprio país. A gente não pode fazer nada, () mas é difícil arrumar emprego para todo mundo, porque os empregos já são poucos e essa essa mão de obra aí () não é nada especializada. O único jeito seria fazer cursos, mas eu acho que tinha que ter assim um curso em cada bairro, para ensinar alguma coisa para essas pessoas poderem pegar um emprego, porque eles não têm assim capacidade nem para sair de onde eles estão e procurar um curso.

SPEAKER 3: : Eu acho que o curso é que tem que ir até ele. ()

SPEAKER 0: : Eu num num sei responder, Esse setor não é muito da minha alçada, sabe? Olha, eu, por um acaso, um dia fui parar no Museu dos Presépios do Ibirapuera. Achei muito bonito, tanto que é um lugar que eu costumo levar também pessoas, que eu recebo, acho muito interessante. O Museu de Arte Moderna eu fui uma vez só. É verdade que tem coisas variadas, mas a maioria não é do meu agrado. E... O Museu de Arte Sacra eu não conheço, mas eu sei que é muito bonito, muito interessante. Quer dizer, tem aumentado mesmo, né, o número, né, de lugares para se ir, mas eu não tenho ido muito teatro, tenho ido pouco também, por falta de tempo, mesmo que Atualmente estamos atravessando uma fase em que não vamos quase a diversões. Não tem dado tempo. E que mais? Fui ver o show da Elis Regina, né? Que é uma maravilha. Mas também fui assim meio empurrada, né? Porque foi... precisei ir. Mas gostei muitíssimo e acho que eu devia ir a todos os teatros. Não tenho tempo, mas devo ir. Outras coisas... Cinema. A televisão tem filmes tão bons que eu não tenho ido. (riso) É mais cômodo eu assistir em casa. Acho que nessa parte artística é só, né?

SPEAKER 1: : Eu também não frequento teatro e vou pouquíssimo ao cinema, mas a gente sabe, lendo os jornais, que existem mil opções para quem quiser ir. Isso eu acho maravilhoso. Quem gosta e pode, eu acho que tem muita coisa para escolher. Então, nesse ponto, eu acho que a nossa cidade é uma das melhores do Brasil. Eu acho que só o Rio deve ter a mesma quantidade de opções como nós. Agora, a parte de museus, eu acho que é muito boa em qualidade, mas os museus são pequeníssimos perto de outros. Do que há fora do Brasil, os nossos museus são amostra grátis. lá um andar, Então, tem pouquíssima coisa para se ver, mas o que tem é de qualidade. Então, já é um princípio. Já é alguma coisa. melhor do que não ter nada. Agora, eu tenho a impressão que outras cidades daqui do Brasil não têm nem isso. Então, até que aqui está bom. Agora, para o tamanho da cidade, é pouco. São poucos museus e com pouquíssimas ()

SPEAKER 0: : Eu acho que tem aumentado muito até o número, né, de escolas, tanto no ensino médio como superior, mas ainda não consegue atender dado esse afluxo muito grande de gente. Todo mundo vem para São Paulo e eu acho que São Paulo ainda precisa de muita coisa. Mas eu tenho a impressão que dado o nosso ritmo de crescimento, nós nunca teremos nada à altura. Sempre vai faltar. Porque quanto mais nós tivermos, mais nós atraímos gente, né? E aí estaremos sempre insuficientes. As escolas estão tendo um nível cada vez melhor, Mesmo as que talvez ainda não tenham um nível assim muito bom estão fazendo benefício, porque a pessoa pelo menos aprende aonde procurar o conhecimento, né? E fora dali ela pode aumentar seus conhecimentos com aquela base que teve. Eu acho que temos progredido nesse setor. E também a a vontade de todo mundo estudar, hoje acho muito importante. Porque antigamente parecia que só uma elite devia estudar. Hoje todos querem estudar, embora as escolas não sejam suficientes, embora sobrem muitos, mas um número muito elevado mostrou interesse pelo curso superior, E mesmo pós-graduação. Quando eu terminei a faculdade, pouca gente queria fazer pós-graduação. Não havia, não se sentia essa necessidade. E hoje quase todos os que terminam têm essa ambição. Nem todos podem, porque daí precisam ganhar a vida, cuidar de outros assuntos. Mas o desejo de fazer, quase a totalidade do do pessoal que se forma tem. É, muito positivo. Depois também essa essa igualdade que há hoje entre as idades, né? A pessoa não tem nenhum problema de ir aos cinquenta, resolver então se fazer sua pós-graduação aos sessenta, como nós temos visto. A minha filha tem vinte anos, algumas mães de amigas dela agora que estão fazendo faculdade, acharam que fazia falta na vida. E como os filhos já cresceram, elas já têm assim uma certa liberdade, foram estudar assim mais tarde. E algumas delas já me disseram que vão continuar, vão fazer pós-graduação. Uma que se formou há pouco tempo e já fez pós-graduação, ela está fa eh quer fazer mestrado, quer continuar uma carreira universitária. É uma senhora que no outro tempo já estava aposentada, não é? Isso é muito bom no tempo de hoje, inclusive dá bom exemplo, estimula os jovens, né? Eu acho muito bom. (riso)

SPEAKER 1: : quanto ao nível, eu não sei se está tão bom assim, mas em quantidade... Não sei, às vezes eu tenho minhas dúvidas. Existe muita escola, mas () não sei. Nem todas preparam a pessoa para a vida, para o trabalho, mas... De qualquer maneira, eu acho que aqui é o que há de melhor. Não é? Se for para escolher de todo o Brasil, acho que aqui é que ainda há mais opções. E também eu acho bom aqui é que há muitas associações culturais, fora as escolas mesmo. Quer dizer, qualquer pessoa interessada pode se filiar a qualquer tipo de associação para discutir qualquer assunto que lhe interesse. O que há de conferências e cursos extras assim para qualquer pessoa poder assistir, é uma quantidade enorme, e com bons professores, trazem professores de fora. Eu acho que há um recurso imenso, é só querer que a pessoa tem um cursinho qualquer aí para aumentar seus conhecimentos.

SPEAKER 0: : Você diz essa luz de mercúrio? Eu acho ótima, porque ela ilumina bem, tanto que nós estranhamos, né? Nós que passamos pelo Pacaembu, voltando de muitos lugares, a gente acha uma escuridão e e a rua tem lâmpadas. É porque não são de mercúrio, né? A gente já habituou com aquela claridade forte. Eu acho que ainda falta bastante, nós temos relativamente pouca luz de mercúrio há pouco tempo, () que é oito anos atrás, né? Quando eu vim dos Estados Unidos, eu nunca tinha visto aquilo aqui, eu fui ver lá e ao chegar eu notei que algum lugar já tinha e eu achei formidável. Precisamos de muito principalmente porque a cidade é um pouco perigosa, né, atualmente devido a esse crescimento grande que a gente sabe, muito desemprego, muita miséria. Então há muito assalto e e essas luzes contribuem muito. No outro dia eu fui a um casamento na Igreja () do Brasil e meu marido não pôde ir. Havia muita gente. Eu parei o carro um pouquinho longe, numa daquelas travessas. E eu me lembro que quando eu saí do casamento, eu saí apavorada, porque a rua é () mal eh iluminada. A iluminação antiga é insuficiente. Aquelas mansões com jardins enormes, as casas lá no fundo. Eu falei, se alguém resolver aqui me assaltar enquanto eu abro o automóvel, eu estou perdida, porque posso gritar que ninguém vai escutar. De modo que eu acho que essa iluminação de mercúrio deve ser espalhada bastante, mas nós temos problemas mais graves primeiro, né, de modo que acho que a prefeitura vai deixar isso para depois.

SPEAKER 1: : Mas acho formidável. Acho que já esgotamos sobre a iluminação. ### E a limpeza... A cidade não é muito limpa, né, mas daí nós entramos naquele mesmo problema do trânsito, que é a educação. Não adianta... Eu ensino para os meus filhos não jogar nada no chão. Fica segurando o papel, nem que seja dois quarteirões, procurando uma lata de lixo. Mas acontece que aqui, geralmente, a gente não encontra. Então, mesmo ao ensinar, eu tenho dificuldade. Então, no fim, a gente acaba jogando no chão. Mas isso é uma questão de ensinar. É, a prefeitura tem que pôr suas cestas e continuar a campanha.

SPEAKER 3: : De vez em quando fazem uma campanha. () Ah... sei...

SPEAKER 1: : Isso é importante. () Isso podia haver mesmo, de vez em quando, um sanitário. Isso é verdade. Mas essa história de jogar o papel, tudo, eu acho que é uma educação que vem de casa. Jogar papel, resto de sorvete, palito, tudo. Agora a prefeitura tem que pôr a cesta e eu acho que nunca interromper a campanha. Quando houve aquela campanha do Sujismundo, por exemplo, eu acho que muita gente se convenceu do que era certo. Mas logo para a campanha, todo mundo esquece.

SPEAKER 0: : Então eu falei dos sanitários públicos também, que são necessários, porque a gente que anda pelas ruas de São Paulo vê as coisas mais horrorosas, porque não há mesmo, né, sanitários públicos. Já não é tanto da educação do povo, é mais a prefeitura que devia ter os lugares adequados, fáceis, em grande número, né?Para facilitar a limpeza da cidade. ()

SPEAKER 1: : Só com completar uma coisa a respeito dos sanitários. Aqui é o mesmo, uma cidade tão grande, e eu não me lembro, não conheço nenhum lugar público, quer dizer, em lugares, sim, dentro de museus, de lugares de passeio tem sanitários, no zoológico tem, mas assim, no meio da rua, como existe na Europa, nos Estados Unidos, uma construção, seja sanitária, aqui não existe. E eu me lembro que no centro de Londres, eu entrei num E era como o buraco do metrô, aquela escadinha. Então tinha uma escadinha na ponta do quarteirão que era de homens, outra escadinha para o de mulheres. Limpíssimo, eu fiquei admirada, porque uma hora assim que eu tava fazendo compras, uma coisa no meio da rua, um buraco numa praça pública, limpíssimos os banheiros, e além disso ainda tinha papel pregado em todos, assim, () na parede, sobre como combater doenças venérias, conselhos, E, inclusive, endereço de um hospital onde se tratava gratuitamente a menor suspeita, não sei o Quer dizer, o aspecto ### deles lá está cem anos na nossa frente

SPEAKER 0: : Eu acho que o poder da da propaganda é imenso e isso lá no hospital nós notamos. Nós começamos, oferece ãh quando eu comecei no hospital, () faz mais de oito anos, a palavra câncer era ainda um tabu. E aos poucos a gente foi vencendo. E quando começamos, há dois anos, essa oferecer o exame ginecológico gratuito, a afluência foi tão grande que um dia o diretor do hospital disse para nós pararmos de fazer propaganda porque eles não estavam dando conta. Mas ãh nós conseguimos que o governo patrocinasse essa campanha, E esse exame não é feito só por nós, é feito em todos os hospitais, é gratuito, obrigatoriamente, e o governo paga o hospital que fez, de modo que funcionou. E o povo apareceu, leva a sério, após o exame vem uma ficha com o exame marcado para o ano seguinte, elas voltam, E todos os níveis, o pessoal mais humilde vai, não não há mais aquela restrição, aquela desconfiança que havia antigamente. De modo que eu acho que se a gente usasse ãh os mesmos métodos para todos esses problemas que nós falamos aqui, o resultado seria extraordinário. Porque num assunto desses em que havia tanto Tabu, nós conseguimos vencer. Imagine nos outros assuntos que são muito mais fáceis, né? Eu penso que () nós aqui na nossa família somos feministas à nossa moda. (riso) Nós não saímos fazendo discurso por aí, mas nós procuramos fazer força, porque eu acho que as mulheres conseguem muita coisa. Essas aulas que eu dou na periferia e tenho contato com essas mulheres humildes, eu já disse, né, que hoje elas estão bem informadas pelo rádio, pela televisão, fazem perguntas apropriadas. Elas esclarecem os maridos. Quantas delas dizem, eh inclusive em questão de casamento, né? Ai, eu era tão mal casada, meu marido era assim e assim. Eu vim aqui nesse clube de mães e aprendi uma porção de coisas. Eu conto para ele, sabe que ele tem melhorado? Porque muita coisa o homem não sabe, ele vive num ambiente mais bruto, vai trabalhar no meio dos homens, as conversas dele são outra coisa. A gente vem aqui e aprende com as senhoras. Uma porção de coisas, como tratar das crianças, ensina o modo de comer, ensina a aproveitar resto de alimento. ensinam o tratamento entre assim a mãe, o filho e a mãe, a mulher como tratar o marido, e automaticamente o homem também melhora através delas. Então, eu acho que se todas as mulheres se empenhassem, não é? Ah, de dessa maneira, a gente conseguia um bom resultado. Tudo é mesmo a propaganda, o conhecimento. que empiricamente, a gente às vezes chega no mesmo ponto, mas custa muito, dá muita cabeçada. Vamos aproveitar de quem já sabe. Não é?

SPEAKER 1: : (riso) Pronto. Eu acho que a propaganda não pode ser nunca esquecida. Deve ser usada, então, para tudo, né? Tudo que nós já vimos. Para o trânsito, para a higiene, combate à doença, Agora, para eu acho que deve ser usado o melhor meio que nós temos, que é a escola. Porque todo mundo quer que seu filho aprenda a ler e escrever, por isso que põe na escola. Então, a gente aproveita, quando que uma criatura está na escola, para ensinar tudo que quiser, porque depois que ele sair da escola e aprendeu a ler e escrever, nunca mais a gente consegue pegar. Quer dizer, consegue através de cinema, de televisão, mas o mais fácil de entrar () mesmo é no tempo de escola. Aproveitar para impingir todas as ideias que se quiser nesse período. E para quem não continua a estudar, então, que só faz curso primário, e tudo a gente tem que atacar logo nos primeiros anos, para não perder a pessoa de vista antes de incutir

SPEAKER 3: : aquelas ideias principais () ###

SPEAKER 0: : Olha, agressão é de todo lado e () modo geral as pessoas não têm paciência, mas eu acho mais grave a agressão quando vem da parte de pessoas que trabalham com o público, porque eu acho que quem vai trabalhar para lidar com o público já deve Sei lá, se imbuir a ideia de que tem que aturar muita coisa. E eu posso até dar o exemplo de uma delegacia de polícia que eu () eu fui tirar agora uma... Não sei porque tivemos que tirar carteira nova de identidade. Não sei, eu já tinha, tive que tirar outra. Então, eu chegando lá, em Pinheiros, né, a senhora disse, Mas por que que a senhora não tira perto da sua casa? Lá tem uma delegacia. Eu disse, olha, eu não sei, mas ser tratada como a gente é tratada aqui, não é fácil. () senhoras que trabalham, elas têm uma paciência de Jó... Não com a gente que não dá trabalho, mas eu vejo com os outros, como elas tratam as pessoas mais incríveis, mais mais humildes, com aquela paciência, com aquela delicadeza. Eu nunca vi uma delas dar um contra. Elas ficaram... acharam engraçado. Mas é que eu vou com as minhas filhas, () tirar a identidade. Iam viajar. E eu vou num lugar onde eu serei bem tratada, seguramente. Porque o que se vê por aí, né, principalmente nesses ambientes, é uma coisa horrorosa. Gente tratada feito gado. Lá, não. () O pessoal é de uma delicadeza fora do comum. E também, Uma vez que eu tive necessidade de ir aqui () INPS, que havia na Avenida Água Branca, né? Aqui Avenida Matarazzo, que chama. Também, eu nunca vi tanta cordialidade, tanta educação, tanto carinho com aquela gente. Eu ia tomar uma injeção, então eu ficava por último, esperando. Ficava lendo um livro, mas eu estava vendo tudo. Os médicos passavam no corredor e falavam com um e falavam com o outro. Gente, assim que normalmente nem se dá confiança, até maltratam, eu ficava encantada. E justamente porque eu moro numa cidade estúpida e agressiva, é que eu notei, nesses dois casos, eu nunca () porque do modo geral é tudo ao contrário. motorista de praça também. Uma vez ou outra, a gente pega assim, um muito educado, delicado, conversa. Então, a gente fica abismada. A gente acostumou ao contrário. A agressão já não choca. O que choca é o bom trato, que é muito difícil no tempo de hoje, né? E eu acho isso importantíssimo, porque a gente já está cansada, () tanta dificuldade em tanta coisa, ainda vai, às vezes, buscar um documento, uma coisa e é maltratada, não é possível. O doente, então, que já vai ãh com a cabeça abaixa nos lugares, porque ele já está sofrendo. Se ainda é maltratado por cima, eu acho uma coisa horrorosa. Mas esses dois casos, eu eu conto para todo mundo, eu faço ques Então, se quiser alguma coisa, vá na delegacia de Pinheiros que você é bem tratada.

SPEAKER 1: : Isso também se aplica ao comércio. A gente procura frequentar lojas que já sabe que tratam bem, et cetera e tal. () é um tipo de comércio agressivo. Aquele que vem buscar você na calçada. Você não pode nem olhar uma vitrine. Então, se eu estou olhando uma vitrine e já vem gente e o que quer, eu vou saindo. Porque eu quero primeiro olhar. Se eu me interessar por alguma coisa, eu entro. Eu não acho que () que o a balconista é que tem que buscar você na calçada. Isso é um tipo de comércio que me faz sair ventando. E outras pessoas também fazem isso. E também o o trato que dão a gente, né? Outro dia, eu ainda li no Veja, parece, uma senhora escrevendo que, uma vez, ela () não aguentava mais ser tratada de (), uma senhora já com uma certa idade, e que ela disse que pôs um cartaz no peito escrito, não me chame de bem. E entrou em várias lojas. Então, diz que juntava gente para olhar tudo. E ela diz que a sensação a intenção dela não foi sensacionalista. mas que ela queria chamar a atenção para esse problema, que uma senhora você trata de senhora. Não tem nada de () essas intimidades, não é mesmo? Ou então todo mundo é você, querido. Não está certo. () Há um lugar para cada coisa. Se a pessoa nem te conhece, como é que vai te chamando de bem? Não é mesmo? Tem que haver um certo respeito, uma certa educação. Não, não podem impingir as coisas. para a gente, pelo contrário, acho que a pessoa está ali para mostrar, para dizer quanto custa, mas não pode impingir de jeito nenhum e nem pode te fazer uma malcriação a hora que você não quer levar, porque a coisa não coube em você. Ficou pequeno ou ficou grande, você é obrigado a levar? está certo. E... bom. No trânsito, nós já falamos mesmo, aí é que ocorrem os maiores xingamentos, malcriações, provocações, isso fora os assaltos, os ataques mesmo. Nunca, graças a Deus, até hoje. É. É, de assalto assim, de levarem a bolsa, muitas vezes, mas agressão física, acho que ainda não. Ninguém ainda sofreu. Bom, um senhor que eu conheço já levou dois empurrões, porque para as pessoas mais velhas, no centro da cidade, eles empurram mesmo, né, porque sabem que a pessoa geralmente não tem força para se defender. Então, há mesmo () Também eu ãh desse eu conheço caso assim no bairro mesmo, de moça que foi levar a criança à escola. Desceu para acompanhar o filho ao portão. Quando voltou, tinha dois bandidos com revólver no banco de trás do carro e fizeram levar até Santos. Imagine a moça que talvez nem soubesse guiar na estrada, né, porque às vezes a gente só guia no bairro. Teve que ir. Na altura de Cubatão é que eles desceram. Ela voltou voando, parou no primeiro posto de gasolina para abrir o berreiro. Imagina a tensão com dois caras com revólver no ouvido. E de dia, isso é meio-dia, uma hora, entrada de escola de criança. Quer dizer que a gente nunca sabe.

SPEAKER 3: : O perigo está em qualquer hora, não depende de iluminação, de nada.

SPEAKER 0: : Tem épocas, né, que a gente nota que Há uma grande movimentação. Até o ano passado houve muito de () aqui no bairro. Depois, como às vezes eu vou para o lado da cidade universitária, os () né, a gente vê por ali. Mas há uma temporada que enfraquece muito, sabe? acho que isso vem em ondas.

SPEAKER 1: : Não é uma coisa constante. Eu acho que o policiamento não é tão ostensivo quanto devia. Devia, sim, no centro da cidade ser ostensivo, porque é o lugar mesmo preferido para batedores de carteira e e assaltantes. ### O policiamento não deve ser, assim, só () perto de escolas, tem que ser perto do comércio mesmo.

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 1: : ### ### () é muito pequeno () população. Isso mesmo.

SPEAKER 0: : Outra pergunta?

SPEAKER 3: : ###

SPEAKER 0: : Olha, nós temos aqui no bairro um supermercado imenso, que tem de tudo. E, em geral, nós nos ajeitamos lá, não é? Agora, excepcionalmente, a gente pede socorro a Pinheiros, né, que tem mais variedade de coisas. Nós temos bastante boutique aqui no bairro, boas, e todo mundo é amigo, porque nós nascemos e vivemos aqui nesse bairro, conhecemos quase todo mundo. E o pessoal daqui não sai daqui mesmo. Então, o mesmo comércio está na mão de gente daqui. Temos a () também, que é grande. E... Perdizes foi meio resistente ao comércio. Antigamente, diziam que era por causa da... () Não, senhora, tinha o poder aquisitivo aqui. () É a proximidade da cidade. Porque de ônibus eram dez minutos. E antigamente era fácil ir à cidade de ônibus. Então, () as primeiras boutiques fecharam, as primeiras lojas melhores fecharam, mas de uns dez anos para cá o comércio aumentou bem. Nós temos quase tudo. Tem fábrica de geladeira, tem loja de móveis para copa e cozinha. Temos agora duas lojas boas de de presentes, né? Tem prataria, cristais, que foram as últimas que que montaram aqui. Boutique já tem algumas há algum tempo. É. Sapato é fraco, fraquíssimo o sapato aqui no bairro, só de segunda classe, né, não tem sapato melhor. Aí a gente tem que ir mais longe, mas o () é muito perto, ali na rua do () tem de tudo, bolsa e sapato, ali tem à vontade. que mais que tem por aqui? Ah, o que nós sentimos falta daqui? Comida para levar para casa, né? Mas para gente, uma lanchonete boa assim, não tem. Quantas vezes eu quis levar uma pessoa para tomar um lanche, você tem que ir longe. É, restaurante... Tem mais ou menos. Aqui na esquina tem essa toca, né? Que todo mundo come lá. Até as nossas amigas dizem é a nossa segunda casa. A gente, quando não quer fazer jantar, vai lá ter sempre, né, uma porção de amigos. Então, o resto não é muito bom, não. Nessa parte, a gente não está bem. Não está bem. () Ainda falta muita coisa, né? Mas eu acho que não é pelo poder aquisitivo não que esse é um dos bairros melhores, né Maria? Não tem o nível do Jardim América, mas eu acho que vem em seguida. Né? Os jardins, depois esse lado aqui, Sumaré, Perdizes, Pacaembu, tem um nível muito bom. Aqui é tão interessante o bairro que Atualmente nós temos muitos prédios, né, de apartamento, mas também custou, não faz muitos anos não. Nós temos o quê? Meia dúzia de prédios que têm mais de dez anos, mas os outros todos têm muito menos de dez anos. Agora, no momento, em cada quarteirão tem duas, três construções. Quer dizer que vai pegar aquele ritmo de Higienópolis, mas vinte anos atrasado. Nisso não vai crítica, porque isso até que não é muito bom, né? Nós temos aqui o problema de estacionamento. Eu tenho garagem para mim, mas quem chega aqui em casa tem dificuldade de estacionar. () Tem a faculdade e tem muito prédio por aí, né? Então, uma visita aqui às vezes custa para estacionar. Por isso. Mas esse é um problema de São Paulo inteiro, né?

SPEAKER 1: : ### até a Avenida Sumaré de um lado e até o bairro ()

SPEAKER 0: : E em todos os horários, porque tem aula de manhã, de tarde e de noite. Quer dizer que mesmo à noite, não dá jeito para gente.

SPEAKER 3: : () É. Eles têm agora, aí. Agora

SPEAKER 0: : () atrás da () uma... Estacionamento bem grande, mas eu tenho a impressão que é pago. Né? Então, o pessoal que pilha um lugar na rua, fica na rua.

SPEAKER 1: : Tem há uma livraria cultura, que é conhecida () que acho que só tem aqui no bairro. Mas eu acho que para livrinho escolar, elas dão vazão. E há uma livraria técnica que eu nunca entrei, que eu tenho a impressão que é a que vende livros para a universidade. Numa travessinha da Ministro Godoy tem escrito lá, livros técnicos, deve ser isso. Quer dizer que essa parte ainda dá para comprar aqui. Agora, assim, material para, vamos dizer, desenhista ou para artes, eu acho que não tem. pintor, por exemplo, não pode. Tem que ir lá na cidade. Aqui não tem material para isso.

SPEAKER 3: : Não.

SPEAKER 1: : Nós não temos, mas uma das nossas irmãs é pintora mesmo. Ela vende quadros na Praça da República. () É, ela já () Ela já expôs na () e no nosso clube, que é o Alto de Pinheiros. Vende bem, viu, na praça. Há alguns anos já.

SPEAKER 0: : O o nosso hobby é trabalhar. Nas emergências, né, nós temos nos supermercados do bairro, temos boas lavanderias. Fora os tintureiros que existem por aí, né, os japoneses. ### Mas para nós facilita usar no supermercado, porque a gente leva e tira na hora que quer. () Como a gente usa quando está sem empregada, não tem quem atenda a porta, às vezes, para receber o tintureiro. Então, facilita ser no supermercado. No momento, nós estamos usando, né, porque as duas estamos sem empregada. Mas a gente está bem servida. ()

SPEAKER 3: : Nesse ponto aqui no bairro, está muito bom.

SPEAKER 0: : Ah, nos supermercados também. Nós não vamos à feira há muito tempo, né, Maria? () É, não são tão bons, mas para a facilidade da gente, né? Porque ir à feira é um sacrifício.

SPEAKER 1: : Aí entra o problema dos acidentes da cidade. Para nós irmos à feira, cai na volta com o carrinho cheio, as ladeiras mais íngremes que se pode imaginar. Então, se fosse ao contrário, se a gente morasse embaixo da ladeira, tudo bem, voltava descendo, mas nós não podemos ir à feira, porque subir não dá. Hoje mesmo, aí atrás, mas é impossível. As ladeiras dessa altura aqui são impraticáveis para se andar a pé com carrinho. Então a gente é obrigado a comprar no supermercado que as frutas não são boas de jeito nenhum. Mas há algumas quitandas com preço altíssimo. Então o jeito é comprar no supermercado mesmo que não é tão boa quanto a da feira, mas quebram galhos. muito a pena. Agora, quanto ao mais existe de tudo... A feira do () Ah, é, isso, essa é perto mesmo, mas é pequena. É, e por questão de bairro já é bem mais cara do que a das Perdizes, né? Os preços variam de acordo com o bairro. A do Pacaembu é uma bem cara. Mas, enfim, ainda vale a pena por ser coisa fresca.

SPEAKER 0: : Falando em passeios, eu lembrei agora, esse ano fizeram a Festa do Verde, né? Eu fui parar lá por um acaso, que eu fui mostrar o Museu dos Presépios e era junto. Foi maravilhosa. Fiz propaganda, contei para todo mundo, comprei planta, comprei flores. Coisa lindíssima mesmo. Imensa! () Eu nem imaginava. Aquela marquise todinha cheia de plantas. A gente respirava até meio diferente lá dentro, viu? () A gente que mora assim na poluição notava, né? Eu acho que foi muito bonito, valeu a pena. E todo mundo para quem eu falei foi, que andou comprando coisa. E e também educa o povo, né? Eu, pelo menos, sou meio preguiçosa. Eu tinha umas plantas artificiais, agora eu já (riso) tenho naturais aqui dentro de casa. Tenho pouca, porque eu tenho mesmo. preguiça para conservar, mas eu acho que é muito mais bonito mesmo, né? Largar um pouquinho do plástico. (riso)

SPEAKER 1: : Eu acho que... Ai, já fui, eh, já fui, já comprei alguma coisa. E eu acho que tudo na vida é questão de começar (riso) e questão de propaganda. Acho que por isso eles fazem muito bem, de de vez em quando dão mudas, né? Eles fazem umas campanha Em outubro, as crianças foram ao Parque da Água Branca, estavam distribuindo uma muda para cada criança, ensinando a cuidar. Isso funciona, porque eu ganhei uma planta quando eu me mudei. Aí eu vi que não dava muito trabalho cuidar. Agora eu acho que eu tenho dez vasos. Mas se eu não tivesse ganho essa primeira em agosto, eu jamais ia querer planta. Porque eu tinha na minha cabeça aquilo, ah, não vou inventar coisa que me dê trabalho. E não tinha nada dentro de casa. Aquela como eu ganhei, eu fui obrigada a regar, Aí, quando eu vi que ela correspondeu ao tratamento, eu fiquei animadíssima. Então, eu acho que dando mudas, essas coisas, eles vão conseguir que muita gente que nunca pensou nisso comece a plantar. ()

SPEAKER 0: : Eu... () A gente ainda não tem o hábito e eu tenho muita desconfiança. E... Inclusive, eu disse para você, né, que eu fundei a agência de doméstica () igreja. Então, eu tive aquela experiência de que patroa ainda tem medo de empregada. Então, na hora das referências, não havia sinceridade, honestidade. Para se livrar do abacaxi, elas diziam qualquer coisa. E muitas vezes a gente teve problemas por causa disso. E eu não sei se foi por isso, eu fiquei mesmo com muita desconfiança. Agora, eu conheço gente que se serve de agência, não só para doméstica, como para outras coisas.

SPEAKER 1: : ### ###

SPEAKER 0: : parece que o pessoal não tem muita queixa, não. Eu, pessoalmente, tenho minhas desconfianças e não uso.

SPEAKER 1: : Agência de doméstica eu não tenho intenção de usar nunca. Eu não usei até hoje e pretendo ficar assim. Porque, por exemplo, uma vez uma agência me telefonou dizendo, a fulana, a senhora pode dizer que ela esteve aí dois anos quando telefonarem? Eu falei, não, ela esteve dois meses. Quer dizer, eu não fiz isso, mas outra pessoa podia dizer, tá bom, eu digo. Diz dois anos, eu não conhecia nada a respeito dela eu podia dizer que ficou aqui dois anos. Então, eu acho que a gente não pode confiar de jeito nenhum em agência. Além disso, tem o problema de que você paga a taxa, que geralmente é a metade do salário, e depois a agência mesmo tira aquela empregada para pôr em outro lugar para receber a taxa outra vez. Então, há muita desonestidade nisso, não? Agora, quanto a essas agências de serviço, é bom para quem não conhece arrumar um pintor, um eletricista, uma coisa assim. Mas até hoje, por costume, do tempo em que não havia agências, eu resolvo tudo pela lista amarela. Páginas amarelas. E eu já comprei varal sem sair de casa, pelo telefone. Tudo que eu quero, eu olho nas listas amarelas, telefono para o endereço que não é muito longe de mim, para eles terem boa vontade de vir. E até hoje deu certo. Eu arrumo muita coisa pelas páginas amarelas. Então, eu nunca precisei dessa agência, (tosse) mas eu sei que existe esse tipo.

SPEAKER 0: : Eu, as vezes que viajei, já utilizei para minhas filhas também. E o único problema que uma delas teve foi em Buenos Aires, mas eu culpo mais a o a ocasiã Houve uma greve de transportes. Ela já estava lá. Então, os aviões todos ficaram três dias sem fazer a rota. Então, todo mundo ficou com três dias de atraso para voltar. Então, elas foram despejadas do hotel pela agência porque os quartos já estariam () ocupa Não, a própria agência já tinha outras pessoas que iam, né, em outros voos e elas tiveram que ficar no saguão do hotel. A minha filha teve muita sorte porque ela foi com uma amiga e a mãe dessa amiga e essa senhora Ela é um pouco nervosa e deu um espetáculo no saguão e disse que se eles não dessem um jeito, ela se internaria num hospital com as duas e a agência que pagasse. Então, eles puseram de volta as três no primeiro avião. Mas os outros companheiros de viagem dela ficaram lá os três dias no saguão do hotel. Velhos, moços, crianças, sem distinção. De modo que foi eu acho mais culpa da ocasião. Já ouvi falar mal de várias agências, inclusive agora elas foram para os Estados Unidos, e depois que foram, a pessoa disse, ah, foi por tal agência. O ano passado abandonaram as pessoas lá, mas não houve problema nenhum, elas vieram direitinho, foi tudo direitinho. Eu acho que acidente acontece em qualquer lugar, né? E imprevistos acontecem tanto na vida da gente. Eu acho que A agência tendo, assim, um certo nome, a gente pode confiar. Agora, nas novas, a gente precisa primeiro, né, elas darem provas de que estão agindo corretamente para a gente confiar.

SPEAKER 1: : Agora, as viagens que eu fiz com meus pais, eu ainda era pequena, então... Ah, ainda era meio pequena. ### Então, não sei se eles usaram agência, mas eu tenho a impressão que não, que eles usavam só para comprar a passagem e para fazer a primeira reserva, mas () depois a gente andava sozinho. Nós nunca tivemos guia, nada. E quando eu viajei com meu marido, completamente sozinhos. Nós só () nós só compramos a passagem e marcamos daqui o primeiro hotel. Os outros todos a gente arrumava na hora. cidade que a gente chegava, a gente procurava o hotel e se inscrevia sem ter reserva nenhuma. Uma viagem bem à vontade. É, do aeroporto, a gente pedia informações. Às vezes, o pessoal do aeroporto mesmo telefonava reservando. Às vezes, eles tiravam () Só dava o telefone para gente, se vira, a gente ia para o telefone e ligava. Tem lugar, tem lugar, ia. Não usamos agência ainda.

SPEAKER 0: : É, de um modo geral, por intermédio de banco. Facilita bastante, aqui no bairro nós temos um banco em cada esquina, não temos que que ir longe, ãh não temos queixa, () pequenas coisas sempre acontecem, alguns enganos, isso até lá no centro acontecem, né? De modo que nessa parte o bairro está muito bem, muito bem mesmo, muito bem servido. Temos agência de tudo que é banco e várias vezes do mesmo banco, em vários pontos. Temos a caixa econômica, não é? A caixa econômica, que também é muito boa, um atendimento bom. Os funcionários da nossa caixa são também assim, tipo desses do i ene pê esse e da delegacia, são muito bons. atendem bem o público, são muito cordiais, nós não temos reclamação, não.

SPEAKER 1: : Eu faço todos os pagamentos em banco, mas assim, eu levando as contas e pagando. Não há  Nós não pusemos nada, assim, direto na conta corrente, porque eu acho mais fácil a gente controlar recebendo a conta em casa e indo () Quer dizer, a gente se controla mais. Né? Eu acho que você precisa ter, assim, vamos dizer, uma conta muito grande para simplesmente mandar dá ordem para as contas irem para o seu banco. Quando a conta não é grande, eu acho que a gente tem que pagar uma por uma para ver se tem fundo. Mas e geralmente, as escolas, os clubes dão carnês no começo do ano para a gente ir pagando o ano inteiro. Então, é um sistema muito fácil, muito melhor do que quando cada coisa a gente ia pagar no lugar. Em cada loja, em cada escola, a gente tinha que entrar. E tudo, é. A gente faz uma pilha de todas as contas, um dia entra no banco e paga tudo junto. Isso é uma facilidade tremenda.

SPEAKER 0: : ### Com cheque, né? Nós pagamos com cheque, tudo com cheque. É uma facilidade também, né? Não se precisa estar andando com muito dinheiro  Em geral, nós compramos à vista, sabe? Facilita bastante. E... Há prazos certas coisas, né? Só quando a compra é, assim, muito grande ou então, por exemplo, meu marido detesta crediário, mas agora nós compramos alguma coisa porque nós montamos esse apartamento, eu não tinha mais nada. Só esses móveis que estão aqui que sobraram, () que são antigos. O resto tudo eu comprei novo. Então, é lógico que a gente fez ãh em três vezes, quatro vezes, que é sem acréscimo, né? Então, nós fizemos a maioria das compras desse jeito. Mas sempre pagando em cheque, pagando em banco, que facilita muito para a gente, né?

SPEAKER 1: : Nós compramos quase tudo assim, em três vezes, por causa porque é sem acréscimos. Tudo que tem juros, a gente já não faz o negócio. Não fazemos simplesmente. Esperamos um dia ter para fazer em três vezes. O meu marido é contra pagar juros de qualquer espécie.

SPEAKER 0: : Essa mesa é um senhor que mora em Santana que faz. É uma mesa tipo árabe, né? Quando ele morrer, acho que ninguém mais faz aqui no Brasil, porque é trabalho de artista. Você acredita? () São cacos de madrepérola, de pau-brasil, a parte avermelhada, e de outros tipos de madeira aqui, eh que ele fez esse trabalho imitando, porque eu conheço o trabalho que vem do Oriente, é assim mesmo. Ele cola tudo, depois ele lixa e fica por igual. Ele faz isso só mesmo por amor, porque imagine que essa mesa ficou no... no porão, né? Na casa da mamãe uma temporada, e que eu fiquei na casa da mamãe sete anos. Então, () ficou tudo que era meu lá no porão, muita coisa estragou. E essa mesa estragou uma faixa dela toda, assim. E levei para restaurar, ele cobrou cem cruzeiros. Você imaginou o tempo de hoje? por caquinho, por caquinho, lixar, envernizar a mesa de novo, ela ficou novinha. que que é amor? Trabalho de artista. A hora que esse senhor morrer, ninguém mais faz isso. Faz Ele mora lá em Santana. Eu tenho uma caixinha de joia que ele fez. Eu tenho duas mesas dessa lá. É. É. Eu acho que é. Eu não sei. Ele tem um outro tipo também, redondinha, com os pés redondos. Aquilo eu acho muito sofisticada, porque eu não quero ter uma casa sofisticada, eu quero simples. Então, essa mesa é porque o meu marido aprecia, que ela está aí, ele é filho de libanês, e ela não choca assim no no ambiente assim um pouco mais moderno, mas fazendo Tudo assim, eu acho meio pesado, sabe? E uma peça ou outra vale a pena. Ele fez para um senhor que eu estive na casa, () que () chamava Morro do Maluf, ali perto do Morro dos Ingleses. Tinha a casa dos Maluf. E era toda assim. Tinha escrivaninha, móveis grandes, sala inteira assim.

SPEAKER 3: : Eu achei um pouco pesado, né?

SPEAKER 0: : ### Pois é, e ela é é feita aqui mesmo. Eu não me lembro o preço, porque eu comprei faz muito tempo. Foi muito barato, mas quando aconteceu esse acidente, agora faz uns dois meses que eu levei. Fiquei boba, cem cruzeiros não é dinheiro para ele restaurar todo () lado dela assim. É porque ele é artista ()

SPEAKER 3: : Gosta. ()

SPEAKER 0: : Olha, eu eu acho que nem existe uma cidade ideal, viu? Porque... Eu estava contando para você que eu morei um tempo, né? Cinco meses numa cidade nos Estados Unidos, que eu achava tão boa, tão ideal, e depois que eu conversei com o pessoal que mora lá, havia tanta... Não é queixa, mas o modo deles viverem para nós é tão esquisito, Você aprecia, por exemplo, as casas, ruas largas, uma casa longe da outra, aquele jardim aberto, ninguém tem grade, piscina na frente, ninguém ousa ir à piscina alheia. Imagina aqui a folia que a molecada ia fazer numa piscina da gente. E... Disciplina, o pessoal você não via quase ninguém na rua, cada um cuidando da sua vida, aquele silêncio, a noite era sossegado. o policiamento bem ostensivo, ãh todo mundo obedece demais as regras do trânsito. Eu achava aquilo tudo ideal. Depois, conversando com o pessoal de lá, eu notava um egoísmo no modo de viver, né? Cada um só cuida de si, não há empregados. Então, a gente resume a vida, não não recebe quase ninguém. Os amigos não se procuram muito, porque tudo dá problema, dor de cabeça, tira do horário. As famílias, né? Eu notava que os moços não queriam saber dos velhos. Os velhos todos moram sozinhos, trabalham. Depois de velhos, os empregos são raros. Então, a gente via caixeira de loja, uma velha. Ainda um dia, né? Papai contou que quis um sapato. E uma dessas velhinhas foi pôr a escada para subir e ele disse, ah, minha senhora, eu pego a caixa. Ela falou, pelo amor de Deus, não faça isso, senão eu perco o meu emprego. Eles vão achar que eu não tenho capacidade. Então, eu ficava impressionada com esse pouco caso pelos velhos. Mas depois eu vi que a recíproca é verdadeira. As mães, quando os filhos fazem dezoito anos, mandam embora, vão para fora de casa, vão cuidar de si, vão ganhar sua vida. Aquelas moças que eu achava tão novinhas estavam morando em apartamentos, duas, três, quatro amigas, trabalhando, procurando ãh se bastar para não pesar em casa, porque geralmente a mãe já tinha outro marido, então ela não se achava obrigada a continuar sustentando () aquela filha moça, o filho moço. E e então eu tive aquela decepção de ver que o que parecia tão bem, tão organizado, tão disciplinado, tinha o outro lado, né? Que esse lado das pessoas, realmente elas moram longe, recuadas, uma respeita a outra, mas também se cair morta na rua, ninguém liga, porque ninguém se incomoda com a vida alheia. E a gente, apesar da vida louca daqui de São Paulo, ainda conserva aquelas coisas, talvez no futuro a gente não consiga, porque hoje é difícil, né? a gente visitar alguém, porque a vida está muito muito cheia de problemas, mas a gente ainda conserva. Nós que temos uma família grande, sempre uma ajuda a outra, uma fica com o filho da outra, uma faz a compra da outra, uma ajuda a outra em tudo. E isso, eles mataram com essa vida tão organizada. () Eu acho que, para mim, acho que não existe cidade ideal.

SPEAKER 1: : Bom, a idade ideal a cidade utópica seria uma cidade muito limpa, muito clara, com uma assistência médica para todos, educação para todos. Isso seria muito bom. Recreação também, tudo. Agora, saindo da utopia, uma cidade que eu ainda considero muito boa, mas que talvez daqui a cinco anos não seja pelo crescimento, é Campinas. É o tipo da cidade assim que eu conheço, que o clima é bom, que ainda que tem tudo que o progresso pode dar, sem ser tão grande como São Paulo. Então, lá, as pessoas, por mais longe que morem uma da outra, ainda conseguem se visitar. Eu creio que o trânsito lá ainda não é congestionado. E já tem tudo, meu Deus, até universidade. Então, eu acho que, por enquanto, das cidades que eu conheço aqui do Brasil, é uma cidade ideal.

SPEAKER 3: : ###