Inquérito SP_D2_252

SPEAKER 2: :  bolo de peixe? ###

SPEAKER 1: : Salada de maçã?

SPEAKER 2: : O bolo de peixe é uma coisa... Eu julgo que é uma especialidade. Porque eu tenho tentado comer outros bolos de peixe feitos por aí, mas não vai. O negócio não, não funciona. Falta qualquer coisa ou tem qualquer coisa demais que fica diferente. Agora, eu não sei se é porque a gente acostumou com esse nosso paladar aqui de casa, Eu, nesse ponto, eu sou que nem gato. Dizem que o gato gosta da casa, não gosta do dono dele. Eu sou assim, eu gosto da casa, eu gosto das coisas da casa. Então, eu até, por mim, nunca teria mudado de casa. Essa filma da, da, daqui vive procurando casa para mudar. Eu estaria lá, nadando na casa, então me casei. Mas as circunstâncias obrigam a gente a rodar. Mas, então, eu gosto. Eu não sei, por exemplo, em matéria de alimentação, eu acho admirável. Tem gente que gosta de comer em restaurante, chega no restaurante e pede, assim, umas coisas que até o nome é difícil da gente pronunciar, né? E eu adoro o nosso, por exemplo, o arroz com feijão, não é? Depois, então, a macarronada, principalmente aqui em casa, que desde o macarrão já é feito aqui em casa também, né? A gente só não faz o boi para tirar a carne para preparar o molho. (risadas)  O macarrão já é feito em casa com todo aquele cuidado e todo mundo dá papito. "Está mais grosso, passa mais na máquina, faz mais fino." "Vamos cortar fino ou cortar grosso?" "Não, corta fino e tal." É aquela conversa. Então, eu acho que a alimentação em casa, não sei, as outras mulheres não sabem cozinhar, mas a minha mulher que adora cozinhar, ela não pode ver um fogão que ela vai para perto dele. Então, a gente vê Eu acho estupendo a gente poder almoçar e jantar em casa. Eu totalmente concordo em almoçar fora. Num domingo tá todo mundo cansado da semana inteira, tá no batente aí. Então vamos para um restaurante, vamos.

SPEAKER 1: : Faço companhia. É, acontece que ela acostuma vocês todos muito mal, sabe? Porque os homens casam e as coitadas noras é que sofrem. Porque não cozinham igual a mãe, não é? Tá de acordo comigo, né? Não cozinham igual a mãe e a comida da mamãe é isso. Porque a mamãe faz assim e a gente sofre

SPEAKER 0: : Bom, agora vamos deixar um pouco esse assunto de lado, porque eu estou morrendo de fome já. Eu estou morrendo de fome. Então, agora mudando um pouco de área, eu gostaria de saber o que vocês consideram uma mulher bem vestida, um homem bem vestido, como eles devem se apresentar e tudo que vocês puderem dizer e discutir a respeito do vestuário.

SPEAKER 1: : Bom, uma mulher bem vestida, eu, sinceramente, não reparo muito, não. estando em ordem, não chamando atenção, mas um homem bem vestido, eu reparo em muito. Para mim tem que ter uma roupa impecavelmente limpa, em ordem. Então, o negócio é na base do, da, da vestuário masculino. Para mim tem que ser, por exemplo, a camisa tem que ser impecável, ultra bem passada, parecendo que saiu da lavanderia naquela mesma hora. Não precisa ser ultra má moda e tal, mas... É bom que seja, mais ou menos, perto da mora. um sapato muito bem engraxado. Se tiver de gravata, colar em gravata, terno. Terno também, muito arrumadinho, muito esticadinho. Evitar assim  Evitar, assim, no fim do dia, que sempre quem trabalhou de terno o dia inteiro, fica aquelas marquinhas, assim, na perna da calça, no rabo do paletó, né? É, fica... Então, eu prefiro um homem, sabe A, a, a, a exata definição? Um homem acabado de sair do banho. Perfuminho e tal. Isto para mim seria o fim do mundo, mas acontece que nem sempre a gente pode ter aquilo que a gente gostaria de ter, né? Ô pai, o que você acha que seria? Como você acha que você classificaria uma mulher de bem vestida e elegante?

SPEAKER 2: : São considerações que a gente tem que olhar pelos dois lados. A mulher bem vestida, normalmente, para os dias comuns, principalmente a mulher que trabalha, é aquela, por exemplo, se ela está de vestido, tem que ser um vestido, naturalmente, que caia bem. A cor deve ser uma cor que se adapte, inclusive, à sua tese. Normalmente, as pessoas sabem escolher bem, né, a cor que devem usar. Então, para os dias comuns, Hoje em dia, que é hábito, se transformou em hábito, as mulheres andarem assim, de calça comprida, mesmo por causa do frio, sei lá por quê. Então, é elegante, um terninho, bem feito, bem alinhado, aquele palitozinho acinturadinho, um pouco assim, para mostrar exatamente... Ai, meu Deus, já 

SPEAKER 1: : Vamos mostrar as coisas. Ela está vestida, 

SPEAKER 2: : Não, é para Não, é só apenas para dar aquela quebradinha.

SPEAKER 1: : Você já tá falando, já falou da mini-blusa. Tá aparecendo as gordurinhas no cós da saia. E fica pronta.

SPEAKER 2: : Então, então... Agora, por exemplo, é detestável a gente ver uma mini-saia numa criatura que já ultrapassou os trinta anos e, então, já está com umas pernas assim que parecem as colunas de Hodes, mas, em todo caso, A minissaia a gente acha interessante e até bonito quando se trata de mocinhas, moças novas. Então elas, naturalmente, podem usar isto sem provocar uma admiração no sentido negativo. Elas provocariam uma admiração no sentido positivo. Olha como caiu bem aquela minissaia. Agora, normalmente, a mulher tem bom gosto para se vestir. Principalmente dizem que a mulher brasileira tem muito bom gosto e se preocupa com o seu vestuário. De um modo geral, elas se vestem muito bem. E, principalmente, dizem que a paulista tem uma grande preocupação em se vestir bem. Eu não posso fazer uma comparação com as cariocas, Porque as vezes que eu estive no Rio, assim, mais demoradamente, eu não não posso dizer bem, porque não me causou impressão. Talvez elas se vistam tão bem quanto as paulistas. Mas uma coisa que me chamou muita atenção foi quando eu estive em Belo Horizonte, ver como a moça mineira, a mulher mineira, de um modo geral, não se preocupa com essa questão de roupa, de indumentária, não. até às vezes saem de casa assim mesmo para o trabalho com uma roupa que não está de acordo nem com o padrão de vida delas, que a gente sabe que é um padrão bom, nem tampouco com a função que ela está exercendo. Não não se cuida.

SPEAKER 1: : Agora, você tinha tentado estabelecer comparação com as cariocas, né? Eu já passei mais tempo no Rio, mais tempo no na na época que a gente se preocupa mais com roupa, porque agora também não me preocupo lá muito. Mas, nessa época, eu passava, às vezes, férias lá com minhas primas e era aquela... Completamente diferente da gente, porque eu ia com mala cheia, uma roupa para de manhã, para praia, outra roupa para de tarde, de noite um vestido mais assim, chiquezinho e tal. E elas não, ainda caçoavam de mim, diziam "mas como você traz essa mala cheia, aqui é praia, você vem aqui para descansar, a gente não liga para isso". Era uma gozação sem fim. Eh a essas cariocas do meu tempo, pelo menos, eu não posso falar em meu tempo ainda, né? Eu estou falando em meu () Aliás, eu nem devia, porque isso depõe contra mim falar no meu tempo, Ma mas, realmente, porque hoje em dia tá tudo equiparado, né? Esse pessoal de quinze, dezesseis anos, a carioca, paulista ou mineira é tudo igual, é tudo a mesma coisa. Mas, quando eu tinha quinze, dezesseis anos, não era, não. São Paulo, o meu pessoal aqui andava ultra bem vestido e caprichavam. E as minhas primas do Rio, mas de jeito nenhum, se incomodavam com nada. Até não existia essa moda de calça desbotada, calça de brinde desbotada, e ela usava. Eu achava abominável. Imagine que horror sair com uma calça desbotada, uma calça com banha por fazer. Ela tinha... foi o início do do do uso da das bermudas, então ela cortou uma uma calça blue jeans que ela tinha e fez bermudas. E, meu Deus do céu, isso a gente vê que é calça remendada, que é coisa consertada, como é que ela tem coragem de sair na rua com isso? E saía tranquilamente, não estava nem se incomo dando com nada. Já eu  Eu não né. Eu era aquela preocupação extrema.

SPEAKER 2: : Eu gostaria agora de dar a minha opinião a respeito da moda de se vestir atual. Não só a moda unissex, como também a moda feminina propriamente dita, não é? Porque eu acho que a moça tem todo o direito de andar bem à vontade, principalmente hoje que a moça trabalha fora, estuda, ela tem uma vida intensíssima de movimentação A nossa condução é uma calamidade, então, até seria contraproducente a pessoa se emperiquitar muito para tomar um ônibus aí, amarrotada e tomando pescoção de todo jeito. Mas eu acho que a moça, mesmo dentro de uma calça comum, simples, dentro de uma blusinha, como quem não está ligando para a coisa, mas ela deve sempre conservar aquela linha de feminilidade, porque é exatamente é é o que a gente quer encontrar na na na nossa companheira, mesmo uma companheira de trabalho. independentemente da nossa mulher em casa, das nossas filhas e coisa e tal, o que a gente quer encontrar é aquela graça, aquela feminilidade, aquela delicadeza. Agora, hoje em dia, aqui as mulheres todas fumam. Às vezes, fumam até mais do que os homens. Então, já é um hábito que dá, assim, uma espécie de... não digo que embruteça, mas dá uma ideia, assim, de já mais... Menos frágil. Menos frágil, menos feminino. Menos frágil. Então, se a moça, além disso tudo, ainda se veste assim de um mal, a gente encontra aí certas meninas, embora elas não estejam assim, vamos dizer, exalando um... Um cheirinho meio diferente, mas a impressão que a gente tem é que ela nem tomou banho, né? Porque a a blusa está toda marfanhada, saindo para fora da calça. A calça já, embora talvez até seja uma calça limpa que ela botou ali pela primeira vez, mas a calça já é desbotada, já é remendada, já é rasgada. A a bainha, então, fica toda desfiada, assim, porque ou de propósito ou porque ela anda muito, aquilo desfia. Então, dá uma impressão, assim, de um desleixo, de um descaso, e eu acho que não fica bem para uma moça. Já não fica bem para um homem, para um para um rapaz, andar assim. () Eu acho horrível esses moços, então, que andam com aquele cabelo espetado, que parece que tem mais um metro de cabelo para cima da cabeça dele, né? Uns cordéis imundos pendurados no pescoço, porque dizem que aquele amuleto é bom para não pegar não sei que caguira lá e tal, né? E E aquela porção de balangandã pendurada que já parece boi, tipo o Chacal, que a gente marca o boi da frente com aquela, com aquela, com aquela cinzeiro que é para ele chamar os outros, né? Então, além disso, indo do camarada, bota umas roupas desbotadas, aquilo tudo dá uma impressão de sujeira, dá uma impressão dessa coisa. Para mim, não sei, eu gosto. Até ultimamente tenho exagerado um pouco no sistema de me vestir. Tenho () Até para o trabalho tenho ido assim, de esporte. Mas vou limpo, né? Então, eu banho faço minha barba, apertei meu cabelo e ponho uma camisa limpa, ponho uma calça que estão... Todo mundo está vendo que é uma calça esporte. Até de boca muito mais larga do que eu comumente uso. Mas e vou limpo. A pessoa que se encontra comigo não terá motivo nenhum de ser com isso, camarada. Esqueceu do banho, esqueceu da barba, esqueceu de tudo. Mas é são opiniões. Agora, que, evidentemente, é muito mais... Eu, pelo menos, acho, não sei. E E eu tenho a impressão de que mesmo os outros... Porque quando a gente vai... A questão, a a uns quinze ou vinte dias atrás, nós fomos a um casamento que era um casamento, assim, de gente tradicional. Então, a gente nota, mas que beleza aquelas moças todas muito bem vestidas, aquelas senhoras muito bem vestidas, algumas até de chapéu, né, os homens todos de ternos mais escuros do que claros, de colarim muito impecavelmente passado, sua gravata bonita, ostentando uma bela pérola, um alfinete de gravata. Um pessoal assim, que é como o meu o meu sobrinho costuma caçoar, que a gente, quando entra na igreja, sente aquele cheiro de gente rica. Mas não é cheiro de gente rica, é cheiro de limpeza, é cheiro de beleza, é cheiro de bem-estar trans que se transborda do modo de comportamento da pessoa, né?

SPEAKER 1: : Bom, isso eu estou de pleno acordo com você, né? Se bem que os nossos tempos são, assim, um pouquinho diferentes, mas eu estou de pleno acordo com você, porque eu acho que eu fui criada nesse ambiente também, né? O papai era muito rigoroso com essa história de roupa e e na na mamãe, em mim não, porque eu era criança, não tinha razão para exigência, mas para mamãe, Ele não tolerava decotes muito ousados, vestido sem manga, cumprimento das saias. Ele olhava assim e dizia assim, olha, está meio curto, hein? Acho melhor você encumbridar essa coisa, porque não pode sair desse jeito. Agora, o tempo mudou, né? No meu tempo o negócio não era bem assim. O pessoal andava ultra arrumado, fazia questão de vestuário. Acho que era uma das preocupações principais, era vestuário. sapato em ordem, é... Vestido, tudo na base dos laços, rendas e fitas. A roupa de baixo, então, pelo amor de Deus, a roupa de baixo era uma parada. Camisolas, camisolas cumpridissimas né, rodadas e tal, até incômodo, mas, enfim, ela tinha tudo aquilo. () não sei, talvez seja por causa da pressa, da da dificuldade de ter quem lave tudo isso, é falta de espírito prático a gente ter esse monte de coisa em casa. Então foi simplificando, simplificando, diminuindo, diminuindo, depois apareceu o nylon, apareceu o tergal e acabou-se o ferro, camisa de tergal você lava, pendura, não precisa, quer dizer, dizem eles que não precisa passar, né, mas... Sempre é bom um ferrinho por cima, mas muita gente não passa, então a camisa fica assim meio né... Você olha e pensa, será? () Bom, as mulheres do meu tempo... Eu não posso falar em meu tempo. Você () contra a mim  falar no meu Deixa cá que eu falo das mulheres do meu tempo, né. (gargalhadas) O seu tempo  está mais longe, o seu tempo está mais está mais diferente do tempo de hoje. Talvez seja mais interessante estabelecer essa diferença.

SPEAKER 2: : Vamos dizer que eu considere meu tempo o tempo de solteiro. Então, este tempo de solteiro acabou em mil novecentos e trinta e nove né Então, eu vou considerar as mulheres de trinta e nove para trás. Inicialmente, quando eu era bem criança, havia a preocupação na indumentária feminina, havia a preocupação dos complementos. E esse, o princi, o complemento que mais atormentava as mulheres era o chapéu. E e Evidentemente, naquele tempo, o chapéu era usado, assim, comumente. As senhoras não saíam, principalmente se fosse para uma visita ou para uma igreja e tal, as senhoras não saíam sem chapéu, absolutamente. Agora, depois o o chapéu saiu de moda, naturalmente era um complemento inconveniente, principalmente depois que o cinema se tornou uma diversão de todo dia. Não se conceberia uma mulher sentar no cinema com aquele chapéu na cabeça, atrapalhando a vista de todo o pessoal que estivesse atrás. Então, o chapéu foi desaparecendo. O sistema da mulher trabalhar fora, trabalhar em escritórios, em repartições públicas e coitado, acabou de liquidar com o uso do chapéu, porque ela devendo sair todo dia para trabalhar, tomar condução comum. Inicialmente, os ônibus tinham uma lotação determinada, então não carregavam nenhum passageiro em pé. Depois, já com a crise da Provinda da Europa, dificuldades de transporte e coisa e tal, então já os ônibus passaram a tolerar no máximo dez pessoas em pé no corredor central. Aí já começou o aperto. E hoje em dia, então, que a a lotação não tem mais limite, embora lá na na tableta do ônibus esteja escrito tantos passageiros sentados, tantos em pé, hoje ninguém mais respeita. Então, um carro normalmente leva lotação de três carros. Ora, se a mulher fosse usar toda aqueles aquelas indumentária de antigamente, hoje ela nem poderia entrar no ônibus.

SPEAKER 1: : Escute, se você, se a mulher fosse trabalhar de chapéu, você não imagina, você já imaginou onde iria o orçamento da família? Porque precisaria ter a uma quantidade razoável, porque a mulher não vai repetir chapéu, né?

SPEAKER 2: : Mas era isso que eu queria chegar. Eu eu vi... Eu vi no nosso clube, lá dos funcionários do Instituto, há dias atrás, eu vi uma fotografia dos inícios do Instituto. Então, eu vi lá a fotografia de uma porção de colegas que iam trabalhar. Não era bem de chapéu, mas era de boina, né. (risos) Uma boina de viludo lustrosa, assim, posta meio de lado e coitada. Hoje em dia ninguém mais usa desse negócio, né? Mas a mulher usava. Principalmente ela se cuidava. Nenhuma moça saía de casa sem um determinado preparo. Hoje em dia parece que o negócio já está meio na base do tapa, né?

SPEAKER 1: : Boina usava eu no uniforme do colégio, no uniforme do primário, não é, Boina? E depois no uniforme do ginásio tinha chapéu. Até quando eu estava na terceira, quarta série, sei lá, como a gente levava o chapéu dentro do fichário, as freiras achavam que não havia mais possibilidade de usar um chapéu tão amassado daqueles. Então, (risos) cortaram o uso, né?