Inquérito SP_D2_177

SPEAKER 1: : ### De vocês, no caso, né? Quem gostaria de falar? (riso)

SPEAKER 0: : Minha profissão atual é de juiz de direito. Eu sou juiz do primeiro tribunal de Alçape, Civil. Anteriormente, eu ocupei outros cargos da magistratura. Em São Paulo, fui juiz criminal durante mais de seis anos. desce da vara criminal e que fui promovido para o primeiro tribunal de alçada civil. Mas antes de vir para a capital, estive no interior durante quatorze anos, ah...  Ingressei na carreira como juiz substituto, com sede em Marília, e depois passei por várias cidades, período de três, quatro anos, até chegar à capital. Nessas outras cidades, a minha atividade era tanto de juiz civil como criminal, porque tinha a minha jurisdição plena, Porque se trata de comarcas em que há uma única vara. Atualmente, no meu tribunal, a minha jurisdição é limitada a determinadas matérias. Não é uma jurisdição plena, como muita gente pensa.

SPEAKER 3: : Muita gente pensa, então quer dizer que existe  Diferença dentro do direito ( ) 

SPEAKER 0: : A diferença que existe é em razão da da distribuição dos serviços, da personalização do trabalho. Por exemplo, o tribunal em que eu estou lotado atualmente, o primeiro tribunal civil, julga determinadas questões que não são julgadas pelo segundo tribunal civil. Cada um tem a sua competência específica. Exemplificando, as ações de despejo, de renovação de locação, de desapropriações, questões de acidentes de trabalho, de alienação fiduciária, de compromisso de compra e venda, são julgadas pelo segundo tribunal, ao qual eu não pertenço. O meu tribunal cabe em outras questões, tais como referentes à matéria fiscal, impostos, taxas, contribuições, questões relativas à leitura de câmbio, notas promissórias, cheques, seguros de vida, sociedades comerciais, civis, parceria agrícola, locação de serviços, representação comercial, enfim, matéria completamente diferente. Cada um dos dois tribunais, embora ambos sejam civis, tem uma competência diferente em razão das matérias que decidem. Já a justiça criminal, não é preciso dizer que tem outro campo de ação completamente diverso.

SPEAKER 1: : Certo. Agora, por exemplo, o senhor então já tem uma carreira ãh definida, etc. O senhor começou essa carreira mais ou menos em que ano?

SPEAKER 0: : A carreira de magistratura eu iniciei em mil novecentos e cinquenta, como de substituto, depois do concurso de provas e Descei na comarca de Marília, que era a sede da minha sessão judiciária, já era a segunda sessão judiciária. Esta sessão abrangia várias comarcas, me lembro no momento de Piratininga, Garça, Marília, Pompeia e Tupã. Quer dizer que eu substituía em todas essas comarcas de acordo com a necessidade. Quando os respectivos juízes titulares se encontravam em férias ou afastados de razão de saúde ou por interesses particulares, eu como substituto era designado para substituí-los por períodos que geralmente nunca passavam de trinta dias. Posteriormente, em mil novecentos e cinquenta e dois, eu fui promovido de juiz substituto para juiz de direito. ### Quando a juiz, (riso) a minha primeira comarca como titular, quer dizer, que não era mais substituto, foi a comarca de São Sebastião, uhum, teve um caso inusitado (riso) Acontece que um menor, de legítima defesa do pai, matou um homem a apauladas Tratava-se de um rapazinho de dezesseis anos, um menino bom, trabalhador e tal, que não tinha nenhum antecedente negativo. E cometeu esse fato, que não era legalmente não era considerado crime, por ter sido uma defesa do próprio pai, que havia sido atacado por um homem mais moço e embriagado. Esse menor, então, de acordo com a lei em vigor, não podia ser processado, mas foi submetido a uma sindicância, o fato foi apurado, e se se positivasse que era o menor corrompido, ou se necessitasse de alguma reeducação, ele seria internado no Instituto Especializado de Menores. Mas como se verificou que o fato foi lícito, ele havia agido dentro da lei e tal, não havia praticado crime propriamente, e era o menor de boa personalidade e tal, foi novamente entregue à família, não tendo sido apreendido nem chegado a ficar detido nem um dia. Entretanto, tempo depois de solucionado esse caso, que ocorreu numa praia longínqua, na costa, num lugar titulado Maresia  surgiram boatos de que enquanto o corpo desse cidadão, que já havia sido vítima desse fato, estava caído no chão, outras pessoas adultas haviam agredido com um remo, estavam provocando fraturas de costela, etc. Antes disso havia necessidade de apurar a participação dessas pessoas na morte desse homem. e se eram realmente culpadas e tal. Então, o promotor público requeriu a exumação do cadáver, que já havia sido enterrado há doze dias, em São José dos Campos, uhum. A vítima não tinha morrido no ato, faleceu doze dias depois, em São José dos Campos. Tinha sido transportado para lá, cuidado de mais recursos do que houve o fato, ficou internado no hospital e veio a falecer em São José dos Campos. Então eu determinei, na minha função de juiz, que fosse feita a exumação do cadáver e e eu submeti do corpo a competente de autópsia para se verificar se, de fato, havia fraturas de costelas, conforme alegavam pessoas que tinham assistido a adultos bater com remo no peito desse homem. Todavia, o delegado de polícia de São José dos Campos, que estava incumbido em realizar essa diligência, convocaram o médico para realizar autópsia e tal, e assistia à perícia. Uma vez que em São Sebastião não havia recurso para esse fim, não existia médico legista adotado na delegacia de polícia, esse delegado não gostou muito da ordem de fazer autópsia com uma ação seguida pela autópsia. Achou que não havia necessidade, estava esclarecido que a causa mortis havia sido outra e tal, não tinha nada a ver com a dor de costela. E ele imediatamente tem um ofício expondo a sua opinião e dizendo que não havia necessidade de autópsia, estava esclarecido a causa mortis e tal. O (tosse) cadáver já estava enterrado há vários dias. E eu respondi no sentido de que tinha dado uma ordem, não havia pedido um palpite, ele cumprisse a ordem e tal. E era de interesse da justiça que fosse esclarecido, já que os testemunhas afirmavam que havia participação de adultos, o menor não tinha praticado o crime, era de interesse do pai. Mas esses adultos e tal, que podiam ter se aproveitado do fato da vítima ter caído ao chão e tal, e batidos com a cara e tal, como afirmava o testemunha, havia necessidade de se apurar ao fato. E mantive, então, a determinação, acrescentando que se eu quisesse lições, eu ia consultar os doutores, e não uma autoridade policial que estava subordinada a mim e estava obrigação de cumprir as minhas ordens, o que devia ser feito imediatamente sob pena de desobediência. Então, aquela autoridade Convocou o médico, realizou a autópsia e tal. Mas, aborrecida com o teor do meu ofício, resolveu me ( ) uma peça. E cortou, determinou ao médico que cortasse a cabeça do cadáver, colocou em uma caixa e remeteu para a comarca, onde eu estava lotado como juiz, juntamente com o laudo pericial relativo à autópsia. dizendo que aquele crânio era peça de convicção. Ele se destinava a comprovar o laudo que acompanhava. Mas, na realidade, a finalidade desse delegado tinha sido me pegar um susto. E, entretanto, eu soube com antecedência através de outro delegado, que estava anotado na comarca de Carpatatuba e hoje está na capital, que tinha ouvido dizer na Regional da Polícia que eu me pegava uma peça e tal, por causa da violência do meu ofício. Então, soube com antecedência e me preparei para receber o crânio. E veio, de fato, pelo ônibus de São José dos Campos para São Sebastião, uma caixa com um envelope contendo o laudo pericial. que estava muito bem elaborado e tal, de acordo com todos os rigores científicos, e que concluía que a causa da morte já havia sido a pancada no crânio, que tinha sido ( ) pelo menor, uhum.  Então não havia participação de outras pessoas e tal. Não havia fratura de costela nem nada. Mas, atendendo a que a lei não permitia que se cortasse parte do corpo, A lei permitia apenas restação de vistas para exame de laboratórios e, no caso, não havia necessidade de mutinar o corpo. Então, o promotor público achou que, no caso, havia um crime de vilipêndio à cadáver, né, ah... Juntamente com outro de desacato, que a intenção teria sido me assustar, sendo que eu era autoridade superior ao delegado. Então, o promotor foi requerer a abertura de páreo de policial contra o delegado, o médico legista e o enfermeiro que serviu como auxiliar da autópsia e tal. Todos lotados nessa época são de ( ) campos ( )  Não, ele achou que tinha base realmente e tal. O promotor entendeu que realmente havia um crime de vilipêndio a cadáver,  não, realmente ( ) um desacato e que devia ser apurado e tal. Porque os doutores, os penalistas ensinam que não pode ser cortado pedaço de corpo e tal, como fizeram, aliás, indivíduamente, com o Lampião, cortaram a cabeça e tal, para provar ao povo que ele tratava de Lampião. Só para ver a situação de vista, para exames de laboratório. Só os estudantes de medicina, no ( ) , é que tem esse direito e tal, de retalhar as ( ) , tudo. Mas aí acontece que Apareceram, ãh então, repórteres de jornais de São Paulo, na comarca de São Sebastião, e queriam entrevistar a respeito do fato e tal. E os jornais publicaram uma notícia de que tinha sido enviada uma caveira para o juiz e tal. Eu me lembro do jornal A Hora, que hoje não existe mais. Primeiro, já viram trazer manchetes de garrafais na primeira folha, dizendo Mandaram uma caveira para o juiz.

SPEAKER 2: : Você não reportou ao jornal?

SPEAKER 0: : Eu não recortei, não tive a oportunidade de guardar esse jornal, que hoje não existe mais. Aliás, minha irmã, que morava mora aqui em São Paulo, já naquela época, recebeu um pacote que estava embrulhado com o jornal, né. E, justamente, era uma folha dessa reportagem que se referia a esse fato. Então, eu não me exclusei de dar entrevista, porque eu não podia, por razões de ordem profissional e tal, e expliquei ao jornalista que o caso estava afeto à Justiça de São José dos Campos, que ia apurar esse crime de vire-pena cadáver e o de desacato, e que eu não podia prestar declarações nenhuma sobre o fato e tal. Mas, autorizei a fotografar o crânio. E foi foi fotografado o crânio e tal. Já uma menor interessante é que o oficial de justiça da comarca, uma pessoa de pouca instrução, muito supersticioso, ficou muito impressionado quando eu recebi aquela caixa, guardei no meu instante, no meu gabinete de trabalho, onde permanecia várias horas à noite, perguntou se eu não tinha medo. E na hora em que foi aberta a caixa, eu convoquei dois testemunhas, para que amanhã não se dissesse que não continha nada e tal, porque o Laudo não fazia referência, pelo que me lembro, não fazia referência a essa peça de convicção. descrevia apenas a sede das faturas e tal, e qual era a causa da morte. Então, o médico respondia que isso foi sua autoridade policial. Então, convoquei dois testemunhas, que eram dois empregados de uma oficina da Light, que ficava em frente ao fédio do fórum. Esses dois homens vieram e o oficial da justiça simunhou-lhe umas luvas imersas em formol e abriu a caixa. E antes eu expliquei às duas testemunhas que aquela caixa tinha um crânio humano. Atualmente eu não entendo, era uma pessoa simples e tal. Quando o oficial abriu a caixa, e exibiu (riso) a luz do dia. Aquele crânio que estava com os cabelos raspados e a vista vazada e tal, um dos homens imediatamente teve um desmaio. Só segurar ia cair no chão, não é? Isso  E por esse inquérito sobre a situação do delegado, do médico  legista, do respectivo Cigar, se processou de São José dos Campos e eu tenho a impressão que foi arquivado, que eu não tive mais notícia do fato, não teve mais nenhuma mudança assim...  A respeito desse mesmo caso, acontece que quando foram à comarca os repórteres dos jornais para fotografar o crânio e pedir entrevista das autoridades, Eu estava presidindo uma audiência em processo criminal pelo crime de esbúlio processório. Um cidadão que tinha sido acusado de invadir terras de outro e tal. E eu não permiti que tirassem fotografias da sua idade, que se achavam na audiência. Eu, o promotor e tal. Mas acontece que o jornalista se aproveitou que a porta do polo estava aberta e de longe tal bateu as fotografias e tal. E o réu, então, acusado, né, estava sentado no seu lugar lá, aguardando a audiência, se levantou e protestou, dizendo que que ele estava sendo ãh fotografado e tal, por jornais e coisas, que não admitia isso (riso) Então, eu tive uma reação violenta, porque achei que... Ele tinha sido muito presunçoso, porque ninguém ia tirar a fotografia dele e tal. (riso) ( ) o senhor só recorda a sua significância e tal (riso) ( ) ( riso)  era até um sujeito economicamente muito bem abonado, possuía várias terras lá e tal, ( )  Eu gostaria de saber ( )  É difícil de definir, mas isso é uma explicação simples, né.  ( ) É uma pessoa que quer se apossar, ilegitimamente, ilicitamente, de terras e outros, entendeu? E fabrica escrituras, entendeu? Ou pega uma escritura real, mas de um imóvel que se situa em outro lugar, e vende este imóvel, não aquele, aquele que faz a escritura, a outra pessoa, e depois faz o revista da escritura do imóvel e tal e causa uma complicação tremenda. Às vezes o título é legítimo, o imóvel é em outro lugar. E outras vezes o título também não é legítimo, ele menciona divisas  inexistentes,  divisas ah absurdamente amplas. e não pode corresponder. Por exemplo, a enumeração de  ### Você consegue localizar o imóvel ( )

SPEAKER 1: : Mesmo aqui nesses bairros afastados ( ) acontece isso?

SPEAKER 0: : Acontece, já tem havido ( )  São Miguel, principalmente, e tal, em vários lugares. Em algumas comarcas do interior já havia muitos, ou seja, havia o preço no litoral. E esse cidadão protestou contra as fotografias, né, então ele ele era tido como ( ) , tido de aviso, local e tal. E ele tinha sido processado por esse fato de esgúlio processórico. Então eu disse a ele que que estavam querendo fotografar as autoridades, não era ele que não se preocupasse, que ninguém ia ia gastar filmes com uma pessoa dele, que não compensava (riso) Depois eu me arrependi, achei que que tinha sido direito de fazer essa observação e tal Mas já foi passado ( ) (riso)

SPEAKER 1: : Agora, o Rui, olha, o seu pai já tem uma carreira ãh, certo? de anos...  É, definida, tem muita coisa para contar. Você, parece que  Você  ( ) formado, não? ( ) 

SPEAKER 0: : trinta e dois  ### Ah, é, eu sou advogado na imobiliária também Né, mas não existe esse caso interessante

SPEAKER 1: : Entendeu, por que você acha que não existe?

SPEAKER 0: : Bom, em primeiro lugar, pelo fato de ser em São Paulo, entende? A capital é muito, certo? Está muito civilizada. Uma cidade só tem um caso interessante, entendeu? Em segundo lugar, porque o tipo de advocacia que a gente faz não permite ( )  Ah, mais a de advocacia civil, né? ### Uma a  menos ( )  Menos emocionante ( )  Menos emocionante, (riso) entende? Pode ser emocionante no papel, entende? Que realmente é, né? É mais técnico, né? Uhum. Entendeu?

SPEAKER 2: : ( ) 

SPEAKER 0: : Pode ser argumentação, debate, questão mais intelectual. Mas na hora que chega no... Os fatos são uma coisa que não tem graça nenhuma.

SPEAKER 1: : Pelo fato de você ser bem novo, início de carreira, você encontra, assim, por parte das pessoas que que que o procuram, alguma, assim, quase que resistência? Você encontra isso?

SPEAKER 0: : Em primeiro lugar, eu não sou tão novo não. 

SPEAKER 1: : Mas parece, né? Bem novo. Eu tenho 

SPEAKER 0: : Eu tenho vinte e sete anos, quer dizer, todo mundo acha isso. Realmente existem as pessoas que ficam, assim, meio receosos, entende? Agora, o principal bronca não é o fato de eu usar cabelo Também estava maior, certo? Isso enquanto eu não ( )  Era bem menor, era bem grande, entende? É. E o fato de eu usar barba ( ) entendeu? Também, com a Mercedes acontece a mesma coisa, entendeu? O jeito dela, a vontade ( )  A gente conta, né,  mas se bem que quando você tem um cliente, é uma pessoa que te conhece, né.  Dificilmente vai aparecer um cliente que caia do céu, que passa no meu escritório e ( ) é Então o cliente ( )  que quer, entendeu? Agora vou fazer trabalho na imobiliária de manhã. Lá realmente há uma ruptura. É melhor que a imobiliária. ### E todos são filhos de italianos? Geralmente os donos são italianos e espanhóis, né? E portugueses. Entendeu? Estão acostumados a ver o advogado, o senhor gordinho, careca. Vários deles me falam isso. ( ) doutor Rui, ah Ah, eu imaginava diferente, completamente diferente. Entendeu? Certo. ###

SPEAKER 1: : Bom, isso é. (riso) Escuta, e seria esse caso de com pouca idade, seria... Nós encontraríamos isso em tudo quanto é profissão? Porque hoje em dia existe a Universidade de São Paulo, a Universidade Católica, mas há essas faculdades de de esquina, quase, entende? Então, ãh em que se forma muita gente, né? E seria que esse pessoal formado encontraria um campo de trabalho assim, ou também haveria uma resistência, por exemplo, por parte das pessoas?

SPEAKER 0: : As pessoas de mais ida( ) 

SPEAKER 1: : Não, o pessoal mais jovem, por exemplo, formado por essa escola? não em geral. Pessoal que hoje termina faculdade e vai ou lecionar, ou médico, ou advogado mesmo, dentista, etc.

SPEAKER 0: : Eu acho que os jovens que se formam agora por essas faculdades têm possibilidade, têm tanta dificuldade para encontrar empregos, evidentemente, Não é fácil arranjar bons empregos, porque a concorrência é muito grande, sobretudo pelo número enorme de escolas, mas eu acho que não há uma prevenção ãh contra o ser formado ãh para dar serviços, a menos que se trate de serviços de muita responsabilidade. Por exemplo, eu sempre tive a impressão, tenho alguma experiência no assunto, de que as grandes causas só são entregues aos grandes advogados. E esses, evidentemente, são pessoas ãh

SPEAKER 1: : Meia idade ou mais. Então, que já tiver acumulado experiência.

SPEAKER 0: : Já ter acumulado bastante experiência. Quer dizer, quando se trata de causas relativamente simples ou de valor pequeno, porque, às vezes, a causa de valor pequeno é complexa, Então se entrega a um vizinho, a um amigo, a um conhecido, não é? Quer dizer, é como se  E os leigos não dão valor, porque evidentemente não conhecem a parte técnica da profissão. Então penso que o advogado é um quebra-galho que resolve qualquer problema. ### Agora, o advogado é ( ) E, inclusive, nos escritórios de advocacia, que a gente já tinha chamado, como no caso, que vive em função de clientes que os advogados mais velhos mandam, entendeu? Quando surgem causas elementais ou de... financeiramente não muito... Não muito... (riso)  compensadoras, certo? Uhum Eles mandam para para pesso( )  ( ) O pessoal vai vivendo disso. Até ficar uma clientela ( ) com essas mesmas pessoas  Já não é o nosso caso, né, ( )  entendeu? Agora, eu acho que isso é uma coisa mais ou menos natural, é uma coisa humana e tal. Porque se a gente ãh tiver uma grande causa, aí vai entregar um advogado famoso e tal. Embora muitas vezes ele nem cuide pessoalmente dessa causa, ele só dê orientação e tal e seus auxiliares é que cuidam. Então, se eu ganhar na loteria esportiva quinze milhões de cruzeiros, Eu não vou entregar, eh eh eles não quiserem me pagar o prêmio, eu não vou entregar a causa a um advogado novato. Isso é raciocínio geral, né, uhum. Embora eu possa ser muito curto, possa ser até assistente de faculdade, universidade, né, vou procurar um advogado denominado e tal. Muitas vezes o medalhão. ter mais confiança. Agora, se é uma causa pequena e tal de coisa, eu acho, aí se é coisa simples e tal, eu procuro um vizinho, procuro um conhecido que eu sei que se formou e tal, né, e que às vezes não é um bom advogado, não é um sujeito competente e vai entrar lá a causa e tal. Também é uma forma que acontece em medicina No caso de de de de  doenças menos graves, Consulta-se qualquer pessoa. Às vezes não se consulta ninguém. Às vezes consulta o farmacêutico e tal, uhum.  Você toma o remédio a conselho de amigos, de vizinhos. Se a doença é mais grave, ou se é muito grave, quem pode, não não vai consultar um médico recém-formado, um médico novo. Vai procurar um professor da universidade, ou um médico que já tenha firmado seu nome como especialista no assunto, tal Uma coisa natural.

SPEAKER 1: : Agora, hoje em dia, o curso de Direito é um curso muito procurado e financeiramente é um curso bom, hoje em dia? ( ) 

SPEAKER 0: : Olha, o negócio de ser um curso de Direito muito procurado, isso é uma defamação de informação, né? Porque o curso de Direito, pelas pessoas em idade de fazer a universidade, em idade, naquela faculdade que vai entre dezoito e vinte e dois anos, é o menos procurado.

SPEAKER 3: : É um dos menos

SPEAKER 0: : Menos procurado, certo? E eu sei isso pela faculdade, Eu trabalhava no ( ) , eu via as relações das das pessoas e tal O ( ) curso mais procurado é Comunicações, que é o curso da moda ( )  Há cinco anos atrás, era Ciências Sociais, era o curso mais procurado ( )  Certo? Ora, direito é procurado por quem? Por contador que já está com trinta, quarenta anos. Tanto que na minha classe, que era na uspi, porque eu tenho os alunos mais normais em termos de currículo, né? ginásio com idade certa, colégio com idade certa, ah Metade tem idade normal, a outra metade é coroa mesmo, entende? À noite, então, só dá coroa. Cadê que é mais procurado? E metade das pessoas que trabalham direito não exerce profissão. Isso aí existe em estatísticas. Mais metade, porque se elas fossem exercer a profissão, daí dá um caos. Já é um caos. Temos financeiros, Desde o tempo que me formei, mais de vinte e cinco anos atrás, já o número de bacharéis em direito ou ciências sociais e jurídicas ( ) uhum, que advogavam era muito pequeno, talvez nem  Os demais se entregaram a outras atividades, jornalismo, comércio, ou as carreiras, policial, magistratura, ministério público, né O número de pessoas que eles envolvem é muito pequeno. Sem contar aqueles que obtinham o diploma apenas com o intuito de conquistar uma posição melhor no serviço público,  Ainda hoje existem muitos assim e tal, né Eu, como juiz ( ) , conheço muitos funcionários de tribunais e da polícia e tal Um grande número. Pode-se dizer que não há cartório, não há secretaria tribunal, não há ãh delegacia de polícia que não tenha escrivão, escrevente, escriturário, investigador, tal, que não seja estudante de direito e tal E eles, evidentemente, na maioria dos casos, não tem intenção de deixar as perspectivas carreiras e tal, mas apenas de obter uma melhoria e tal. Se bem que há também vários casos de de investigadores que se formaram em direitos e depois prestaram concurso para carreiras delegais de polícia e tal, que é mais bem remunerada e tem um status muito superior e tal, não é? Mas também há grande número que continuam na mesma atividade e tal, mas com esperança de de  ( ) , não sei o que, de melhoria de promoção, Eu chego muitas vezes a perguntar, por que é que você está estudando? Não é? No caso, por exemplo, eu conheço uma moça, que é bacharela de Direito formada pela Universidade de São Paulo, formada lá de São Francisco. E faz curso de pós-graduação na Universidade de São Paulo, faz curso  de Biblioteconomia, né, e exerce função administrativa de Secretaria do Tribunal, hum... Então ela... uma única esperança dentro da da carreira dela, administrativa, seria de promoção, mas isso é muito remoto e tal, e essa promoção também não seria muito compensadora, ( )  porque eu conheço pessoalmente e sei que ela não tem, pelo menos por enquanto, intenção de de deixar o seu cargo e tal para enfrentar um curso para promotora pública, não é, ou para professora, que poderiam ser possibilitados por esses estudos de aperfeiçoamento que está fazendo atualmente. Agora, por exemplo,

SPEAKER 1: : Agora, por exemplo, me parece que dentro do curso de Direito existe especialização e me parece que é muito bem remunerado. Das profissões liberais, me parece que Direito, no caso de especialização, é muito bem remunerado, isso é verdade?

SPEAKER 0: : É o seguinte, o negócio é o seguinte, existem certos ramos de Direito que atualmente são muito bem remunerados, como é o caso do direito administrativo, né, e direito tributário. O direito administrativo tem tem uma relação social muito grande. A desapropriação está aí com ( ) , né Então, inclusive existe uma malandragem por trás disso que eu não vou explicar aqui.

SPEAKER 1: : Seria interessante você falar.

SPEAKER 0: : Não faz. Isso aí é uma questão Gente, como que eu vou contar alguma coisa que se passa com o advogado se eu sou advogado? Deu mal, mas não ri, sabe? Eu não vou contar assim, entendeu? (riso) Inclusive tem advogado que há dez anos (  ) ... Eu não sou lá ligado nessa coisa de ética, mas tem, entendeu? Advogado que foi formado há vinte, trinta anos, Entendeu, que não tinha nada, entende( ) Depois que estourou as desapropriações aí, ah, em três, quatro anos ficou ( ). Porque é o seguinte, ( ) as causas das desapropriações, elas são encaminhadas para os advogados. Entende? Não através do cliente, através de do alinhamento da prefeitura, ah Entendeu? Entende? É assim. Então por que só existem quatro, cinco advogados que fazem Bom, mas isso aqui, essa essa gravação, eu espero que ela seja ( )  É só...Né,  vai controlar, né. Mas eu acho que é o seguinte, que as as causas de desapropriação não implica no conhecimento especializado, né? Não, mas... São causas simplíssimas   ( ) Você estava falando de especialização, ah, é. Ah, é? Quer dizer, eh eh (tosse) não exige conhecimento especializado. É uma causa de grande ãh simplicidade para o advogado. Porque quem decide propriamente A desapropriação é o perito. O juiz vai se louvar no laudo de um dos peritos. O juiz pode escolher o laudo que ele entender e pode não aceitar nenhum daquele laudo, mas vai fazer outra perícia. Mas ele sempre terá que se louvar no laudo de um perito, não é? Embora possa temperar com outros elementos, com outra coisa. Mas em noventa e nove por cento dos casos, o valor fixado pelo perito é que vai prevalecer. Porque podem surgir outras questões da desapropriação também, sem ser o valor. Mas quase sempre, na desapropriação, o que se discute é quanto tem que pagar pela expropriação do bem, pela tirada do bem do particular para passar para o domínio público. Não, mas não não é o problema que eu estou falando de especialização. Não é no sentido de que você faça um curso posterior de especialização. É no sentido de que o advogado tem especialidade em determinada determinada matéria. Então, disse que o advogado especializado em direito administrativo É uma advogada que tem grandes possibilidades de ganhar dinheiro. Realmente tem uma das causas é porque a desapropriação é um campo dentro do direito administrativo, entendeu? Uhum, como direito tributário dá uma grana violenta. Dá mesmo, né? Olha, eu nunca nunca fiz nada de direito tributário

SPEAKER 1: : Não tenho a mínima ideia de como é que faz. Direito tributário seria numa fase assim de pós-graduação, não? Não! Não? Não! 

SPEAKER 0: : Não. O negócio é o seguinte, a pós-graduação também é outra história, entendeu? Não tem nada, é diferente. Porque a pós-graduação é curso monográfico. Você não faz um curso de direito tributário. Você faz um curso de imposto de renda, por exemplo, hum Certo? Como se você não fosse fazer um curso ( )  Se você não for fazer um curso de linguística, Faz coisa fonética ( )  Pós-graduação você não faz linguística no geral, você faz fonética. ### ### ### ( ) Essa matéria inclusive eu acho que é dada na economia também. Também na economia, mas na economia é diferente ( )  Eles englobam várias cadeiras de direito numa só. As questões de direito tributário ( ) pode falar, as questões de direito tributário constituem hoje um contingente enorme, apreciado nos juízos e tribunais. E realmente propiciam uma boa remuneração para os advogados. E o mais interessante Essas questões ( )  surgem por falhas da lei, por erros de lei ou por arbitrariedade da autoridade administrativa. Não deviam existir, não deviam existir. Eu dou um exemplo concreto, hum, ah  O imposto de ( )  de mercadorias, o i cê eme, hum, é devido à saída da mercadoria do estabelecimento comercial, industrial ou do produtor. A vez que a mercadoria sai, você paga o imposto. Quer dizer que então o imposto não era exigido em razão da entrada da mercadoria no estabelecimento, mas só pela saída. Entretanto, o Fisco passou a cobrar, no estado de São Paulo, esse imposto sobre mercadorias que eram importadas do exterior. Quer dizer, passou a exigir o tributo pela entrada da mercadoria no estabelecimento, quando a lei só falava em saída, uhum, e... E vários interessados, industriais, comerciantes, geralmente em firmas importadoras de Santos e tal, encaro comandado de segurança, e ganharam essa essa questão, né E eu tenho a impressão que muitos advogados fizeram sua independência financeira, porque essa questão se repetiu diariamente nos petróleos. ( ) Havia umas centenas. E o Supremo Tribunal Federal, que é o órgão máximo dos poderes judiciários, Entendeu? Pela unanimidade dos seus membros, em plenário e tal, uhum, que esse imposto estava sendo colado ilegitimamente no Estado de São Paulo porque não havia lei que autorizasse a cobrança do imposto na entrada, e sim apenas na saída. Depois de dois anos que a fazenda perdeu, perdeu inúmeras causas, sendo obrigada a pagar mais de advogados, de juros da morte, aí então o governo foi mandou uma mensagem à Assembleia Legislativa e foi foi promulgado uma leisinha que simplesmente dizia que o imposto era devido também pela entrada. E desapareceu essa fonte de lucro dos advogados, entendeu? E essa fonte de prejuízo para o horário público. Exclusivamente por uma falha de lei e tal, né, surgiu uma questão de direito tributário, que tomou um tempo enorme dos tribunais e tal, e que enriqueceu, talvez, muitos advogados. E ainda hoje continuam a haver ações nesse sentido, porque as empresas que não haviam impetrado, mas na segurança tinham pago esse imposto, estão reclamando a sua devolução, hum.... Com juros na mora. E a justiça tem entendido que tem direito à devolução, porque o imposto foi pago indevidamente naquela época, agora Agora, de primeiro de janeiro de mil novecentos e setenta e três para cá, quando passou a vigorar essa leisinha nova, pela Assembleia Legislativa, Aí, então, o imposto se tornou devido e não se discute mais o assunto. ( ) Bom

SPEAKER 1: : Até agora nós falamos sobre o direito, que seria a profissão de vocês, né Agora, vocês conhecem outras profissões, ãh, (tosse) tanto de nível superior ou de não nível superior, vocês conhecem, né? O senhor já falou sobre medicina, etc. E... No campo de medicina, por exemplo, haveria especialização também?

SPEAKER 0: : Rui, no campo de medicina há  a especialização, né.  No direito ( ) na medicina há. No campo de medicina há. Depois dos dois últimos anos da faculdade é especialização. Medicina são seis anos, normal, mais dois anos de residência. Na residência você faz determinado ramo da medicina. Obstetrícia, pediatria, psiquiatria

SPEAKER 1: : Você não conhece mais nada? O quê? Você não conhece mais nada? Conheço... ### Então... ( ) 

SPEAKER 0: : ### Eu tenho um cunhado, por exemplo, que é anátomopatologista. É uma especialidade ultra restrita, não é? Ele é professor em uma faculdade de medicina na capital, né. E E dessa cadeira de anatomopatologia, tem laboratório em que ele só trabalha nessa especialização anatomopatologia, Ele só faz biópsia. Os outros exames comuns de laboratório são outros médicos que fazem. Trabalha num hospital como médico interno, também nesse setor de anatomopatologia,. Então, é realmente uma especialidade muito restrita e tal Por isso que não haja muitos anatomopatologia, em São Paulo que só façam anatomopatologia, uhum Em compensação, tem outro cunhado que é médico no interior, é que faz clínica geral, ortopedia, cirurgia, ah ah,  programamento, porque não há quase especialista, necessidade de um centro pequeno e tal. Só não fazem especializações muito especializadas, como a otorrinolaringologia, Psiquiatria, que são  um ramo completamente diferente. ( ) Nesse caso, para mim, o cliente é especialista na capital ou em centros maiores. Né, mas na medicina, a especialização é quase que uma imposição nos grandes centros. Ao passo que o direito é relativamente pequena O número de profissionais especializados são poucos. E no início da carreira, é fundamental. Nenhum advogado faz especialização, hum O advogado, no início da carreira, ele advoga no ramo civil, criminal, trabalhista, administrativo, em todos os setores. Mesmo que ele não goste ( ) , por causa da concorrência que há na profissão. Depois, muitos se firmam em determinado ramo e tal. Há alguns que não, não trabalham em questões criminais de modo algum. E há outros que só trabalham em questões criminais. Alguns dos advogados mais conhecidos em São Paulo, nos meios leigos, são os que funcionam exclusivamente para o Tribunal do Júri. Fizeram nome nessa na Tribuna do Júri, fizeram fortuna, são conhecidos exclusivamente por esse fato. Hoje eles, a mais, são capazes de... quer dizer, é uma coisa inventada, uma coisa simples, não um despejo. Ainda que seja de valor grande, um serviço desse é tão fácil, eles mandam para outro colega.

SPEAKER 1: : Agora, por exemplo, se você tivesse que fazer uma relação enumerando as profissões existentes, não só do nível superior, as profissões que vocês conhecem, ãh quais seriam, hein?

SPEAKER 0: : Pedreiro, motorista, certo, certo? certo. Dentista, Padeiro, emprega doméstica, isso, (isso) farmacêutico, manicure, barbeiro  Se bem que o barbeiro está também já  vai se extinguir ### ( ) E ficaria o quê? Mer( )  Me( ). Ficaria o quê? ### Não ( )  É brincadeira. Porque os barbeiros realmente reclamam de que atualmente eles estão em decadência violenta. Porque muito menos gente perde o cabelo. Não, isso é ( ) Mas então,( ) 

SPEAKER 1: : E se, por exemplo, eu substituir o barbeiro?

SPEAKER 0: : A gente ( )  ( ) uma cabeleireira é  Quem tem cabelo comprido teria que ( ) cabelo bem tratado Isso. Mas é uma questão de mora, parece que vai

SPEAKER 1: : ( ) Mais algumas profissões?

SPEAKER 0: : Você conhece? É. Ah, então eu ( ) (riso) O número de profissões é enorme e tal, mas na hora sim a gente nem se lembra. Nem me lembro ### ( ) Os mais ( )  aí ( )  Marinheiro (riso) E tantas outras mais.

SPEAKER 1: : Escuta, o Rui, você não corta a barba já faz tempo, né? Não, não.

SPEAKER 0: : Faz vinte dias e

SPEAKER 1: : Então, e o que você usa para cortar a barba?

SPEAKER 0: : ( ) Claro, se eu fosse usar, se eu fosse cortar a barba, Ou iria no barbeiro, ou ia ter que tacar uma tesoura aqui, porque com gilete eu não faz.

SPEAKER 1: : Tesoura?

SPEAKER 0: : Tesoura.

SPEAKER 1: : Mas só tesoura?

SPEAKER 0: : Depois eu usava uma gilete (riso) Eu queria dizer,  ( ), justamente isso, que aí o Rui acabou de se referir à decadência dos cabeleireiros e tal, masculinos principalmente, né? que estão diminuindo e tal, e uma classe que tende, talvez, a desaparecer futuramente. Mas, justamente por quê? Uma boa parte corta cabelo, tem cabelo comprido e tal, ou corta de raro em raro. E os barbeiros hoje também têm muito menos serviço do que tinham, digamos, há trinta anos atrás e tal. Porque quase ninguém faz a barba no barbeiro. Há vários inconvenientes. É muito mais prático um aparelho elétrico do que o uso, não é? Ou mesmo o sistema de gilete, não é? O navalha ninguém usa mais hoje, porque é muito perigoso, exige muita paciência e tal, não é? uhum. Os barbeiros trabalham praticamente sempre com navalha. Hoje, então, os que usam barba grande não vão. O barbeiro quase nunca. A não ser para cortar, para parar a barba e tal. E os outros faziam a barba em casa e tal Então desapareceu uma grande fonte de atividade dos barbeiros. A barba feita na barbeira é muito mais bem feita e tal. Mas ninguém se dá o trabalho, não é? de ir a uma barbearia e ficar esperando vinte minutos. E depois a barbeira leva mais quinze para fazer a barba. E ainda tem que pagar. Quando com um aparelho elétrico em três  minutos a pessoa faz a barba (riso) ( )  ( ) Ah, agora. Ah, ah Ah, o reverso da (riso) medalha e tal. Ou por outro modo, o reverso da medalha. Porque aí é vantagem, não é desvantagem. ( ) O gostoso de ir a um barbeiro e ouvir as anedotas (riso), papinho e tal, contados inclusive por pessoas que a gente não conhece, é, que estão em diálogo com o barbeiro. Eu, por exemplo, sei de um colega que me disse, não, não vá cortar o cabelo, barbeiro, porque eu corto. Tem um barbeiro aí muito bom, ele vai à sua casa e e corta o cabelo de casa e não cobra muito caro. Não, mas não tem graça nenhuma, é tão interessante. E aí o barbeiro, a gente sentar lá e ouve a porção de coisas interessantes (riso), de entrevistas do barbeiro e tal, de coisas, de boatos, de anedotas que a gente não tinha a possibilidade de ouvir em outro meio. Casualmente a gente ouve lá, então é uma espera agradável. Não é como esperar no no na sala de espera de um gabinete dentário ou de um consultório médico, que é bem desagradável, não é? E todo mundo detesta.

SPEAKER 1: : Exatamente, agora  Agora, mudando o assunto, eu gostaria que vocês ãh... O senhor parece que já viajou bastante, né? Pelo Brasil  Pelo Brasil e exterior, etc. Eu gostaria que vocês contassem alguma coisa sobre viagens que vocês fizeram, tanto a trabalho como como recrea( ) 

SPEAKER 0: : Eu fui para o Recife, eu fui de carro. ( ) E antes de chegar em Recife, primeiro tinha que passar pelo Sergipe e a Alagoas, certo? Hum. E na fronteira do Sergipe Os estados são divididos pelo Rio São Francisco, certo?  ( )  ### O Rio São Francisco é que faz a divisa entre Sergipe e Alagoas. Do lado de Sergipe, diz uma cidade, e do lado de Alagoas, diz outra cidade. Propriá e Porto Real dos Colégios E como a cidade de Propriá era bem diferente dos estados que a gente está acostumado aqui no Sul a conhecer, era uma cidade totalmente diferente, bem singular. Então ficava na ( )  fica na porta da cidade esperando o turista chegar para falar, deixa que eu levo você até o rio, ah...  Entendeu? Então eles levam você até o rio e você dá uma graninha para ele. Entende? E aí eles não falam oito, né? Eles falam oitxo, ah. Certo? E era dia oito, o dia que a gente estava viajando. Eu e o colega meu E daí a gente perguntou, que dia que ( ) quer voltar?  A gente estava em dúvida, né? A gente estava viajando, não estava muito ligado no dia. Daí o menininho falou, é oitxo. Daí a gente falou para ele, ó Tchô. Daí a gente falava assim, fala oi. Ele falava, oi. Agora a gente fala, fala tô. Ele falava Tô Agora a gente fala, fala, liga os dois. Oito  Ele falava, ó Tchô (riso) Conseguiram falar oi.

SPEAKER 1: : Escuta e você,  aconteceu alguma coisa?  ### Com vocês assim ãh, ou conhecimento assim, eh, alguma coisa 

SPEAKER 0: : Ah, nesses ( ) vocês foram foi  muito rápidos viu Não foi condicionado de putoresco, não. No Paraná, aconteceu. ( ) Quer dizer, não pitoresco assim no sentido de fazer  Mas a gente ficou numa cidade perto de Paranaguá, uhum. onde a gente  A gente dormiu em umas em umas casas de madeira, uhum, que as pessoas que moravam lá, era uma vili( )  ( ) Uma vilinha de madeira, com várias casas de cada lado. Pagava três contos para dormir. Porque o ano retrasado é bem barato, né? Hum. E naquela vizinha só morava marinheiro aposen( )  Sabe? Todos os boêmios faziam comida lá para fora, sabe? Mas marinheiro do sul, ( ) A gente sempre se volta para o norte, né? É um marinheiro totalmente diferente, sabe? Mais ligado ao rio também, ao rio Não  Mar Rio Paraná E eles têm uma vida completamente diferente do que a gente pode imaginar ( ) interessante, você disse 

SPEAKER 1: : marinheiros mais ligados ( )  O a , ao Sul, ao Sul? ( ) 

SPEAKER 0: : ### ### Mas   Quando você fala marinheiro, eu posso ler o livro de Jorge Amado para ir para cima. Não é, é completamente 

SPEAKER 2: : ( ) 

SPEAKER 1: : (riso) Escuta, agora, você que disse que foi com um amigo, né? Que ( )  Que tipo de transporte vocês usa( ) 

SPEAKER 0: : Ah, a gente foi de carro. Ah ###

SPEAKER 1: : Em meu carro. É? É.  Agora, você nunca viajou ( ) em outro transporte, assim, por outro meio?

SPEAKER 2: : Só de carona.

SPEAKER 0: : Carona? De (riso)  avião eu nunca andei Eu nunca andei de avião, não, nun( )  Não, nunca andou. Nunca andei de avião. Andava muito de trem quando andava no interior, né? A gente vinha para São Paulo e voltava de São Paulo de trem ( )  de carona, já.

SPEAKER 1: : E você encontra assim uma certa facilidade em dar carona?

SPEAKER 0: : Porque aconteceram  algumas coisas aí... Mas acontece que o tempo que eu andava, andava de carona, eu andava de carona em sessenta e três, sessenta e quatro, sessenta e cinco, morava em Mugir, uhum.  Naquele tempo não tinha esse instituto da carona. Ninguém pegava carona. Inclusive não pegava carona, não pegava carona em Guatuba, em San Sebastião. Quase ninguém pegava carona ( ) então Então não havia essa essa troca. Mas agora? Agora eu não sei porque ( ) 

SPEAKER 1: : ( ) (riso) Ãh, então o senhor viajou um pouco mais que o Rui. O senhor poderia dizer alguma coisa? ( ) ( ) Ou alguma coisa de interessante mesmo? Meio de meio de transporte que o senhor

SPEAKER 0: : Usou. Eu não viajei tanto assim. Eu costumo viajar apenas Durante as férias no mês de janeiro, e a minha viagem nunca tem durado mais de quinze dias e tal, mas como eu não conhecia nenhum outro estado do Brasil, a não ser de Minas Gerais, porque eu não conheço Uberaba, Sacramento, Poço de Caldas, então eu resolvi viajar para outros estados a fim de conhecê-los. Fui de automóvel a primeira vez, Até o Rio Grande do Sul, uhum Fui pelo litoral e voltei por dentro. Fui pela praia e voltei pela serra. Naturalmente fui parando durante a viagem, senão seria muito cansativo, né.  De São Paulo fui direto a Registro, no sul do estado aqui. Almocei em Registro. De Registro fui a Curitiba. Cheguei a Curitiba mais ou menos às cinco Tinha saído de São Paulo de manhã. Almocei em Curitiba, e em Curitiba eu estive uns quatro dias, e em Curitiba eu fui, então, a Vila Velha, conheci as ruínas famosas de Vila Velha, para Paranaguá, que eu passei muito bonito, onde há um uma estrada de ferro que passa por um viaduto de uma altura descomunal, lugar em que aconteceu um fato histórico, que até hoje é lembrado por razões de órgão política, no tempo do Império, foi atirado do trem, dos soldados, um barão de Serra Azul, que até hoje ainda existe uma cruz, uma grota, muito longe e tal do local onde ele caiu e tal, eh, (riso) Foi assassinado por ordem política, ou do governo da época, por razões de ordem política. Isso em Paranaguá. Essa descomunicação de Curitiba para Paranaguá Pode ser feito também por rodovia, que é asfaltado, em outras condições e tal. Mas todo mundo prefere de trem, que é muito mais pitoresco. E há umas vitorinas confortabilíssimas, com água gelada, ar-condicionado, poltronas  reclináveis e tal, não é?  Vão lotadas. Não me lembro qual é o tempo que leva, mas eu tenho que ir nem uma hora de Curitiba ao Paranaguá. Paraguá é uma cidade famosa por seus camarões excelentes, uhum.  Porto  importante. Estive alguns dias então em Curitiba. E, em Curitiba, fui até Florianópolis. Não gostei muito da capital. Oxente é uma capital de segunda classe, né, fiquei apenas um dia lá. Mas estive também em outra cidade, em Santa Catarina, em Joinville, ãh,  Blumenau. De Blumenau gostei tanto que fiquei três dias lá. Uma cidade pitoresca que lembra muito a cidade da Alemanha do Sul, com construções típicas, uma catedral moderna muito interessante, uma cidade adorada. Ah, eu me lembrei agora de que em Florianópolis, a respeito de Florianópolis, há uma piada É o seguinte, em Florianópolis, a única coisa que tem de interessante é a ponte, o estilo luz, uma ponte suspensa, muito bonita, onde passa o navio para baixo, não é?  E essa ponte liga Florianópolis a Desterros. Então, dizem lá que a ponte liga nada ou coisa alguma. (riso) né (riso) Eu continuei a viagem em direção a Porto Alegre, estive quatro ou cinco dias em Porto Alegre. Gostei muito da capital, é muito boa, não é? hotéis confortabilíssimos, belos restaurantes e tal, mas não tem assim muitos passeios turísticos e tal, do que eu me lembro. E voltei depois ãh por outra estrada, através da serra, e então me detive dois dias em Caxias do Sul, terra de excelente vinho, boa cidade também, clima europeu, não é? e prossegui até chegar em São Paulo. Essa foi a primeira viagem que eu fiz fora do estado aqui, depois de adulto. Aliás, não foi bem a primeira, porque alguns anos antes eu tinha estado em sete quedas. Essa é uma viagem muito pitoresca, do mal que eu fiz, porque eu não fui do automóvel, fui de trem até Porto Epitácio. Em Porto Epitácio, peguei um vaporzinho que leva três dias para descer o rio. Na volta, quatro dias para subi-lo, né.  Esse vapor era da Companhia de Navegação da Bacia do Prata. É muito... É um vapor modesto, mas confortável. Tem água quente, comida muito boa, ( ) razoáveis e tal. E comporta trinta e poucos passageiros. Então... E ele vai movido à lenha. Então vai descer no rio lentamente e tal, e de uma margem do rio, ãh estados de Paraná e de outro lado, Mato Grosso. Por isso que eu digo que é outro estado, porque a gente descia nas margens do rio e tal. Cada vez que o vaporzinho parava, a gente descia para ver qualquer coisa. Eu me lembro que o caçador de uma onça, estava a onça dentro de uma jaula, todo mundo desceu para ver e tal. Do outro lado, o vapor... Parou para receber lenha e todos desceram para comprar frutas e tal, e conversar com pessoas que moravam lá. E fui até Sete Quedas. Da volta eu voltei pelo menos, lá fui eu, em quatro dias. Estive também adiante de Sete Quedas, na cidade de Guaíra, onde nos ofereceram um bairro, Guaíra, bem próximo ao Paraguai. Há muita muita gente que fala meio espanholado. Inclusive, eu achei interessante, que as pessoas, em vez, os homens tratados por senhores, tratados por Dom, ah O que nos ofereceu lá, o bar era Dom Carlos. Todo mundo era Dom.

SPEAKER 1: : Por exemplo, o senhor já viajou com outros meios além disso?

SPEAKER 0: : Estive recentemente em Recife e em Salvador. Eu fui direto a Recife e na volta para Salvador. E essa viagem eu fiz de avião. ###

SPEAKER 1: : ###

SPEAKER 0: : Estive... é uma viagem muito confortável. Né, excelente  Fiz até a barba a bordo com barbeador elétrico, tal  Distribuí em cigarros, revistas, jornais, que a gente pode conservar, uhum  Bebidas, (palmas) uísque de cores. Um tratamento muito bom, tal, u Houve um pequeno atraso, meia hora mais ou menos. Eu sei que em outros roteiros, o atraso da vaspi é grande. Tem acompanhadas pelos jornais e tal. Principalmente para Brasília. Né, há pouco tempo até o ministro do Supremo Tribunal Federal desancou a vaspi nos jornais. E vi também um caso de um cirurgião que perdeu uma conferência e chegou atrasado e tal. Nesse roteiro que eu fiz, São Paulo-Recife, da volta a Salvador, o atraso quando lá é pequeno. Às vezes o avião chega pontualmente e tal. Eu já conhecia, já tinha viajado de avião anos antes, no tempo em que eu era advogado, nessa era da magistratura, e viajava sempre de avião a serviço. E estive, nessa ocasião, estive no estado do Paraná, em em Londrina. Fui também de avião a Presidente Prudente, a serviço, ( ) , de outros lugares. ### ### Viajei muito de trem, quando era juiz do interior, porque gosto muito desse meio de transporte, prefiro o ônibus.

SPEAKER 1: : O senhor descobre   alguma diferença básica entre o ônibus e o trem?

SPEAKER 0: : Eu acho que o trem é muito mais agradável do que o ônibus e tal. E, em certas circunstâncias, muito mais confortável. Além de transportar o número de passageiros comparavelmente maior. Muito mais confortável porque tem livre movimentação dentro do trem, né, e Eu dou um exemplo. Eu fui de substituto com sede marinha. Um ano e oito meses de marinha e tal. Então, todo fim de semana eu vinha para capital, onde já havia ficado a família. Acaba de sexta. Sexta, sábado e domingo. São Paulo e voltava segunda-feira para Marília. E essa viagem era muito confortável porque eu vinha de leite de Marília até Bauru. Dormindo. Tinha um um restaurante muito bom e com preço bastante razoáveis, uhum.  Então a gente já pegava o trem e ia diretamente ao restaurante. Comia, virava cavalo muito gostoso, tomava uma cerveja e tal. Depois comprava um policial na estação e ia lendo até até chamar o sono e depois a gente vinha dormindo até Bauru. Em Bauru havia baldeação, hoje não existe mais e  Mas continuávamos, era muito confortável, mais confortável até, porque ali a vitória era larga, uhum, até São Paulo. Dentro, dentro do trem, eu posso ler, posso escrever, posso andar. Desço das estações. Eu gosto tanto do trem, que há pouco tempo eu fui assalto do trem pelo caminho mais longo. Poucas vezes talvez eu tivesse feito essa viagem. Esse trem vai até a Itaé.

SPEAKER 1: : Qual é, o ( ) Cabana? É

SPEAKER 0: : ### Fiz essa viagem também. Faz pouco tempo, faz dois meses. Levei três horas e meia de São Paulo a Santos e tal. Passei por trinta e tantos viadutos e trinta e tantos túneis. Os túneis são numerados, então é fácil de acompanhar. Se não me engano eram trinta e três túneis, né.  E gostei muito dessa viagem. Agora, o Rui  estava falando a respeito do subúrbio e tal. O Subúrbio, de fato, é um trem horrível de se viajar, não pelo trem em si, mas porque viaja superlotado. E com gente de de pouca educação, quase que nem de trem. Então, é uma viagem sacrificada. Mas, mesmo assim, eu residi no Rio das Cruzes durante quatro anos. Depois disso, lecionei uma faculdade lá durante dois anos e meio. Então, viajei algumas vezes de subúrbio e tal. E eu observo o seguinte, que a viagem de subúrbio de São Paulo ao Rio das Cruzes, hum, leva uma hora e vinte, ou no máximo, uma hora e vinte e cinco. De ônibus de São Paulo ao Rio das Cruzes leva duas horas. Quer dizer, então eu prefiro ir de Luz da Cruz no subúrbio, que não não vai lotado do que ir em ônibus, mesmo que seja para viajar de pé. Sendo que além do subúrbio, daqui para Luz da Cruz, há outros outros tipos de de Existe uma litorina, que é um passagem um pouquinho mais cara, e essa também às vezes loca, mas o tempo de viagem é bem menor, leva uma hora e dez, se invés de uma hora e vinte e cinco, e o Expresso Alvorado, que é o melhor de todos, Esse vai em cinquenta minutos, faz apenas quatro paradas e tal, que era o trem que eu usava quando era professor lá, ah Eu acho que a diferença fundamental é que eu tenho, primeiro, é mais confortável. Segundo, transporta muito mais rápido o passageiro. Terceiro, é muito mais seguro, muito rápido o desastre do trem e tal, não é? E, além disso, eu não vou mais reclamar do que estava. Eu tenho conhecimento de que, na Europa, todo mundo que se preza faz as viagens longas de trem. Ninguém faz de ônibus. Não é como aqui, que a pessoa vai de São Paulo, para a presidente Prudente, antigamente ( ) levava mais de vinte e quatro horas.  A pessoa faz uma viagem de ônibus. Quer dizer, na Europa, pelo que eu sei, as viagens de ônibus são reservadas para os roteiros curtos, uhum, dois, três horas de carro, não é? As viagens de trem, também por causa do conforto que proporciona e tal, são reservadas para os roteiros mais longos.

SPEAKER 1: : Você queria falar alguma coisa? ( ) 

SPEAKER 0: : Não, é que tem trem bar, né? Tem trem bar, então você pode ficar andando, né? ( )  ### ### Mesmo no subúrbio, todo trem tem bar. E hoje eu tenho estudantes de lá para lá, várias faculdades. Mas já no tempo que eu comecei a resumir lá, que não havia faculdade ainda, já havia esse trem. E naquele tempo ele tinha um barzinho. O carro central tinha um bar com sanduíche. socos, ( )  de bancos altos. Então era uma viagem agradabilíssima, não é? Mas eu me lembrei agora de outro meio de transporte interessante que eu vi alguma vez, uhum, o barco por mar, (riso)

Inf :elizmente eu não fiz viagem transatlântico até agora e tal (  )  Tenho vontade de fazer ( riso) no futuro breve Mas quando eu fui em São Sebastião, em ( )  Eu aproveitei para viajar bastante, nem que fosse brincador de motor de popa, né, ah... E muitas vezes, serviço, eu usava esse tipo de condução e tal, né Eu vim trazer a minha filha, a ilha ( )  Ilha dos Búzios, Ilha Vitória, São Retirada, São Sebastião. barco de pesca para ouvir testemunhas. As testemunhas deveriam ter ido à sede da comarca depois, aí não precisaria me locomover. Mas como era muito mais agradável eu fazer essa viagem, aham, eu então vim ouvir testemunhas em loco. Consegui, a condição ( )  é muito cara, mas consegui com o prefeito ( ) que arranjasse um barco de pesca ( ) e me dirigir ao local. Até acontece que havia necessidade de um advogado estar presente. Testemunhas tinham sido escritas, testemunhas a respeito de uma briga e tal, que tinha ocorrido na comarca de Batumba. E essas testemunhas residiam na ilha Vitória, que é a comarca de São Sebastião. Então havia havia necessidade de estar presente um advogado. Mas no momento o senhor se preocupou com o problema do barco, de conseguir a condução e tal, né, que era cara e não era fácil de conseguir, né, uhum.  E almoço para a tripulação e tudo, porque a viagem de volta era demorada, levava mais de duas horas. e não se lembrou do advogado. E quando chegou lá na ilha Vitória, na hora de iniciar a condição, escreveu que era advogado. Não havia informado. Então ( )  advogado. Então, ele tinha que nomear um advogado, mas não havia ninguém informado. Agora, a lei permite, em casos estranhos, se nomeia um leio e tal. Então, foi nomeada a defensora dela como professorinha da escola local. Ela ficou muito preocupada, muito nervosa e tal (riso), mas eu dei instruções sobre como ela devia agir para defender o acusado. O caso era muito simples e tal. Se ela tivesse perguntas para fazer a testemunha, não beneficia o acusado que ela ia defender e tal. Se não tivesse, ela não fizesse pergunta nenhuma. Né, se tinha alguma impugnação com a testemunha, por tratar de ( )  ou outra coisa e tal, ela não precisava fazer nenhuma nenhum arrasoado. Era apenas assim. Fiscalizar o ato da infelição e o benefício daquele acusado. E ela saiu bem e tal Eu acredito até que o acusado esteja absorvido. Não fui eu que o julguei, porque o processo era com a marca de Ubatuba. Ele deve estar absorvido. Mas sempre que eu tinha oportunidade, eu viajava por ( ) Inclusive, em uma ocasião, eu fui... Quando eu não morava mais lá, fui convidado para um passeio, ãh Ponta... Ponta do Fralho? Acho que é Ponta do  bem retirado da costa. Leva cinco ou seis horas e tal. E quem me fez esse convite foi o capitão do porto, que tinha comprado um resto, um casco, não sei como é a expressão técnica, de um barco que havia encalhado. E ele, então, foi lá, procedeu a operação do desencale. Alugou um barco de perto e lhe convidou para o passeio. E eu me levantei de madrugada, quatro horas da manhã, enfim, ( ) Levei o ( ) , coisa, mas depois ( )  providenciaram peixe, que eles estavam preparando maravilhosamente, peixe da brasa, peixe espada, essas coisas e tal, com pirão de banana verde, os caçaras  são peixe azul marinho, com cada cor, banana verde, ah... E almoçamos lá e tal. E eu aproveitei, então, para tomar banho de mar, nadar e tal, passear lá pelo mato, é um lugar completamente abandonado, não tem... ( )  ( ) pessoas É do estado de São Paulo. Pertence ao município de São Sebastião. Ah, agora ( )  É Litoral Norte. Agora, é do lado de lá da ilha de São Sebastião. Não é do lado do continente. Eu já fiz até a volta inteira à ilha, de barco. Leva várias horas. ( ) Ilha Bela ( ) do outro lado da Ilha Bela 

SPEAKER 1: : Oceano aberto. É interessante porque eu acho que esses lugares, tanto... Esses lugares todos podiam ser ( )... o turismo podia ser incentivado, não?

SPEAKER 0: : Isso, o governador aí está a fim de fazer isso mesmo. Mas eu acho que isso seria um futuro bem remoto, porque esses lugares são completamente ( ), não tem nada e tal. Eu conheço bem aquela zona lá. Aliás, eu tenho até uma experiência interessante lá. Eu fui instalar dois cartórios. Eu instalei quatro cartórios que... Haviam sido criados quatro anos antes e não podiam ser instalados porque ninguém queria ser escrivão nesses católicos, né, ah... Então, precisaram ãh fazer uma lei estabelecendo que, em vez de ser preenchido por concurso, seria de livre provimento do governo. E gente esperta viu nisso uma possibilidade de galgar um legal para promoção e tal. Usaram o católico como trampolim. Então, aí foram providos os quatro cartórios. E eu e eu estava... Isso foi no ano de mil novecentos e cinquenta e dois. Eu fui criado em mil novecentos e quarenta e oito. ( ) nem juiz eu era ainda, em cinquenta e dois então, eu fui fazer a instalação  E o desses cartórios era um lugar chamado... Ãh, eles conhecem por Sombrio, lá. Como é que é nome? Mas o nome certo, lá? ( )  Aí não me lembro o nome exato agora, me esqueci. O nome geográfico hoje. Mas era conhecido por Sombrio, Bahia do Sombrio. É do lado de lá da igreja de São Sebastião e E um lugar que não tem recurso nenhum, não tem conforto nenhum. Então o escrivão que tinha sido nomeado pensou que eu não iria fazer instalação, que eu assinaria depois o termo de instalação, publicaria os livros do cartório e não iria lá. Mas eu, não só por ser minha obrigação ir lá instalar, como a lei mandava, como também porque gosto muito do passeio por mar, uhum, disse, o senhor pode aprontar a lancha, o motor, que nós vamos lá instalar o cartório e tal. Então ele comprou os livros, pagou os selos e tal. E fomos, ãh E eu, o escrivão-geral assinomeado, o escrivão auxiliar do juiz e tal, e o oficial de justiça, e outras pessoas e tal, fizemos essa viagem lá. Levamos várias horas até chegar lá, ao novo distrito, o distrito de Passo. No cartório de registro civil.  Nascimentos, casamentos e óbitos. E pode também, nessas cidades novas, passar escrituras de venda, de doação. Então, ah, quando chegamos lá, A lancha-motor não podia ir até a praia, porque as ondas eram muito fortes e tal Então, a lancha fica fica longe, não digo mar aberto, mas mais ou menos longe da praia, e vem um um barco a remo. ( ) Você se desembarca pelo barco a remo. E na hora de descer, vão com areia, só pedras e tal. Praticamente não há praia. Com aqueles bichos e tal, andando, não é? Então, se você tirar os sapatos e tal, os embacates, as condições de acesso, dificílima. Chegou lá, onde instalar esse cartório? Um lugar miserável. Haviam... Estavam lá umas vinte e poucas pessoas e tal, pescadores, que viviam, inclusive, da pesca. Tinha plantações de mandioca, de milho, essas coisas. Carro construído de pau a pique. Então, procurei uma chave, um lugar, um escrivão que teria de providencial nas suas expensas, mas não havia prédio. Então, o único prédio que havia ( ) era a escola, que havia crianças. Essa escola era municipal, e era feita de pau a pique, barro e pau a pique. E a professora da escola tinha sido empregada doméstica Ela não era professora anual, isso não tinha o custo normal. Ela tinha apenas quatro anos de primário, custo primário completo. que chamavam de professora leiga e tal. E foi designada para alfabetizar. Estava lá. ### Então, instalou-se, ficou uma mesinha e tal. Foram publicados os livros, lá ( )  os termos de instalação. E, com toda a solidariedade, foi instalado o cartório. E o Escrivão ficou lá. E nós voltamos para a comarca de São Sebastião. Ficou oito dias lá. Depois desses oito dias, saiu a promoção dele. Esse é o objetivo de aceita, cara. para a comarca de Santa Isabel, onde está até hoje e  E, nesses oito dias que ele esteve lá, não encontrava gente que lhe desse nem um café, porque ele não tinha o que comer, não tinha nada.

SPEAKER 1: : Provavelmente não existia uma igreja?

SPEAKER 0: : Não, nem igreja havia lá, ah, não Não havia igreja nenhuma, nem capela. Se houvesse, talvez aquelas capelinhas, que tem onde mora gente e tal, com aquela cruz e casa assim, na beira da estrada, né? Mas uma capela que ( ) , não havia padre, não havia nada. E há muitos lugares da Sena Eleitoral, esse é um deles que me lembram. Esse esse cartório, as condições eram tão precárias, que precisou ser extinto depois. Quando esse escrivão, oito dias depois, foi promovido para outra comarca melhor, Santa Isabel, eu tinha que nomear, então, alguém para ficar no lugar dele. Então, precisaria ser uma pessoa alfabetizada que morasse no local e tal E eu procurei procurei a ( )  funcionar na  ( ). Não só não podia, como não podia, porque era proibido a acumulação de cargos públicos e tal, hum Então, eu não não tinha solução. Então, a única solução que eu achei, prática, não solução legal, foi transportar os livros do cartório para o distrito mais próximo, que era o de Irapela, para que fossem escriturados lá. Enquanto não era extinta o distrito. E propus, por ofício, ( )  a proposta de extinção do distrito, que era inviável, e que só havia sido criado para os eleitores, para instalar a mesa eleitoral sobre eleição e tal. Coisa que eu nunca penso, porque lá não tinha elementos para isso, nem para focalizar nada. Deve ter sido criado só para os eleitores. E o cartório até hoje não existe. Eles criaram aquele cartório lá, entendeu? E não existe, porque os livros continuam sendo escriturados em Ilha Bela até hoje. A escrivã em Ilha Bela ficou ( )  Se bem que a escrituração deve ter sido resumidíssima, porque lá ninguém se casava, né. Os casais se juntavam e tal, né. E e nascimento não registrava também, nem óbito, não tinha médica ou coisa nenhuma. A pessoa é enterrada, não tem cemitério, não tem nada. ### A escritura pode ser lavrada em qualquer cartório, em qualquer local, não é? Ah, tá. E o registro era no centro da comarca de São Sebastião, hum. Isso se a pessoa achar que é um lote interessante e tal. A outra zona territorial que está em problema com o desenvolvimento e tal, mas na costa, não na ilha propriamente, que eu tenho conhecimento, na costa, O lugar em que eu citei o caso da caveira lá, a praia de Marezias, lá se, se não me engano, só tela existencialmente. A praia da Baleia, disputadíssima, grandes questões de terra, questões judiciais, por causa da valorização da praia da Baleia. E é somente depois que abriu a estrada que liga São Sebastião à ( ). Há pouco tempo, no mês de... Em fevereiro, eu estive, no restinho de férias, nove dias em Ubatuba. Eu procurei, indo por essa estrada de São Sebastião até ( ) e tal, ah... Mas não não consegui. A estrada é péssima e tal. Leva várias horas e tal. Cem quilômetros leva leva mais ou menos umas quatro horas, ah...  Cheia de buracos, a gente precisa sair muito cedo e coisa Eu tentei duas ou três vezes e acabei voltando. Em compensação, a natureza é maravilhosa. Porque, de um lado, o mar, né? A gente tem um panorama muito bonito. Do outro lado, são cachoeiras, aquelas águas e tal, né? Então, eu fui mais lá para esse fim e tal. Eu tentei e ultrapassei essa praia de maresias Ia até mais mais adiante e tal. Mas, depois, não conseguiu. Não consegui porque eu ia chegar lá à noite fechada. Fiquei fiquei com medo. A estrada não tem recurso nenhum. Aliás, pouco antes, eu tinha lido uma notícia do estado de São Paulo, de surpreendente turístico, ah, de uma reportagem feita sobre essa estrada. Muito bem feita, cobrindo quilômetros por quilômetro. Mas ele exagerou quanto aos perigos da estrada, hum...  Diz que ninguém podia viajar naquela estrada sem a tal cinto de segurança, entendeu? ( )  Com os buracos, abria a tampa do cofre do carro. do porta-malas e tal, de peças soltavam. De fato, a história é péssima, mas não é tanto assim como ele falou. As pontes eram perigosíssimas, que, para passar a ponte, você tinha que se engatar aí primeiro e seguir em frente sem descer, olhando a direção dos faróis e tal ( )  E eu li essa reportagem e a minha filha, que tinha ido comigo, disse assim, você teve coragem de ir lá depois de ler isso aí e tal, que ela não queria prosseguir, né? Nós fomos três vezes porque achamos muito bonito e tal. Mas lá no litoral, Essa aí essa parte tem possibilidade de turismo e tal, porque é bem perto da costa. Mas lá na ilha, o acesso é muito difícil e tal. A própria ilha de Ilha Bela e tal ocupa uma área muito pequena, uma área útil. O resto ali ( ) , no centro da ilha, é matagal. ### Não havia ferry boat, porque não havia automóvel nenhum, ah Apenas a prefeitura tinha um caminhãozinho velho que tinha sido levado de navio para lá. Então, não tinha estrada nenhuma, ( )  Quer dizer, a população que morava, então, naqueles pontos, na margem, da da periferia, só podia usar a canoa remo, porque eram muito pobres e não podiam comprar um motor de ( )  e tal. Por terra não dava. Matagal. Só pescadores identificavam picadas e tal. Agora, no governo do Jânio Quadros, que frequentava muito Ilha Bela, ele mandou abrir uma estrada lá. E essa estrada vai até as pontas das canas de um lado, já fui por ela várias vezes, e do outro lado, não sei até onde também. Mas, nessa ocasião, o governo nomeou uma comissão para apurar as condições de vida do caiçara, aquele tal, e ficaram estarrecidos de vê-lo. As condições precárias de vida. Aliás, lá em São Sebastião, no meu tempo, diziam que essa gente vivia uma vida tão primitiva, que a linguagem deles ainda era português castiço. Eu me lembro de ouvir uma testemunha disso. O Emílio? ### ### ### Eu me lembro de uma testemunha que foi depois do juízo, que era da da Boniteira, um lugar chamado Boné, lá na ilha, na periferia da ilha. Eu e eu falei para o testemunha, por que que o senhor deu um soco no homem? Ai ele me agravou (risos) E aquelas mulheres analfabetas ( ) , onde ides? ( )  Vôs não fostes a tal lugar ainda. Né, impressionante. Ele era professor da gente na universidade. Ele gostava muito de acampar, sabe? Então ele precisava fazer esses levantamentos, né? Sob a língua dos caiçares, e a gente ia acampar com ele nesses lugares, e ele fazia o levantamento. Depois escreveu a tese com isso aí. Ele não sabia que ia dar em nada, no fim

SPEAKER 1: : ( ) Interessante, porque não sofre influências, né? ( ) retirados assim 

SPEAKER 0: : Não sofre porque  quase ninguém vai lá e tal, não tem contato com quase ninguém. Outra coisa que eu ouvi dizer, não sei se é verdade, estava escorria lá, que essa gente tinha hábitos tão antigos que ainda vivia quase no tempo da Bíblia. E quando eles tinham uma desgraça, uma desventura muito grande, eles rasgavam as roupas. Não vivia na Bíblia. Rasgaram seus vestidos e tal, (riso) ensinavam os outros. Não vivia muita coisa dessa gente e tal Eu tive até um processo, uma ocasião, um processo criminal relativo a uma briga que aconteceu na maricha. nesse lugar Bonite, que é um lugar muito atrasado. Houve briga lá e quebraram a cabeça de gente. Ah, então, a polícia ( ) não foi lá, que era muito longe, mas teve conhecimento do fato e eles tiveram que ir até a ilha de... Ilha Bela Muito longe, né? A Remo. Acho que levava um dia inteiro, talvez mais, para responder os alugatórios. E foi feito isso, e o processo foi para a Comar( )  Então, ah, acontece que o lugar é muito pequeno, e as testemunhas, quando acabavam de depor, acabavam confessando que também participaram da briga. E passavam a ser iniciadas, entendeu? Então, foi aumentando o número de acusados. No final, não havia mais testemunha nem vítima. (riso) Todos eram acusados, entendeu? E acabaram por serem todos absolvidos, e tal.

SPEAKER 1: : A população de vinte pessoas, né?

SPEAKER 0: : Eu absolvi todos e, em consequência, fiz umas considerações para a população de pessoal lá, e disse que a maior perda para eles Era preciso que que viajasse de lá até São Sebastião para depois (riso), de medo de ser preso e tal, porque era um sacrifício bárbaro e tal. Levar um dia ou dois, ficar no a remo, para estar deprimido, etc., ( ) o processo

SPEAKER 1: : E por aí, apesar de ser aqui, lembra um pouco de Jorge Amado mesmo, como o se  ( ) colocou né Agora, por exemplo, nessas andanças todas, nunca aconteceu alguma algum fato assim de quebrar automóvel, etc.,  Com vocês, nun( )

SPEAKER 0: : Com o Volkswagen, né, moçinha? Quebra mesmo. (riso) Ah, quebra mesmo? (riso) É, eu também não me lembro, e tal. A primeira viagem que eu fiz no Rio Grande do Sul, a única coisa que que houve com o carro foi um estouro de um pneu. Me lembro de ter... Acidentes, panos e tal, só que por perto e tal (riso) Longe eu não me lembro o que eu corri. Como é que isso é? É uma questão de sorte puramente ( )  O pessoal não está sujeito a essas coisas. Ou pelo menos se espera.

SPEAKER 1: : Agora, por exemplo, aqui em São Paulo, problema de trânsito. Como vocês colocariam a coisa? Em Rui

SPEAKER 0: : Eu tenho minhas ideias a respeito de de trânsito, né Inclusive eu acho que o... nem quando começo, nem quando começo a funcionar. Estamos aqui para isso (riso) Plenamente (riso) Não vai melhorar muito o problema de trânsito ( )  A crise do trânsito tem várias causas, né.  Não só a desobediência às leis de trânsito, como também o grande número de veículos e tal, coisa que todo mundo sabe. Mas eu acho que se houvesse um pouco de colaboração, uma outra mentalidade por parte da população ah, talvez pudesse melhorar um pouco ( )  ### A maioria das pessoas da classe média, principalmente da classe média alta, né, que trabalham no centro da cidade, vão de automóvel. Então é uma pessoa que vai em um automóvel, geralmente parando no estacionamento, entupindo o trânsito. Essa pessoa podia, perfeitamente, ir de ônibus ou de outra condição. Táxi não se pode ir para lá porque é um bicho raro aqui em São Paulo.

SPEAKER 1: : Vai ser aumentado?

SPEAKER 0: : Vai ser aumentado. Aliás, eu acho que o aumento ainda não é o justo. Essa é a minha opinião firme. Eu não abro mão de que os motivos de táxi são muito injustiçados. Porque o o o táxi não tem uma tarifa compensadora. E por isso é que não tem facilidade para encontrar táxi. E eu sempre penso nas dificuldades com que a gente pode ficar num caso emergência, caso grave e tal, e não tendo tomar o vinho casa, é para conseguir um táxi. Se uma pessoa sofre um acidente, quebra o braço e tal, né,  precisa de um ponto de socorro, vai à esquina e não apanha um táxi, qual é a situação? Não é possível chamar uma ambulância. Com a tarifa baixa como está, não existe táxi nem para o pobre, nem para o rico, nem para o imediato, nem para ninguém. O passo é se a tarifa fosse compensadora e tal, as pessoas teriam taxa quando precisassem. Porque aqueles que ganham salário miserável, eles não pegam de jeito nenhum, nem agora, nem antes, nunca poderão pagar táxi, né. Mas pelo menos aqueles que têm condições de pegar táxi, condições econômicas, quando tiver necessidade, poderão pegar, se a tarifa for mais compensadora e tal. ( ) Esse aumento que houve, de bandeirada para dois cruzeiros, eu ainda acho insuficiente e tal Para quem pode pagar táxi Tanto faz pagar cinco como dez cruzeiros. Você precisa ter táxi. E para quem ganha quinhentos cruzeiros por mês, não adianta o táxi custar três nem dois cruzeiros. Porque não pode pegar mesmo.

SPEAKER 1: : Acho que tem um jeito de nem pegar o ônibus, viu? Porque também, a partir de amanhã, o ônibus vai ser aumentado a setenta centavos, é, setenta centavos

SPEAKER 0: : Então... Mas voltando ao trânsito e tal, quer dizer, então, se houvesse uma outra mentalidade, como lá em grandes centros e tal, da imposta da vida, de boas condições econômicas, não vão trabalhar com seu trabalho particular. Vão trabalhar no metrô, de ônibus, de outro jeito e tal, né.  Porque não compensa ter problemas de estacionamento, a gasolina é cara, várias coisas. né.  Mas aqui ainda há essa mentalidade e tal Outra causa da dificuldade do trânsito é o fato de algumas mulheres dirigirem sem necessidade, tinha, nas horas de Na parte da tarde, principalmente. É sabido,  não é? que que muitas saem para comprar um carretel de linha, alguma coisa significante, um batom e tal, saem da sua moto. Alguém já disse até que se as mulheres não participassem no dia de semana, o trânsito ia reduzir para metade. Ficariam mais ou menos como homens feriados e tal. Isso principalmente nos bairros, não tanto no centro. Porque nos bairros também o problema do trânsito já está se tornando crucial. em várias ruas ( ) , está insuportável. ( ) Em Pinheiro, na Lapa, no Brás, toda parte praticamente, né.  Agora, outra causa conhecida é o estacionamento em ruas proibidas, né. Coisa que ninguém obedece, não adianta não adianta coisa nenhuma e tal. Então o trânsito flui muito mais lentamente. Na Avenida Santos, por exemplo, às vezes o carro está estacionado dos dois lados. É proibido dos dois lados, se estaciona dos dois lados. Em vez de haver quatro filhos ( )  É metade do trânsito que flui. Isso é um exemplo, porque na Avenida Santos não é um dos principais.

SPEAKER 1: : Agora, ãh, por exemplo, voltando ao problema do trem, Você você gostaria de colocar algum problema, assim, do

SPEAKER 0: : Não. ( ) não ### ### ### ###

SPEAKER 1: : E quais as características do trem de subúrbio?

SPEAKER 0: : Trem de subúrbio? Bom, em termos de pessoas que viajam, entendeu? ( )  são operários, aham,  entendeu? Que moram nos subúrbios (propriamente ditos ### são operários, dez dez por cento restante é composto de cara que fica afim de roubar coisa, ãh Molecada vendendo bala, entendeu? coitada É! Molecadinha vendendo bala, entendeu? Gente afim de roubar coisa e... E uma ou outra assim, que não é incrementada a viagem ao subúrbio, entende? Viaja uma vez ou outra, como é o meu caso, né? Agora, o interessante no subúrbio, ãh, é que é o seguinte, diz-se diz-se que existe desde o tempo que foi criado a primeira, como foi instaurado o primeiro estádio de ferro desse lado. Não sei se era a Leopoldina que tinha lá no rio. De São Paulo até Guaianazes se jogam pedra dentro  Segurei ( )  Já virou tradição Então você tem que estar bem louco, porque de repente você não espera ver uma pedra. E machuca, né? Já houve morte até, né? Já houve morte,  com pessoas de olhos vazados e tal,  isso, que foram apedrejados No subúrbio existe, parece que desde mil novecentos e onze Mas isso aí, realmente, só acontece até Guaianazes ( )  Esse que é o cara que, de coisa ( )  E não se descobre que ninguém é autor e tal, polícia,  ### ### Quando eu morava em ( ) , era demais. A gente vinha para cá, ### ### Se eu descabulava a bola, eu ia para os planos, para o ar, jogava brilhante para o ar, entendeu? E a gente jogava muito, parava no lugar, ia no trem, pegava outro, pegava o trem andando, segurava a porta. Antigamente você segurava a porta e o trem andava. Atualmente não. Eu viajavei muito no subúrbio. Quando eu morava ( ) era demais. A gente vinha para cá. ### Antigamente você segurava a porta e o trem andava. Atualmente não. ### Uma coisa que eu acho interessante no subúrbio é a seguinte. No tempo de frio, inverno, as portas não fecham. E no tempo de calor elas não abrem. A maioria das portas. Então a composição geralmente é de seis carros, né? E só tem uma porta que funciona. A gente correu o trem inteiro para descer, né.  E no tempo... no inverno é diferente. No no inverno não fecha. É um espaço horroroso e tal. O trem vai super anotado. Segura nas portas, né? Às vezes para não fechar. Olha, não, é tão interessante como ele vai lotado, que a gente, quando ele pegava o trem para voltar de São Paulo para Mugir, a gente vinha com malha, que a gente não tinha, a gente fria, a gente largava a malha no ar e ela não caia, ela fica encostada. Só largar, a gente largava a malha. Vou fazer de gozação aqui. Largava a malha e deixava, ela não cai no chão. Porque tem tanta gente, tanta gente, que ela não vai, como é que vai cair? Não tem vão. Não existe vácuo, entendeu? Todo mundo encostado. Esse é o único inconveniente, porque o carro de aço é importável na terra, bem feito, rápido e tal relativamente confortável, a viagem é rápida, mas ele vai tão superlotar que torna desagradável, uhum. Além disso, pode ser danificado por causa disso, ( )  de  bancos estragados e tal. Mas eu também tive essa experiência. Eu viajava sempre de pasta, carregando pasta. Então eu ia em pé e não tinha, às vezes não tinha o ( )  para segurar. Mas não tinha problema, porque as pessoas foram encostadas uma nas outras. Não cai no chão de jeito algum. ###