Inquérito SP_D2_173

SPEAKER 0: : Bom, já que a gente está reunido aqui hoje, tá? Eu gostaria que vocês conversassem o motivo pelo qual vocês se encontram reunidos nesta casa, certo? Bom, a gente está aqui reunido, né, Carlos? Porque é comum. Todos os anos nós nos reunirmos. O. A Theata e o Gerson, né? Vão para a casa deles. E nós ficamos aqui com a nossa mãe. E por falar em mãe, que tal se a gente, assim, conversasse um pouquinho sobre (pausa), sobre a nossa infância, né? Aqueles velhos tempos...

SPEAKER 1: : É uma ideia bacana. Seria bom a gente recordar onde a gente nasceu. E, por falar onde nasceu, eu me lembro que nós dois nascemos ainda em, em Santo Amaro. Papai, naquela época, tinha uma padaria. E, com seis meses, a gente veio morar aqui em São Caetano. Fomos criados. Papai comprou um, um outro bar aqui. E viemos para cá em Março, se eu não me engano. E (pausa) aqui nasceu todo o resto da nossa família. A

SPEAKER 0: : Aliás, aquela família, né? Por falar em aquela família, certo, eu gostaria que vocês me dissesse quais são os componentes dessa aquela família, está bom? Bom, a nossa família é uma família, para os tempos atuais, () bastante grande. Eh São cinco filhos, meu pai e minha mãe. O nosso pai e nossa mãe, né? Eu, a mais velha. (riso) O Carlos, a Rosinda, a Rosibele e o Jefferson. Essa família é a antiga família, né? Porque atualmente a nossa família é um pouquinho maior já. A Composta também do meu marido, que é o Gerson, da esposa do Carlos, que é a Seata, da minha filha, que é a Fabiane, do Carlos Frederico e da Karina, que são filhas do, do Carlos, e um que está querendo entrar assim, né? tentando entrar, vamos ver se entra ou se não entra, né? Mas nessa Fa, nessas pessoas que você citou, certo? Eu gostaria de, de, que você me dissesse quais são os graus de parentesco entre Ciata, ãn, Carlos Frederico, certo? e Em relação ao pai e a mãe, tá? Tá

SPEAKER 1: : Tá, eu vou dizer por ela, o (pausa) A Rosinda, a Rosibeli, eu, o Carlos, a Rosali e o Jefferson. Somos filhos do José Joaquim Domingues Guerra e da Dona Elvira, a mamãe. (pausa) e Eu sou cunhado do Gerson, marido da Rosali, que tem uma filha, a Fabiane, a minha esposa Ciata e os meus dois filhos. Esse é o grau do parentesco que nós temos. As crianças são priminhos e por enquanto não tem mais nada na família. Talvez com futuros casamentos haja... o, o surgimento de novos elementos que integrem a nossa família. Na minha parte, porém, eu pretendo ficar com dois filhos mesmos. a Acho que a minha programação familiar já está satisfeita. Penso dessa maneira, não pretendo alterar meu pensamento. e E quanto a você, não posso dizer nada, Rosali. Você que tem que dizer.

SPEAKER 0: : Bom, eu acho que o ideal também é dois para os outros, né? e E um para mim. Porque, sei lá, né, Carlos? Se a gente for analisar desde os tempos em que nós éramos crianças e (pausa) e pensar assim como é difícil hoje em dia, com todos esses problemas que tem na vida social, na vida, principalmente em padrões econômicos e, e sentido educacional e tudo, se a gente for analisar tudo isso, ter cinco filhos, como teve o papai e a mamãe, acho que, acho que é ser heróis né, do, do, dos tempos modernos. O que que você acha?

SPEAKER 1: : Realmente eu também acho que dois filhos é o ideal. Mesmo porque se nós formos analisarmos o tempo em que nós éramos criança e o tempo dos meus filhos e do, da sua filha, nós vamos chegar à real conclusão que a evolução das crianças se faz de uma maneira muito mais acelerada hoje. Você lembra que quando a gente era pequenininho, eu ainda lembro que com quatorze anos a gente empinava papagaio na rua, ficava brincando, tinha uma mentalidade completamente diferente. O nosso nível de conhecimento era muito restrito. E me lembro ainda de um fato curioso. Eu me lembro que quando eu devia ter por volta de uns seis ou sete anos, nós passávamos sempre aqui perto de uma fábrica na Ferro Enamel, uma fábrica aqui de, de pigmentos para cerâmica. Eu lembro que saiu uma fumaça branca dali, e certa vez eu perguntei para o papai porque o pronto-socorro e uma maternidade era ali perto eu me lembro que eu perguntei para o papai se ali era a fábrica de nenéns e ele disse que era e curioso foi que com o decorrer do tempo Eu fiquei pensando aonde é que eram feitas as crianças de cor, porque só saía fumaça branca, então fiquei tentando analisar. Hoje, naturalmente, se a gente for perguntar a uma criança de cinco, seis anos, que a cegonha traz uma (pausa) traz a criança, traz um neném, a gente vai chegar à conclusão que, através de toda a veiculação de comunicação moderna que existe hoje, e que no nosso tempo era ainda cheia de imperfeições, cheia de tabus, Uma criança hoje jamais admitiria a hipótese de cegonha, de papai noel, de história da carochinha e outras coisas. Você não acha?

SPEAKER 0: : Eu acho, mas eu acho que por outro lado também, âh, no, nos tempos modernos assim, olha, se a gente for analisar, não sei também se você lembra do tempo que a gente ficava brincando na rua, aquela turma toda de criança. Hoje em dia não se vê mais isso. Hoje em dia, hoje em dia a gente não encontra mais criançada brincando pela rua à noite. À noite, hoje em dia, o programa é quase que obrigatoriamente televisão. O que, na minha opinião, deforma a criança, não informa. E também restringe muito a, o grau assim de, sei lá de espontaneidade infantil. Eu acho, a minha opinião. Se a gente for comparar em termos meus e teus. Uma outra coisa também que eu acho bacana é que anti, an antigamente, quer dizer, nos nossos tempos, né, porque se a gente for analisar o tempo de ontem até hoje, para nós já é quase que antigamente. A gente nota isso inclusive pela diferença que existe entre eu, por exemplo, e a, e a, o Jefferson, em questão assim já de mentalidade. Então, a gente vai notar o quê, né, Carlos? Você lembra quando nós brincávamos de carrinho, de, de carrocinha e tudo? Hoje em dia a gente não vê mais isso. Não sei se você lembra daquela, daquele brinquedo que nós tínhamos, que era charretinha, lembra? Com carrocinha branca Tudo. Lembro sim. Hoje em dia a gente quase não vê mais isso, né? E vocês brincavam com quem? Só os dois? Não, é como eu estava te falando, né, Rô? A gente brincava com um monte de criança. Inclusive, tinha noites lá na rua que nós ficávamos brincando até nove horas, era o máximo de brincadeira. Então, brincavam trinta, né, Carlos? Às vezes até mais. Jogavam bolinha de gude, era pegar. (pausa) Como é que correr atrás de balão dentro de cemitério, você lembra, Carlinhos? Aliás, isso daí era característica tua, né? E com quem vocês brincavam, certo? Que tipo de relacionamento era essas pessoas? Eram de família? O que que era? (pausa) A

SPEAKER 1: : Aliás, você falou relacionamento e, (pausa) seguindo a, a ideia da Rosali, é interessante de se notar o seguinte. Antigamente, a gente brincava na rua e brincava naturalmente com todas as crianças que moravam próximos da gente. Então, o relacionamento não, não tinha nenhuma vinculação de parentesco. Era uma vinculação de (tosse) de amizade que, que nascia decorrente da proximidade que existia das casas. Então, o pessoal morava duas, três quadras para baixo. A gente, no fim, ficava conhecendo o garoto que morava no meio do quarteirão. a Aquele apresentava a gente para outro. e E, da mesma forma como vai crescendo o rala, o relacionamento que existe na nossa vida atual. A gente fica conhecendo o João. O João tem um amigo uma, uma série de amigos, gradativamente nós vamos sendo apresentados a essa série de amigos e aumentando consequentemente o nosso rol de amizades. Mas o curioso é que naquela época, quando a gente era pequeno, eh, até as festinhas de aniversário eram programadas. Era isso que eu ia falar Porque eu me lembro que hoje, para programar um aniversário, por exemplo, do meu filho que já teve uma festinha e a gente fez de tudo para fazer uma festinha bem feitinha, O tempo que eu tive para programar essa festinha foram, no máximo, três dias. Foi pensada muito tempo, mas o período para a realização foi muito escasso, porque no mundo de hoje a gente tem uma tribulação muito grande. A gente vive eternamente atrasado, vamos dizer assim. A gente já levanta atrasado, vai dormir atrasado, vive num mundo de muita agitação e. E naquela época, eu me lembro perfeitamente, dos nossos aniversários, a gente convidava a, a redondeza inteirinha, vinham quarenta, cinquenta crianças nos nossos aniversários, a, a mãe da gente, inclusive a madrinha, que é a minha madrinha de batismo, que na realidade foi uma, uma senhora que cozinhava com a gente (tosse), trabalhava para o meu pai, e devido a um período muito largo de, de convivência, tornou-se assim quase que um membro da família. não sanguíneo, mas um membro por aproximação, por afinidades e por uma série de coisas. Então, essa pessoa, e, e, juntamente com a minha mãe e com o meu pai, programava uma festinha com quinze dias de antecedência, fazia coisa programada, a gente convidava várias crianças. Então, me parece que naquela época, não existia tanto luxo, tanta, tantos meios aperfeiçoados de comunicação, não existia tanta evolução de conhecimentos, a vida era realmente mais simples. Era uma vida que a gente pode comparar com uma vida de interior, mas, em compensação, a gente tinha várias compensações. Uma delas era o prazer de poder ter uma festinha cheia de crianças, sem onerar demasiadamente a família, embora talvez naquela época onerasse um pouco. Talvez pelo padrão de vida que a gente levava, a gente tinha um bar naquela época, era muito mais fácil dar uma festinha. Mas me parece que era bem mais fácil naquela época fazer uma festinha, porque mesmo em outras casas a gente era convidado para ir em festinha, e a gente notava que sempre tinha um bolo que a mãe fez, ou a tia fez, ou a vó fez, então era muito mais barato do que hoje. Porque hoje se a gente for pegar um bolo, vai ter que comprar bolo, vai ter que comprar tudo. Então nós estamos vivendo um, um, de uma maneira tal que hoje em dia a gente já não se preocupa mais em fazer, já compra feito que é para ganhar tempo. Então um dos meios principais hoje, comparando assim que veio agora na minha ideia, é que há uma constante, ehh, renovação de coisas e a gente parece que é condicionado a reduzir o tempo de lazer para poder sobrar mais tempo de produtividade. Então parece que é uma racionalização de trabalho que fazem com a gente. Não sei quem, nem co como, nem nada. Mas eh, parece que intuitivamente ocorre isso, você não acha?

SPEAKER 0: : Concordo plenamente com você. Eh a Acho, inclusive, que essa racionalização aí que você diz não abrange só o sentido profissional da gente, não. Parece que abrange, inclusive, o sentido, assim, de vida da gente, completo. Eu não sei se você lembra, Carlos, que se nós formos comparar Já indo um pouquinho mais adiante, já na nossa mocidade assim. Eh Antigamente, o quando eu, eu uso esse termo antigamente, eu quero dizer no nosso tempo que não é tão antigamente.

SPEAKER 1: : A gente não é tão velho assim. (riso)

SPEAKER 0: : Falta pouco, né? () Antigamente, o que que é, você quer dizer  Com esse antiga mente? Você era como? Para você dizer antigamente. A Ah, você está falando assim de mudança de minha personalidade? Não Eu digo, vamos dizer, fisi ologicamente. Como que você era? Você diz antigamente, por que você  Não, eu uso esse termo antigamente apenas para diferenciar ontem e hoje. Hum Certo? Ontem quer dizer o meu ontem e o do Carlos, já que a gente está conversando assim da nossa infância e revivendo fatos. Então, eh, não sei se você se lembra, Carlos, que quando nós ficamos assim mais, mais jo, mais jovens, né, e começamos a entrar na fase da puberdade, nós tivemos aquele sério problema lá. Não sei se você lembra que o papai Passou por uma crise e nós dois, como os mais velhos, fomos o que sentimos mais. a As a Rosinda, a Bila e o Jefferson sentiram, assim, um pouco menos. Então eu não sei se você lembra que naquela época lá você começou a, a trabalhar e naquela época lá era a época em que, em que as dificuldades econômicas assim foram maiores em todo o, em todo o tempo da nossa vida. E depois, âh, isso daí obrigou-nos a mudar, a mudar de residência. E essa mudança de residência trouxe também assim várias mudanças para a gente mesmo. Porque (pausa) lembra bem, quando nós vivíamos naquela casa antiga lá, nós já estávamos com, eu estava com treze anos, você estava com doze anos. (tosse) Foi a época da mudança. Nós não tínhamos, assim, liberdade de sair. Nós não tínhamos liberdade nenhuma. E tínhamos um tipo de mentalidade. Com a mudança de residência, motivada pelos fatores que eu já citei anteriormente, nós notamos o quê? Nós notamos que, que houve também uma mudança da nossa mentalidade. Então, nós parece que começamos, assim, a amadurecer um pouquinho. Certo?

SPEAKER 1: : É, eu acho que (pausa) que foi uma coincidência de, de circunstância. A primeira, o fato de ter acontecido um, um imprevisto na, na, no equilíbrio econômico familiar. E a segunda, a nossa mudança de residência, que foi uma consequência da primeira. Como as duas coisas foram muito próximas uma da outra, eu acho que foi uma coincidência de circunstâncias. E parece que com essa mudança de residência realmente a gente amadureceu bastante. A gente passou a encarar a vida de uma outra maneira. A A gente passou. a conviver com outro tipo de, de, de amizade. A gente já chegou à brilhante conclusão que determinado tipo de brincadeira não servia mais para a gente.  E foi nesse ponto que parece que a gente começa a dar um, um novo sentido de vida, um novo sentido para a própria vida, para a própria existência. E você nota isso pelo, pela troca que a gente fez de amizades. Tanto é que quando a gente mudou, Não mudou para tão longe, mas a gente parece que quis esquecer um passado que ficou e construir alguma coisa totalmente de nova. Tanto é que das velhas amizades restaram pouquíssimas. A gente raramente ia visitar a, as crianças com as quais a gente cresceu e conviveu. Eh A gente não ia visitar as pessoas amigas que ajudaram a criar a gente, porque a gente antigamente vivia brincando, correndo, na casa de um, na casa de outro. Então, as mães eram mães comuns a todos os filhos, porque todas elas tomavam conta de todo mundo. E a gente não voltou mais para lá. Então, a gente começou a visar um novo tipo de vida, um, um novo tipo de amizade, um novo tipo de (pausa) um, uma nova maneira de, de ser da gente. Você não acha que foi isso que aconteceu? É

SPEAKER 0: : Eu acho. Eu acho, inclusive, Carlos, que nessa época também, foi a época em que você estava na quarta série ginasial, e eu comecei a fazer o colegial. Então, eh, houve também assim uma mudança para mim, para mim pessoalmente. Houve uma mudança de, de círculo de conhecimentos, porque eu mudei de período na escola, fui para o período noturno. Então, a turma era mais, hum, assim de mais jovens, menos crianças. e E tudo isso daí, eh, ajudou a gente a mudar bastante. A Agora, um negócio que eu acho bacana assim a gente lembrar sempre e é a, a fibra. Isso aqui, sem querer jogar confete. É a fibra assim do papai, né? Porque, você veja bem, Carlos, por mais que nós tivéssemos sofrido aquele abalo, isso daí nunca foi sentido assim na nossa vida rotineira. Vida rotineira que eu digo é, a tipo de alimentação, é (tosse) maneira de, de ter conforto em casa. Você veja bem, a, a nossa alimentação, acho que nós éramos super, super nutridos, né? Aliás, (riso) acho que você está com excesso de nutrição, inclusive. (risos)

SPEAKER 1: : Gordo para chuchu, né? () Falando () É

SPEAKER 0: : É, está por aí, né? (riso) Bom, (riso) mesmo assim, né? Então... Você veja bem, Carlos, então tudo isso daí eu acho que valorizou bastante o papai perante nós. Nessas alturas aí a Rô e a Bila e o Jefferson também já estavam assim mais crescidinhos e estavam naquela fase que nós já tínhamos passado. Eu me lembro bem que eu ficava lá no portão contando histórias para as crianças, né? E a Rô e a Bila estavam, ficavam, âh, estavam naquela fase de ficar brincando, brigando, inclusive, né? Bom, depois disso daí, foi a época que você começou a conhecer, assim, a se interessar por garotas Né. É, mas pera um pouquinho, pera um pouquinho. Tá

SPEAKER 1: : Antes de você falar de, as crianças brigavam, não sei o quê, tem que dizer que também a gente continua quebrando uns pau de vez em quando. Porque eu acho que o fato de brigar, independe da idade. Tanto é que hoje a gente já se considera adulto e a gente continua brigando. A gente discute, a gente briga. Não, é verdade, nós continuamos brigando. E (pausa) mesmo no, no, no convívio do lar da gente, a gente briga ou por problema de criança, ou por problema disso, ou por problema daquilo. Mas não é da briga que eu queria falar, não. O que eu queria falar é que você falou em questão de valorização do chefe da família, do papai. O problema de valorização do, do ser humano, eu acho que é um negócio que, à medida que a gente vai amadurecendo, a gente vai aprendendo a dar um pouquinho mais de valor aos pais. e Mesmo porque, você veja bem uma coisa, eu nunca pensei que criar filho desse tanto trabalho. A gente só descobre que deu trabalho, ou que dá trabalho, à medida que a gente vai vivendo os fatos que os pais da gente viveram. E nessa medida que as coisas vão ocorrendo, a gente passa a ter um pouco mais de compreensão pelas coisas. Veja bem uma coisa, uma coisa que eu sempre procurei fazer, e (pausa) sempre tento fazer em relação a papai e a mamãe, e por isso é que eu não discuto muito com eles, você veja bem uma coisa, houve aquela época terrível em que a gente brigou muito, o que eu digo não discuti, é no sentido de hoje eu não discuto muito, mas naquela época, Eu me lembro que, inclusive (tosse), existia uma, uma predominante imposição da vontade do papai em relação a gente. A gente era obrigado a fazer aquilo que o papai queria. Em todos os termos, menos em escola. Você não acha?

SPEAKER 0: : Eu acho, Carlos, mas aí você tem que entender também que a formação do papai foi completamente diferente da nossa formação, certo? Então, essa, essa forma de, de coerção que ele exercia sobre a gente era um negócio assim quase que natural dele. Talvez ele nem quisesse agir com, agir com tanta severidade, mas ele, ao mesmo tempo, não conseguia se libertar dessa, dessa Dessa, dessa rigidez que ele tinha com a gente, por causa do vovô e da vovó que tinham aqueles preconceitos. E preconceitos que eles nunca conseguiram derrubar. Preconceitos de sexo, preconceitos de, de (pausa) Sei lá, de relacionamento. Olha, isso daqui é um negócio que eu não sei nem se vo, se eu alguma vez falei para você. Âh Basta dizer para você Que nós, a nossa família é pequena, né, em âmbito assim de parentesco do papai e da mamãe. Nós só temos dois tios, um tio e uma tia. () Então, basta dizer para você que a Titia, irmã do papai, que ela uma vez falou para mim que eu não podia ficar no portão, porque senão quem passasse na rua ia pensar que eu era. Certo? Então, por aí você veja só a mentalidade, eu era o quê? Eu era uma prostituta. Então, por aí, você veja só a mentalidade dela. Quer dizer, ela, ela até hoje, ela mantém essa mentalidade. Então, não é justo que a gente queira que o papai destrua ou consiga assim derrubar de uma vez por De uma vez, todas as bases que ele recebeu, certo? Por falar em você ficar no Portão, eu lembrei de uma fase, lembra quando a gente morava no Sobrado, né? E você disse que houve uma mudança na sua vida e na do Zé Carlos, né? E Então, eu gostaria de de ver também quais foram as novas mudanças que ocorreram naquela época de ficar no Portão, tá? Mudanças em que sentido? Mudanças em termos de relacionamento com as pessoas. Meu, pessoalmente? Ah, sim. Bom, nós eh, começamos, assim, a ter um relacionamento diferente. Nós começamos a frequentar bailes que nós não frequentávamos antes. Nós começamos a ir a festas. Nós começamos a nos desinteressar. Nós começamos a nos desinteressar por brincar na rua e a nos interessar mais Por telecomunicação (riso), ou seja, em termos mais francos, televisão no duro mesmo, né? Foi a época que o papai comprou a televisão, então aquilo para nós foi o máximo. Nós passávamos horas na televisão. Mas d epois disso daí. E na vitrola também, né? Aliás, a vitrola, que enchia toda a vizinhança, né? Bom, independente disso daí, é a época também que nós começamos, assim, com os namoricos. Então, a época em que eu comecei a namorar, E o papai eh, o papai assim, falava assim que eu estava dando show na esquina porque eu estava conversando com o rapaz. E o Carlinhos também namorava, mas o Carlinhos era homem e tal, e podia namorar à vontade. E por falar em teu namoro, hein, Carlos, você lembra das comadres detrás das janelas e tal? Bacana, hein? É

SPEAKER 1: : Aliás, é um, foi uma das melhores fases da vida da gente. Acho que é a fase em que a gente começa a levantar a antena para ficar olhando as meninas e tal. É interessante. Você fala, é o papai achava ruim, não sei o que, não sei o que lá. E E realmente tudo isso gira em torno de mentalidade. Você veja uma coisa. O papai achava ruim com você porque você era mulher e tinha que chegar cedo em casa. Mas eu também tinha um determinado horário para chegar em casa. Certo? Logo em seguida, você começou a namorar e Então para você namorar era uma coisa que tinha que ser sempre um namoro sério. Imagina que você ia... tirar um namoro para apenas chegar a verificar se havia possibilidade de um relacionamento mais, mais profundo entre dois seres. Mas eu notei uma coisa, na hora que o papai percebeu que eu estava namorando sério com a, com a Ceata, que é com quem no fim de dez anos a gente veio casar, né, porque fiz namoro, bodas de prata de namoro quase. Mas quando ele percebeu que o negócio era sério, a gente começou entrar em choque e E você pode perceber que o choque, me parece, é porque, sei lá, é aquele... aquela possessão paternalista ou maternalista, então acho que pode ser que aconteça comigo também, a gente vai chegar num determinado ponto em que pai e mãe vão começar, o pai e a mãe começa, começaram e a gente talvez chegue a fazer a mesma coisa, comecem a, a implicar porque vão percebendo gradativamente que está chegando a hora em que a gente vai dizer até logo, vou mudar de casa, vou constituir família, então é dá a impressão que, imagina, criei um filho a vida toda, está aqui, quarenta anos aqui dentro, e quando é no fim da história vai embora, como é que fica a história? Certo? Você não acha que essa fase, embora seja muito bacana, teve muitos choques, teve muito problema, teve uma série de, de, de encrencas. Agora, realmente (pigarro na garganta), nessa fase, eu me lembro também, a gente estava começando a evoluir em termos de trabalho, e foi numa fase em que acumulou duas coisas, o aspecto trabalho relacionado com meus estudos e o aspecto namoro relacionado com as minhas ambições pessoais. Juntando essas duas coisas, juntou um maior choque entre eu e o papai, a ponto de a gente todo santo dia discutir. Você lembra que a gente tinha sérias discussões na mesa, a mamãe era sempre aquela que botava pano quente na discussão e esfriava a coisa, porque a coisa ia partir para a cabeça mesmo. E eu me lembro que isso teve um Um ponto final, num exato momento em que a gente trabalhava junto, quase sempre trabalhei junto com ele. E eu me lembro que isso teve um ponto final exatamente no dia em que eu cheguei para ele, após dizer mil verdades que trazia guardado comigo, eu bati a porta e disse que ou ele resolvia ou eu ia dar no pé. Então, nesse dia em diante, a coisa murchou. Fiquei uns três dias sem aparecer lá no, no trabalho que ele, que a gente trabalhava lá na cidade, no escritório. Não fui mais lá e parece que daí para cá ele começou a chegar a brilhante conclusão que eu tinha crescido um pouquinho mais. E começou a me encarar de uma outra maneira. E acho que a mesma coisa aconteceu com você mais ou menos por essa mesma época. ()

SPEAKER 0: : Mas voltando aí um pouquinho, né? Vamos fazer a Rosali, falar um pouquinho do namoro dela, né? O que você acha, hein? Bom, mas era disso que eu ia falar agora mesmo. Eu ia falar assim que foi exatamente nessa época que nós morávamos no Sobrado, que eu comecei a fazer o colegial, que começaram assim a aparecer os namoricos, né? Então eram cartas, eram flertes, era uma série de coisas, mas tudo na santa e escondida paz. Quer dizer, era aquele medo terrível que eu sentia do papai. Eu não sei se era, até hoje, eu acho que ainda não consegui definir bem, eh, o medo que eu sentia dele. Eu tenho a impressão que eu confundia respeito com medo. Isso daí pela forma com que nós fomos criados. Eu, talvez, um pouco mais arraigada, assim, àqueles preconceitos. Bom, então foi nessa fase aí que eu comecei com os namoricos. Depois disso daí, eu comecei a trabalhar, a lecionar e E quando eu comecei a lecionar, eu conheci, comecei a conhecer novos rapazes. O O meu começar a trabalhar coincidiu com a minha entrada na faculdade. Então, nessa época aí, eu comecei a ver realmente, âh, como era bacana assim ter amizades com, com rapazes e. E, e comecei também a analisar o modo de pensar assim do papai. Como é que ele, ele tinha, assim, eu pensava assim, como é que ele tinha aquela confiança de eu ir para a escola e voltar às onze horas da noite e tal e tal? Não tinha problema, entendeu? Mas se eu saísse de sábado e domingo, nove e meia, dez horas, eu tinha que estar em casa. Então, por aí a gente via, eh, eu fica, eu comecei entrar, a entrar assim em conflito comigo mesma. De ver E eu falava assim, puxa vida, mas como é que o, a pessoa tem confiança de um lado e não tem do outro? Bom, isso daí foi, foi ficando inculcado na minha cabeça. Até que, um belo dia, né? Eu comecei a namorar o Gerson. O Gerson que é meu atual marido, né? (riso) () Como é que foi isso? Como é que eu comecei a namorar o Gerson? Como é que foi? Ah, sim ### Eu fui no Baile do Calouro, foi o ano que eu terminei o colegial. E E (pausa) eu fui no Baile do Calouro meia empurrada. Empurrada quer dizer comigo mesmo, né? Porque nessa época aí eu tive um problema de apendicite e estava em recuperação. Então eu fui para esse baile e no baile eu, eu discuti lá com a me, com uma menina, eu fui com a mãe de uma amiga minha e a prima dessa amiga minha. Então nós começamos a discutir, mas discutir em termos baixos, quer dizer, discutir falando baixinho para que ninguém percebesse. E o Gérson estava na mesa lá em frente olhando para mim. Então ele disse que nunca tinha visto uma pessoa brigar num baile. Então, ele (pausa), nós começamos a dançar tal, e ele marcou um encontro comigo, nos, no, no baile do calouro. No dia seguinte, eu fui encontrar com ele. Não sei se você lembra, Carlos, lá onde tinha aquela relojoaria, ali no Largo da Igreja. Lembro, lembro. Ah, que agora nem existe mais. Uhum. Então, eh, eu fui encontrar com ele lá, e foi até gozado, porque eu fui com uma () atrás. Ainda tinha aquele conceito... É, eu ainda tinha aquele, aquele conceito de que sair sozinha com o rapaz não era bem visto, né. E, principalmente, eu tinha um medo terrível de que o papai viesse a saber que eu estava saindo sozinha com o moço. Então, eu fui com aquela () terrível, né. Bom, esse daí foi no primeiro dia. Depois, nós marcamos outros encontros e tal, e começamos a sair junto e. E aí, a, a trempinha mudou, entende? Em vez de ser a trempa de amigas, era a trempa das irmãs. Então, era a corteja de Rosinda, Rosibeli e mais a Teca. A Teca é uma amiga nossa, que era vizinha, e é a muito bacana. Até nós tivemos ótimos momentos com ela. Enchíamos ela para valer. Lembra, Carlos? Uhum Quando ela ficava com o namorado no portão e a gente ficava torrando a paciência dela e do Jó. E E (pausa) isso daí foi uma época bastante boa. Inclusive, lembra quando também nós saíamos? Eu, o Gerson, você e a Seata com o famoso Jipe?

SPEAKER 1: : É, por falar em, em, em sair, você falou aí como que você começou a namorar. E eu estou lembrando como é que eu comecei a namorar.

SPEAKER 0: : Ah, foi no baile?

SPEAKER 1: : Não, não foi bem no baile, não. O negócio do meu namoro foi o seguinte. Eu lembro que todos os dias eu vinha almoçar em casa quando dava tempo e na hora que calhava de eu acabar de almoçar passava uma menininha jeitosinha, gostosinha, passava ali pela rua levando um, um moleque para a escola. E E eu todo dia mexia com a menina e a menina nunca dava bola. Um dia eu me invoquei e falei ó, minha filha, não adianta você ficar Começar com onda não, que o teu fim vai ser um dia casar comigo. E eu comecei a brincar, mas nunca passou disso. Nem sabia quem era, nem onde morava, nem nada. Ali na rua a gente tinha várias amizades. Tinha o Gordo, o Roberto, o Gordo de cima, o Marinho. Tinha o Cocó, o Vitório. Tinha uma série de, de amigos ali. Então a gente curtia bailinho, saía. Naquela época eu tinha lambreta, andava para lá, andava para cá.

SPEAKER 0: : O Cocó, graças a mim, né? É o co

SPEAKER 1: : có, aliás, foi batismo seu o apelido. E então, nessas andanças para lá e para cá, um belo dia a gente se bicou num baile. Eu me encontrei com, com a Anunciata, nós dançamos, conversamos um pouco e ficou por isso mesmo. Também não quis saber. E o O, o que mais curioso marcou foi que, um belo dia, mudou uma nova vizinha ali perto de casa. Quatro casas depois. A molecada da rua, a turma da rua toda, menina bonita e tal, foi a Ciata quando ela mudou para lá. Ela mudou para lá, então a turma todinha na rua, ô, vamos lá, bater papo, a menina é muito bonitinha. Eu falava, olha, com vizinho o negócio não dá pé, eu não vou nem conhecer que é para não criar caso. Então todo mundo foi, começou a conversar, e quando foi no fim das contas, eu não lembro quem foi que falou para mim, falou, ah, você não vai falar porque você não tem coragem de falar, não sei o que, aquele velho probleminha que tinha antigamente. Porque, sei lá, quando a gente começava a namorar, principalmente eu me lembro, no tempo de rapaz da gente, quando a gente saía com a menininha e ia no cinema, pegava na mão da menina, ou a gente ia num bailinho e colava o rostinho no, no, no rosto da menina, era uma glória. Ô Hoje isso aí é coisa comum. Os tempos mudaram, está aí também uma prova de evolução dos tempos, de mentalidade, de quebra de tabus. Mas voltando ao assunto básico, Eu lembro que um belo dia a Tuma se organizou, nós estávamos conversando todo mundo depois de jogar um pouquinho de vôlei. A gente tinha o costume de armar uma rede ali na rua e jogar vôleibol. Interrompia trânsito e fazia miséria ali na rua. Aí eu lembro que a Tuma falou, não, você não vai porque não tem coragem. Eu falei, não, eu vou e é hoje. Peguei, fui, me troquei, comecei a conversar. E calhou que a gente sempre arranjava uma coincidência, eu da minha parte e acredito que ela da parte dela, porque cada vez que eu descia para ir para o ginásio, ela tinha que descer para ir para a casa da Bel. A Bel é aquela colega nossa, uma família bem grande que morava no fim da rua. Então ela descia lá para baixo e a gente ia sempre conversando. E aí a gente foi descobrindo uma série de afinidades, e uma porção de coisa, e no fim, fomos evoluindo num namoro, brigamos, se separamos, e foi indo assim mais ou menos.

SPEAKER 0: : Juntaram e tal e tal, né? Ah, eu agora estou lembrando, sabe do quê, Carlos? (pigarro na garganta) Do tempo também que eu, eu namorava o Gerson, e, e das vezes que nós saíamos. Então, eu não sei se você lembra, um dia que estava uma chuva, mas uma chuva torrencial, e eu ia sempre lá para a casa da Antônia, Antônia é nossa vizinha. Eu ia sempre lá para a casa dela e ficava lá esperando o Gerson, porque eu falava para o papai que eu ia para a casa das colegas, né? E eu realmente eu ia. Só que eu ia primeiro encontrar com ele e ia junto com ele para a casa das colegas. E Então, nó, eu fiquei lá, eu ficava sempre esperando ele lá. E um dia eu estava esperando lá, eu olhava para baixo e nada.  Chovendo para burro. É que o cara tinha vindo de capa preta (riso), estava na esquina, e não dava para diferenciar nada. O escuro da chuva com o escuro da capa. Olha, aquele dia lá foi bacana, viu? Depois disso daí, eu me lembro também, o dia que eu te apresentei o Gerson, não sei se você lembra, que inclusive a turma falava assim, puxa vida, Rosali, esse cara aí, ele nem parece, a gente nota que ele não é daqui, não sei o quê, com aquele ar sério e tal. E a primeira vez que ele entrou em casa, lembra? Quando eu fi, fui (riso), quando eu fiz, eu fiz aniversário, meus dezenove anos, eu nunca me esqueço. Meus dezenove anos que eu fiz uma festinha para os colegas. Então eu convidei ele, eu falei, olha, você vai lá em casa e tal, né? E o cara me chega em casa. E falava, para passar de uma sala na outra, ele falava, dá licença, dá licença, certo? Então, eu cheguei para ele e falei assim, olha, você para de pedir licença, senão meu pai vai perceber que você, nós ta, nós estamos namorando, certo? Mas a mamãe sempre sabia que eu namorava, certo? O papai não sabia, mas a mamãe sabia. Bom, eu não (pausa) Isso, isso daí foi naquela época. Me lembro também que que apesar de todo, assim de todo, de toda a força de rigidez lá que o papai exercia sobre mim, eu dava minhas escapadinhas, né? Não tenha dúvida.

SPEAKER 1: : Agora, por falar em, em, em namoro, a gente está falando em namoro e tal, você, não sei se você percebeu uma coisa. Houve, com a mudança para a nova residência, com a nossa, eh, com o nosso amadurecimento de mentalidade e outras coisas, Eu não sei se você reparou, mas nós dois ficamos cada vez mais nos distanciando da Rosinda, da Rosibele, do Jefferson. Ah

SPEAKER 0: : Ah, sim. Isso daí também, Carlos, a gente deve, a gente deve ao seguinte. A nossa diferença de idade é de um ano.  Então, quando nós éramos crianças, nós eh, brigávamos muito. Quando nós ficamos moços, nós. Brigávamos também. Brigávamos, mas já nos entendíamos um pouco melhor. Enquanto que a diferença para a Rosinda já era de quatro anos. sua e de cinco anos minha. Então, já não dava para a gente assim se ter aquele entrosamento, certo? Agora, o falando ainda em namoro, Carlos, só para mostrar assim a diferença dos tempos, eu não sei se você, já, quer ver uma coisa? Eu, eu Quando nós começamos a fa, conversar agora, hoje, âh, eu estava falando para você que... que eu falo antigamente porque existe uma grande diferença de mentalidade entre, entre um pequeno espaço de tempo. Quer ver um negócio? O meu namoro para o teu namoro. Nós temos apenas um ano de diferença, certo? Mas veja bem, o meu namoro para o teu namoro. No meu namoro, o Gerson chegou quando foi conhecer o papai, lembra que eu mandei o papai? Se pôr todo boneco lá e tal. E o Gerson teve que ir falar com ele, para pedir eu para, para poder namorar comigo. Foi até o dia que a, a Rosinda, a Bila, tal, ficaram escutando atrás da porta, lembra? Derrubou o café em cima do papai e foi aquela palhaçada, né? E depois, quando eu fui ficar noiva, também teve aquele noivado formal, cheio de, de, de preconceito. Aquele negócio das antigas, né? As antigas que eu digo agora é dos tempos, dos temos do vovô e da vovó, certo? Esse noivado aí foi como, hein? Conta aí Ah, o noivado? Noivado foi... Bom, hoje, hoje eu acho uma fábula, né? O que foi o meu noivado. Porque nós fizemos um, primeiro bom, primeiro lugar, o dia que o Gerson foi falar para o papai que a gente ia ficar noiva. Papai tinha aquele problema lá. É, está namorando aí, para esquentar a cadeira e não sei o que, não sei o que lá. Ele foi falar para quê? Para ficar noivo. Primeiro ele foi pedir para namorar, certo? Depois ele foi pedir para gente poder ficar noivo. Para nós podermos ficar noivos e Então, ele chegou lá e conversou com o papai, na minha frente, falou que nós íamos ficar noivos sem defi, sem definir tempo para casamento. Bom, aí o papai, mas para quê que ele precisava falar com o papai? Ah, ele precisava falar com o papai, Rosinda Pelo seguinte motivo, porque o papai, eh, eu, ele queria (pausa). Ele queria, âh, que, que se falasse com ele, certo? Primeiro lugar, ele, eu tenho a impressão que ele não aceitaria o meu namoro se fosse de uma forma diferente. Ele não aceitaria o meu namoro se fosse de uma forma diferente. Então ele, o Gerson também. O Gerson também pensava, tinha assim, aquela formação. Uhum. De cheia de preconceitos e de tabus. Então isso também foi o motivo a mais para que houvesse toda aquela formalidade no nosso noivado.

SPEAKER 1: : Agora, você vê que, que curioso. Você falou que existe uma diferença, eh, em um ano entre o seu namoro e o meu namoro. Eu acho que realmente existe uma diferença. Em um curto espaço de tempo, a mentalidade Exato, mas a mentalidade do, da gente evolui tremendamente. A mentalidade média evolui tremendamente a. Agora, o curioso é que a evolução da mentalidade depende das pessoas também. Tem pessoas aí que vão passar o resto da vida vivendo no século passado. Um exemplo que você citou e que não aconteceu comigo. Eu, quando comecei a namorar, não pedi para namorar para o pai da, da, da Anunciata. Primeiro porque eu não, não, achava que não devia pedir. Eu achava que devia namorar e acabou. Segundo, que o pai dela Apenas a única imposição que ele impôs, e eu fiquei sabendo através dela mesmo, foi que se fosse para namorar, namorasse-se no portão da casa dele, não fosse namorar às escondidas. Tanto é que, você lembra perfeitamente, eu não cheguei a ficar noivo, nunca pedi nada para ninguém. A única coisa que eu fiz foi pedir para casar trinta

SPEAKER 0: : Bom, Carlos, isso daí, mas eh, nesse ponto você tem que considerar o quê? Diferença de família, certo? Não é só diferença de mentalidade. Eu () com você que eu, naquela época, eu tinha uma mentalidade, assim, bastante, eh,  que eu sofri uma coerção muito forte do papai. Mais do que eu. Muito mais do que você, não tenha dúvida. Eu era muito mais enraizada a preconceitos do que você. Mas isso daí, eh, agora não sei se você também está sabendo, o, o, esse negócio aqui, que um dia eu também cheguei a discutir com o papai. Porque um dia eu também tive que enfrentá-lo para, para me definir. Quer dizer, ou era a minha vontade ou era a dele, entendeu? Ou era, ou prevalecia o que eu queria ou prevalecia sempre o que ele queria. Então foi nesse dia que eu consegui me definir um pouco. Um pouco, eu digo, porque essa minha total definição, definição aqui empregada no sentido de, de uma libertação maior daqueles preconceitos, eu, eu ainda estou conseguindo. Porque até hoje ainda não foi total. Certo. Agora, então, eh, o Gerson, ele também tinha, assim, o mesmo tipo de pensamento que eu e a mesma tipo de (), o mesmo tipo de  Tanto que nós éramos considerados os quadrados. A Rosinda e a Bila e a Teca chamavam a gente de quadrados no nosso estilo de namoro e tudo. Nós éramos os quadrados. Olha, Carlinhos, basta dizer para você que eu tinha uma influência assim tão grande do papai que um dia eu larguei o Gerson na esquina porque eu vi o farol de um carro des, aparecendo lá na rua E eu não tinha nem certeza se era do jeep ou não era do jeep do papai. Mas eu fiquei com tanto receio, sei lá, que eu saí correndo e larguei o Gerson na esquina. Quer dizer Por aí você veja só a, como, como eu era, como eu era presa. Ou como eu tinha () mesmo. Era medo também. Porque naquela época o papai também tinha uma mentalidade bastante diferente da que ele tem hoje. Apesar de hoje ele ter as mesmas bases, ele sofreu uma grande mudança de, de ações. Certo, ele não sofreu mudança de bases, de pensamento, mas ele sofreu mudança nas ações.

SPEAKER 1: : E por falar em influência, você me lembrou uma outra coisa. Você vê, a gente exerce influências e sofre influências. ### Eu me lembro que quando eu comecei a namorar, eu estava fazendo o científico. Sim. E A minha ideia primeiro era fazer o curso de engenharia. E interessante que depois, no fim, acabei fazendo direito. Agora, por que eu fui fazer direito, quando poderia fazer engenharia? Então, eu às vezes paro, volto atrás e me pergunto e não chego a nenhuma conclusão. Talvez existisse em mim uma vontade escondida de que eu realmente fosse fazer direito. Mas eu me lembro que o Guilherme, um professor nosso de português, ele dizia que eu tinha tudo para ser um bom advogado. Por outro lado, eh (pigarro na garganta) eu sempre gostei de, de, de cursos técnicos, tanto é que eu sempre fui um bom aluno de Química, um bom aluno de Física, um, um excelente aluno de Matemática. Mas no fim, Como diz o outro, eu virei a bandeira, talvez porque na época, não sei se foi por isso, mas pode ser que seja, talvez porque na época não houvesse condições financeiras de eu, eh, estudar durante o dia, porque o único curso que tinha à noite era curso, curso a de, de administração, curso de direito, não era assim um curso mais técnico. Mas assim mesmo a gente sofreu determinadas influências.

SPEAKER 0: : falando em influência, Carlos, e acrescentando assim para nós, para mim a mudança, tanto em termos, já que você usou, começou a falar do, do, do dos seus termos profissionais, ou da sua escolha, assim, de, de uma futura profissão, isso aí me faz lembrar do seguinte, quando eu saí do ginásio, eu era uma pessoa, assim, completamente apagada, mas completamente mesmo. Quando eu entrei no primeiro colegial, esse mesmo professor, o Guilherme, ele exerceu uma, uma grande uma influência em mim, uma influência no sentido de me incentivar. Eu não sei se você se lembra daquele concurso de oratória que teve, e aquele concurso de oratória que, que nós participamos, aquele concurso de oratória foi um pivô de uma grande transformação em mim. Tanto uma transformação de, de pessoa, como uma transformação de escolha de profissão, ou uma definição propriamente dita. Naquela época lá, eu acho que eu, eu de, eu me defini, por uma, eu me defini a ser professora, que é aquilo que eu sou hoje. Só não ficou bem definido em qual ramificação da filosofia eu i, eu ia entrar. O que eu queria era ser professora. E E foi realmente nisso que eu me tornei. Mas, Lali, voltando um pouquinho atrás do assunto que a gente estava falando, lembra do seu namoro, você estava comentando o namoro, dos problemas que você teve com o Gerson e tal, mas depois o que que aconteceu? Vocês ficaram noivos () Você citou o fato, né? E d aí? Ah, nós ficamos noivos, você está falando em que, no prosseguimento, assim, de vida natural? Ah, sim. No processo de continuidade? Exato Então Âh, bom, depois do namoro, aliás, depois do noivado, nós ficamos noivos em setembro. Depois desse noivado aí, Rô, nós... Quando foi mais ou menos em jane, em dezembro, o Gerson chegou, ele, ele falou para mim que queria casar em fevereiro. Eu falei que estava, entendeu? Mas eu falei assim, que casar em fevereiro o quê? Eu mesma duvidava, né? Eu falei, está bom e tal. Ele chegou para o papai e falou, olha, seu (), nós vamos casar em, em, em fevereiro. Bom, esse anúncio aí foi um anúncio assim que deixou todo mundo apavorado, entende? Porque tanto a minha atua, âh, a minha sogra, como o papai e tal, já ficaram pensando que eu tinha obrigatoriedade de casar, porque no mínimo eu estava esperando o nenê. e E então, inclusive, o papai naquela época falou assim para mim, não, vocês não querem pensar melhor, não sei o quê, não precisa ter pressa. Primeiro achava que a gente devia de casar, porque estava ocupan, estava esquentando cadeira, né? E depois achava que a gente não devia de casar mais, porque tinha que pensar melhor e tal e tal. E nós éramos para casar em fevereiro, mas acabamos casando em, em abril de sessenta e nove. Nesse ano aí, eu (pausa), esse ano eu estava terminando a faculdade, e o Gerson estava no terceiro ano de administração. Então, nós casamos, certo? Nós casamos, fomos viajar. Fala. Mas me conta como é que foi, foram os preparativos. Do casamento? Ah. Bom. O que tem que fazer? Eu não sei o que Tem que fazer. () () O que que a gente  E se casar? Como? () Que tipo de preparativo que a gente tem que fazer  Bom, nós, eh, você diz preparativo, em que sentido? Pre parativo. () Espera aí só um pouquinho. Nós Nós nos preparamos da seguinte maneira, Rô. Nós preparamos a, a casa, arrumamos tudo, certo? Nós fomos morar, hum, relativamente distante de, de São Caetano. Nós fomos morar num bairro que pertence à Itaquera, chama Jardim Nossa Senhora do Carmo. Eu ainda defino aquele bairro como uma ilha, quer dizer, um bom lugar cercado de maus lugares por todos os lados, né? Mas é um lugarzinho bem agradável. E nós compramos uma casa lá e montamos a nossa casa e. E fora isso daí, nós fizemos também exame pré-nupcial para, para ver problema de doenças venéreas, para ver tipo de sangue, para evitar futuros problemas. E nós fizemos inclusive esse exame pela prefeitura. A Aliás, o dia que nós fomos fazer esse exame também foi uma calamidade pública, né? Porque a mamãe achava que para quê fazer um exame desse tipo, né? se tinha algum problema e tal. Esse exame aí foi muito bacana, inclusive nós tivemos também um curso lá no, no, na própria prefeitura sobre vida sexual do casamento e fora esse curso nós também fizemos um curso da igreja, na igreja que Falava eh, um, um curso não. Uma série de conferências sobre assuntos diversificados. Economia no lar, eh (pausa), ad, administração do lar, economia, eh, o que mais, eh Economia eu já citei. Problemas de ordem jurídica, problemas de ordem de âh, de vida íntima. Então, nós tivemos uma série de conferências com pessoas capacitadas. Foi também muito bom esse curso, porque nós tivemos também relacionamento com novas pessoas, certo? Então, o, o nosso relacionamento, nós conhecemos outros casais, eh, nós fazemos debates e. Nessa época aí, Rô, a, a minha mente já eh, já era um po, com relação ao Gerson, nós já tínhamos, assim, um pouquinho mais aberta, vamos dizer assim. Então, nós casamos. É esse tipo de preparação Que você tá falando? Não, eu quero saber assim, é uma preparação em termos de cerimônia. O que que a gente. Ah Sim. Você quer saber, na realidade, como é que foi o meu casamento, certo? É isso? É isso. Então, é aquele problema lá de (pausa) Formalidade. Formalidade, exato. Bom, âh, como eu te falei, meu namoro e meu noivado foi, foram formais. O casamento também foi formal, entende? Aquela preocupação com igreja, aquela preocupação com arrumar, arrumar cartório e tal. Bom. Eh, por que igreja? Porque que você. Ah Ah, sim. Aí é que está o problema. Eh O problema da igreja, Rô, hoje, hoje eu analiso assim, que o elemento, só casa na igreja, pelo menos eu casei na igreja, Porque se eu não casasse na igreja, o meu casamento não seria aceito como válido para membros da família. Então, aí você vai notar que, mais uma vez, eu, eu sofri uma, uma coerção, não só familiar, como também social. Porque a sociedade, hoje em dia, não aceita que o elemento case num só lugar, como diz o nortista, né? Eu casei nos dois lugares, né? () são esses dois lugares? Dois lugares, quer dizer, no cartório e na igreja, certo? Então, se eu casasse só no cartório, como, para mim, seria o válido Ou então, se eu casasse Ou então, eh, se eu casasse, ou então se eu casasse, sei lá, para mim o válido mesmo, Rô, seria casar no cartório e seria casar no, no, numa igre, na igreja não, no templo da, do meu, da minha, da minha seita, entende? Que é espiritualismo. Mas, eh, não existe casamento em, no ainda na minha filosofia de, de crença. Não existe casamento, mas existe assim uma benção.

SPEAKER 1: : Mas por falar em casamento, você, você nota como (pausa) nós somos criados numa mesma casa. Ah, sim. No mesmo lar, tivemos mais ou menos o mesmo tipo de orientação e comigo aconteceu exatamente o oposto do que aconteceu a você. Me lembrou até agora de uma passagem que tinha dois caras presos numa prisão. Dez anos estavam os dois na mesma cela, então uma bela noite depois de uma chuva, os dois se agarraram nas grades e um olhou para o céu e viu aquela noite estrelada, uma lua bonita, o outro olhou lá para o chão, lá embaixo no, no buraco, e um montão de lama, sujeira. Então, como duas pessoas podem agir de maneira diferente. Você veja, o meu casamento foi: o meu namoro foi informal. Noivado não existiu porque foi informal também. E o casamento foi mais do que informal. Porque o casamento, vocês lembram bem Quando surgiu a oportunidade, eu sempre fui daquela teoria, Isso nunca ninguém ia me tirar da cabeça, que quem casa quer casa. Então eu achava que podia dormir no chão, mas tinha que ser numa casa minha. Ah, sim, esse conselho (). Eh. Eh, tanto é que quando você foi comprar a casa muito antes de eu pensar, eu já naquela época estava pensando em comprar uma casa para se um dia eu casasse. Eu lembro até que você () junto com a gente.  Exato. Agora eu me lembro que eu fui lá para o (), procurando e tal, achei uma casinha lá, na época sobrou um, um dinheirinho, eu peguei e falei, ah, vou partir para essa de Bê Ene e comprei uma casa pelo plano de expansão aí em dez Anos. Na época, todo mundo brigou, falou isso, falou aquilo, falou que não sei o quê, que o sistema era ou não válido, que ia ficar numa fortuna. A realidade é que se eu fosse esperar ter o suficiente para comprar a casa, eu não teria comprado. Teria que ter alugado e teria pago um aluguel. Hoje, tenho uma propriedade que pela metade é minha, porque já são quatro anos que estou pagando, e estou chegando lá. Agora, eu me lembro que trinta dias, ou mais ou menos uns trinta e cinco, quarenta dias  Me deu na cabeça, assim, eu falei, bom, estou nem aí, vamos lá, nove anos de namoro, oito anos, aliás, e eu, nesses oito anos de namoro, eu falei, está na hora de tomar uma decisão. Mesmo porque, antecedendo a isso, existe, acho que na fase de todo mundo, já deve ter acontecido com você também, Aquele período em que a gente começa a pensar, será que é isso que eu quero? Será que é isso que eu não quero? Será que eu vou casar? Será que eu não vou casar? É essa a mulher certa? Não é essa mulher certa?

SPEAKER 0: : Fase de indecisão, eu acho inclusive natural, porque é a hora que a, a pessoa vai notar que vai perder realmente a sua liberdade. Então a gente pensa assim, bom, eu vou perder minha liberdade? Eu Eu quero perder ou eu não quero perder a minha liberdade? Então a gente fica naquela indecisão. É uma fase que acho que todo mundo atravessa.

SPEAKER 1: : Exato. Mas uma vez superada essa fase, eu cheguei à conclusão que (). It is now or never. Ou vai ou racha. Ou é agora ou nunca mais. Que eu sempre também achei que o homem que não casa até os trinta, dificilmente vai casar depois dos trin ta. Por exemplo. Ele pode juntar interesses após os trinta anos. Mas casar não vai casar. Então, após os trinta anos, eu sempre fui da opinião que o homem mais analista, mais eh, pela razão, mais interesseiro, ele vai selecionar a quem escolher mais por interesse do que pela realidade daquilo que ele sente. Então, eu lembro que uns trinta e poucos dias antes de, de, de casar, eu cheguei e falei, olha, para dizer que não vamos ser formal, eu vou lá conversar com teu pai. Peguei e fui lá conversar com o pai dela, mas antes de conversar com o pai dela, nós já tínhamos ido no cartório, marcado a data do casamento e assinado os papéis para dar a entrada nos editais de proclamas, e E questão de igreja, nós não pensamos muito rapidamente, porque acontece o seguinte, eu achava que o negócio de casar em igreja, para mim sempre eu achei que foi bobagem, mas ao mesmo tempo sempre achei que tinha que casar na igreja porque era uma maneira de satisfazer isso que a Rosali falou, a satisfação familiar e uma satisfação social. Então, em respeito aos pais dela, os meus próprios, nós resolvemos casar também na igreja. E casamos no cartório por uma razão muito simples. (pausa) Eh É uma maneira de você tutelar alguém e dar direitos a alguém. Porque, afinal das contas, uma mulher vai viver junto com você, vai passar o resto da vida ao seu lado, e amanhã ou depois pode alguém a, querer, a qualquer título, abocanhar alguma coisa que vocês, em conjunto, tentaram criar, tentaram construir. Então é uma maneira de tutelar isso para mim, para ela e para aqueles que hoje estão aí, que são os nossos filhos. Agora, quando nós fomos ao cartório, Eu marquei o casamento, fui lá, falei, bom, agora, para dizer que eu nunca fui formal, eu hoje vou pedir formalmente a sua mão em casamento. Chegou a noite, chamei o pai e a mãe e falei, quero comunicar a vocês que eu vou me casar no dia sete de setembro. Como faltavam apenas trinta e poucos dias, todo mundo se assustou. Mesmo porque vocês lembram que eu não tinha móvel, não tinha nada. Tanto é que quando eu fui comprar o, o móvel de, de, de dormitório, que foi a única coisa que nós compramos para casa, o cara perguntou se eu era louco, que eu queria que entregasse os móveis em vinte dias. Ele falou que o móvel só podia entregar em... cinquenta dias, então o tempo era escasso. E o negócio foi nesse corre-corre, a gente passou a mão nos tijolo, montou lá aquela salinha que você lembra, geladeira a gente ganhou de presente, fogão a gente ganhou de presente e ficou por isso mesmo. Tinha o quarto, fizemos uma sala improvisada, tínhamos um teto, tínhamos tudo, o resto era, só faltou casar. E E me lembro que o negócio da igreja (tosse), eu falei que se precisasse fazer cursinho, essas coisas, ia encher muito e não ia dar tempo, porque também eu tinha minhas atividades profissionais, não ia dar. Então, como o padre Olavo aí, que também é amigo da gente, eu fui lá, conversei com ele, marcamos o casamento para o dia sete de setembro, que foi exatamente o aniversário dela, e fomos lá, uh, chegamos na igreja e casamos. E um outro fato curioso é que me lembra que eu fui tão informal, que eu me lembro que um dia antes de casar é que eu lembrei que não tinha aliança, e saí correndo por aí para comprar aliança.

SPEAKER 0: : Já que você está falando em igreja, Carlinhos, olha, mais uma vez eu, eu, eu estou lembrando que (pausa) (tosse), como houve assim coisas diferentes entre nós. Eh Da minha parte, assim, já houve uma preocupação maior, porque eu não queria casar em, em qualquer igreja, entende? Eu queria casar numa igreja onde não tivesse santo na parede. Então, nós tivemos e, nós procuramos e achamos a igreja de seminário lá no Ipiranga. E tivemos, inclusive, que dar um endereço falso, porque tem aquele problema de pertencer a tal paróquia e tal. Fomos bater numa casa de uma pessoa que nós nunca conhecíamos. () Aliás, que nós não conhecíamos, batemos lá e pedimos para ela nos dar o endereço. E mesmo em questão de casa, também houve uma grande diferença entre nós. Porque, da minha parte e da parte do Gerson, houve uma preocupação maior, assim, com a casa, entende? Não foi um negócio, assim, tão improvisado. Nós compramos a casa, mobiliamos a casa mobiliamos assim dentro das nossas possibilidades, certo? Mobilhamos com cuidado e tudo, foi um negócio antecipado. O, o, a Agora, Carlinhos, assim por falar em casa, já que a gente está falando assim de casa e eu estou falando de problemas de, de mobília e tal, eh, eu vou te falar um negócio. Eh Se hoje, se hoje eu tivesse assim que, que, que escolher uma casa, entende? Eu acho que escolheria a casa onde eu moro. Porque é, é, é realmente a casa que eu sempre quis ter. Rosali, falando em casa, então, você poderia me descrever como é a sua casa, tá? Tá, é exatamente o que eu ia falar, Rô. Eu ia falar exatamente disso. Eu ia falar para você que ela é a casa realmente do tipo que eu queria ter. É um tipo de chalézinho assim, entende? Com um, um jardim, um jardinzinho, e tem uma sala, um quarto, aliás, havia dois dormitórios, sala, cozinha, banheiro e um quintal enorme, cheio de terra. Isso daí é antes, quando nós tínhamos, eh logo que nós casamos. Gradativamente, nós fomos modificando a nossa casa Então, hoje, a nossa casa assim, tem mais conforto, porque quando nós casamos, nós fizemos duas salas. Hoje, nós temos a sala mesmo, né, nossa sala, temos a (), a nossa sala, uma saletinha, onde era o nosso quarto, Temos o quarto da menina, o nosso quarto, temos o banheiro, temos uma minicopa, né uma cozinha ainda improvisada, temos uma Construímos uma garagem, construímos um quartinho para empregada, banheiro, lavanderia e laje para subir a construção. Eu O quintal bastante grande, o jardim também bastante grande. Então, eh, para se, para definir bem a, a nossa casa, minha e do Gerson, Rô, eu digo para você assim, que ela é um estilo assim de casa de campo. É o sentido exato, entende? Ela é um chalézinho de campo. E E, inclusive, agora. () Passagem que é meio no campo. Bom, é meio no campo, que agora, infelizmente, está perdendo o aspecto de campo, porque vai ser futura área industrial de São Paulo. É perto da coluna japonesa de Itaquera. É um lugar onde você compra tudo fresco, né? Ovos, etecetera E (pausa), inclusive, agora nós, eh, ainda falando assim já em termos de futuro, tem, nós temos possibilidade de ampliar um pouco mais e fazer uma área de recreação no fundo da casa, né, Rô? Porque o terreno do fundo agora também pertence à gente. Então, nós vamos fazer lá uma área de recreação. Agora, eh, para mim, para mim, é a moradia inde, ideal. A A minha filha respira ar puro, por enquanto. Ela tem plena liberdade. de ação, ela tem colegas ou coleguinhas lá, é um lugar assim não muito movimentado, bem afastado da cidade, como eu já disse anteriormente, e eu acho que tudo isso daí vai facilitar a criação dela, entende? Vai fazer com que ela se torne assim mais sadia, com menos problemas de criança, problemas assim, aqueles problemas naturais da criança. Inclusive, eu acho que a, o lugar onde eu moro e o estilo da minha casa tem uma vantagem na criação da minha filha, que é a não obrigatoriedade do uso da bendita televisão, certo? A Fabiane, ela tem possibilidade de brincar o dia todo, a hora toda, a hora que ela quiser, com espaço suficiente, sem eu ter que pegá-la e falar, olha, você vai ficar aí vendo televisão porque não tem lugar para brincar e tal e tal, certo? Agora, Carlinhos, Falando da tua casa, é lógico.

SPEAKER 1: : Lógico. Eu me lembro que o negócio de comprar a casa foi que eu trabalhava de vendedor naquela época lá. Era vendedor e a gente andava sempre por São Bernardo e eu já andava dando uma olhada numas casinhas. Então, um belo dia eu achei a casa e lembro que naquela época eu levei a Ciata para lá. É lógico que antes de comprar, se eu pretendia casar com uma companheira, era justo que ela também desse uma opinião. Podia ser que não casasse, mas... Pelo menos se casasse com ela, a casa seria também a gosto dos dois. Então nós () procuramos um lugar mais ou menos tranquilo, um bairro residencial, porque nunca gostei de barulho, nunca suportei apartamento. Acho que apartamento é uma, é um presídio em estilo moderno e progressista. O sujeito que mora em apartamento é louco, na minha opinião. Porque o sujeito que vai morar em apartamento escolheu um modo de viver totalmente adoidado. Primeiro porque Tem alguém que vai abrir a porta, tem alguém que vai fechar a porta. Ele não tem liberdade, ele não pode ficar como ele quer. Se ele fizer muito barulho, ele vai incomodar o sujeito de baixo. Vai incomodar o sujeito de cima. Se um dia der vazamento na descarga, vai molhar o de baixo. Se der no de cima, molha o de cá. Aí

SPEAKER 0: : E vai assim por diante. Então eu acho que logo, logo nós teremos um louco na família

SPEAKER 1: : Então o que acontece é o seguinte. Baseado em tudo isso, eu resolvi comprar uma casa. E eu achava melhor uma casinha terra ou um sobrado. Sempre fui mais por um sobrado. Peguei e comprei um sobradinho. E E a minha preocupação foi comprar, como você, um, uma casa que tivesse um terreno grande. Agora, eu, sinceramente, a casa ficou lá parada um ano e meio, dois. Eu nunca pensei em alugar, nunca pensei em fazer nada, nem em mobiliar. (pigarro na garganta) Porque, na realidade, eu não estava (pausa), eu não estava muito predisposto a, a casar. Eu era a favor do, do namorar e não do casar. Não pensava muito nisso. No dia que eu resolvi casar, Então eu fui olhar a casa.

SPEAKER 0: : Falando em casar, que você disse aí, quer dizer, a gente pode não casar?

SPEAKER 1: : Por quê? É obrigado a casar?

SPEAKER 0: : Sim, eu queria saber, existem outras formas? Ah, lógico. Ah

SPEAKER 1: : Você pode viver solteiro, você pode, sei lá, eu me lembro que. Pode juntar, né? Exato, eh ### () Eu me lembro que eu fiz essa proposta à, à Ciata Falei, escuta, ô mulher, se nós não resolvermos casar, você topa () Partir por uma briga daquelas? E a briga daquelas, na realidade, vai ser o quê? Vamos entrar em choque com pai, com mãe, com a sociedade, com todo mundo e vamos simplesmente, você pega tuas coisas, casa nós já temos. Porque se eu me proponho a conviver com alguém, a viver com alguém, eu preciso ter algum lugar onde conviver com esse alguém. Não vou conviver com esse alguém simplesmente no meio da rua. Então, se nós já temos um lugar, a gente podia morar lá. Vamos morar lá. Na hora que falou, vamos morar lá, Ela topou a princípio, mas no fim a gente descobriu que eram tantos os problemas, a serem, eh, as barreiras que a gente tinha que quebrar, que era muito mais fácil a gente aderir do que tentar brigar. É como um sujeito que vai querer remar, entende? Contra uma, uma correnteza muito forte. Está todo mundo a favor, você vai ser o único contra e você vai ter que brigar com o mundo inteiro. Então é uma briga muito grande e, sei lá, eu acho que não, não valia a pena a gente se desgastar em troco disso. Então, como eu estava dizendo, nós resolvemos comprar a casa. Depois de comprada a casa, fomos lá. e E a nossa casa é um pouquinho diferente da Rosali, porque é um sobrado. Tem um jardinzinho na frente. Logo de entrada tem uma sala, que a princípio a gente não sabia o que fazer. Nós roubamos uns tijolos. Cada vez que eu ia lá limpar, colocava os tijolos, punha uma tábua, improvisamos uma sala que nem eu já havia falado. Embaixo tem um banheirinho com um lavabo, uma mini cozinha muito pequenininha. Por quê? Porque é um sobradinho meio acanhado e tal, então a cozinha realmente é pequena, uma lavanderia pequena. Tinha um quintal grande e enorme, que aliás era meio, e (pausa), meio num, num plano mais inferior do que o solo da casa, e eu achei que seria muito mais conveniente aterrar. Tanto é que nos fins de semana, aí uns três ou quatro fins de semana, eu resolvi dar uma de de machão e arranjei um par de amigos mais machões do que eu e fomos lá carregar terra para dentro.

SPEAKER 0: : Mais do que na nossa casa, garanto que você não tirou terra, em Carlos. É (pigarro na garganta)

SPEAKER 1: : Botei treze caminhão de terra lá para dentro, estourei a mão toda, mas foi bacana. Em cima, na casa subindo, nós temos um dormitório maior, que é o dormitório que nós ocupamos atualmente, e um outro banheiro, esse já maior do que o primeiro, e um quarto relativamente bom, que é o quarto que atualmente funciona como o quarto das crianças. E lá em cima nós resolvemos acarpetar. A única coisa que eu comprei foi o, os móveis da, do dormitório. Os móveis do quarto, eu levei uma, um sofá-cama que a gente tinha em casa antigo, foi reformado, levamos lá para o quarto. E à medida que veio surgindo as crianças, a gente foi melhorando a coisa. Atualmente, que nem agora, estou fazendo um muro lá, que você já viu. Estamos colocando o muro mais alto para evitar problema com as crianças, de jogar coisa nos vizinhos. Agora uma coisa curiosa é o seguinte... Quando a gente foi mudar para lá, eu notei que o sistema na rua, o pessoal da rua é homogêneo. Não existe tanta hetero, tanto pessoal assim diferente. Todo mundo lá é mais ou menos classe média, todo mundo tem mais ou menos um nível cultural igual. Então isso aí traz muito proveito porque as crianças vão ficar convivendo com crianças de pessoas que têm mais ou menos o mesmo nível cultural. Então nunca vai haver disparidade. Então se tem festinha na casa de um, tem festinha também na casa do outro, assim por diante. É mais ou menos que nem lá na sua casa.

SPEAKER 0: : Certo e Inclusive, Carlinhos, eu acho que isso daí é muito bom para a gente, né? Agora, você veja só que até nesse ponto aí nós diferimos. Porque enquanto que, falando de móveis, assim como você estava falando, enquanto que os teus móveis são assim de estilo moderno, né? Todo laqueado em branco e tal, os meus móveis já são assim no estilo mais formal, de jacarandá o dormitório. Inclusive os móveis da sala. Os móveis da sala também. Enquanto que a tua sala foi montada em estilo rústico, a minha sala já segue assim um estilo mais moderno, certo? Agora, isso daí, em termos de antes, né, Carlos? Porque atualmente a minha casa está na pura bagunça, entende? É estilo misturado. Você podia me descrever como é esse estilo rústico? E esse estilo, âh, que você disse ser antiquado, sei lá, ou moderno? Não, eu não disse antiquado, eu disse um estilo assim mais formal, né? Então, o estilo rústico, eh, como o Carlos falou, Rô, a sala dele foi montada. Quer dizer, eles pegaram tijolos, pegaram tábuas e montaram um, um sofá, montaram a mesa, pegaram uma barrica e duas barriquinhas, montaram um barzinho. Então, o lustre também era lustre de vime. Enquanto que na minha casa, não. Na minha casa tem aquele sofá tipo padrão, eh, com os dois sofás, com mesinha lateral de jacarandá, mesinha de centro, uma estante. Ai Aliás, naquela época não havia estante, havia um console, né. Um console e com espelho. Então, é, é um estilo completamente diferente do outro. Atualmente, já, já houve assim mais mudanças. Agora, mesmo assim, inclusive a, a saletinha também já O Carlos também fez uma saletinha quando casou. Então, a saletinha dele, âh, era carpetada e o sofá, um sofá assim, um sofá-cama, né? Vamos dizer, um divã. () Eh Era um divã. É, uma cama turca. Uma cama turca reformada, com um padrão assim, em te, em tecido.

SPEAKER 1: : Deixa eu só abrir um parênteses aí. Essa Cama turca aí, não sei se você lembra, foi a cama turca de relíquia aqui de casa, onde eu dormi muito tempo.

SPEAKER 0: : Lógico, levou a relí 

SPEAKER 1: : Falei, poxa vida, deixa eu conservar isso aqui melhor, porque capaz de qualquer dia eu poder usar. E realmente usei, está lá até hoje, quando vai visita lá em casa, é onde a gente põe para dormir.

SPEAKER 0: : Certo. e Enquanto que na minha casa a saletinha também já seguia assim um estilo diferente da dele. A minha saletinha tinha um, ainda tem hoje, um armário que nós mandamos fazer, que inclusive como um tipo assim de biblioteca, muito, muito re, muito restrita, eh, muito tímida, vamos, vamos dizer assim, Uma biblioteca, um sofazinho e essa saleta aí foi a série de modificações, né? Porque nessa saleta aí que começou a haver, assim, aquelas misturas de estilo. Então eu comecei a, a inventar moda e fazer estante de tijolo e depois... trazer coisas de viagens. E atualmente, você nota que lá tem o quê? Tem moderno, moderno que eu digo é esse estilo assim de so, linha reta, com linha colonial, com linha, com linha rústica, estante de tijolo, cadeira de bambu, e tocheiro de madeira colonial, e carrinho de chá, e piano, quer dizer, tudo misturado. Eu acho que, eu, eu estou descrevendo esses negócio aí, Carlos, Para mostrar que como houve uma mudança na casa, houve uma mudança também na pessoa. Quer dizer, tal, antes eu não aceitava, para mim tinha que ser tudo naquele estilo padrão, entende? A Agora não, agora está tudo confuso. ###

SPEAKER 1: : Certo? É mais ou menos como lá, que você lembra cada vez que eu ia para o norte, trazia, que uma vez eu trouxe uma rede, pendurei a rede Uma outra vez eu fui ao sul e do sul com, comprei lá embaixo uma, um umas peles e trouxe uns pedaços de, uns bibelôzinhos. Depois trouxe também um, uns negócios feitos de vime, uns abanadores e comecei a pendurar na parede. Uma outra vez eu fui para a Bahia, lembra? Fui junto com a Ciata na segunda vez e trouxemos de lá artesanato baiano. Então trouxemos umas peças de louça. Quer dizer, hoje metade daquilo O Carlos Frederico e a Karina agora também estão entrando nessa, se incumbiram de quebrar. Mas ainda tem alguma coisa lá que a gente guarda com carinho e está aguentando.

SPEAKER 0: : Agora, então, Carlos, esse negócio aí de trazer as coisas de longe também é uma, uma mania, né? Que eu tenho. Então você veja só, o tocheiro é esse estilo de lampião assim, do Espírito Santo. Do Mato Grosso eu trouxe lembrança dos índios, porque tive uma uma relativa convivência com eles. De Minas eu trouxe bastante coisas assim de pedra-sabão e louça portuguesa em imitação, é lógico. Essas peças se compõem do quê? O que que são. Essas pedras em, essas peças em pedra-sabão? A Ah, sim, âh são, bom, diversificado, certo? Tem Tem um filtro, tem vaso, tem jarrinha, tem bomboniere, tem, tem um monte de coisa. Tem o que mais? Tem baciazinha com uma jarrinha de água. São mais coisas assim para ficar mesmo de, de enfeite. tem. Ah, uma outra mania também é ir na casa alheia né como você diz, e na casa alheia que eu digo quer dizer na casa da tia Cacilda e roubar e, e roubar não né,  vamos usar o termo roubar quer dizer pegar assim distraídamente e depois falar olha posso levar isso tal pegar aquelas coisas bem antigas mesmo como aquele tinteirinho aquele tinteiro de cobre de e de chumbo misturado, como o cinzeiro, como aquela jarra de vinho que a gente, o vovô usava quando nós fazíamos as ceias de Natal. Então, você lembra aquela jarra de vinho to

SPEAKER 1: : da, eh. Você falou em ceia de Natal aí (tosse), você vê, a gente é, é ainda, em certa forma, uma família um pouco tradicio Desde que eu me conheço por gente, a gente sempre fez ceia de Natal na casa do vovô. Véspera do Natal era matemático fazer uma ceia de Natal. Ainda continuamos fazendo lá na casa dele, em memória a ele. () lá e é talvez o membro Mais velho da família. Então me veio isso aí na

SPEAKER 0: : Mas é, olha, mas agora que você falou isso também, Carlinhos, é bacana a gente também ver um negócio, que apesar de nós agora pensarmos de uma maneira completamente diferente daquilo que nós pensávamos, e apesar de agora não existir aquela coerção do papai que existia, daquela pressão que existia sobre nós, este ano aqui foi opcional e nós optamos por ir lá, certo? Agora, continuando, Carlinhos, eh, bom, então essas lembranças todas aí, que na minha casa ainda continuam de pé, porque eu só tenho uma filha, né? Continuando ainda a falar assim do casamento, eu não sei se você lembra que eu fiquei casada há quase dois anos sem arrumar a Fabiane, né? Depois nós fomos para Mato Grosso, e de Mato Grosso nós trouxemos essa lembrança, que foi a Fabiane, certo? Então, você veja bem, Carlinhos, a, a Fabiane, naquele tempo lá, ela já estava com aquele problema lá de, de doença, Aquele problema de doença. Ah, falando um pouquinho, antes de você falar em doença, conta um pouquinho para a gente como é que foi o fato da novidade Fabiane para a gente. Ah Ah, sim. Ai Esse negócio foi o seguinte. Eu sempre falava para o Gerson que eu ia arrumar neném quando fosse para Mato Grosso, porque a família dele é tudo mato, é toda mato-grossense. Então, nós fomos para lá e realmente coincidiu de eu ficar grávida lá. Não porque eu realmente queria, mas porque aconteceu de eu ficar grávida lá. Bom, quando eu cheguei aqui e falei que eu estava esperando o nenê, quando eu cheguei aqui e falei que eu estava esperando o nenê, eu primeiro mandei fazer o teste, o exame de urina, dei para o Zé Carlos. O Zé Carlos deu para a Fran, que atualmente é, é madrinha da minha filha e é uma, uma pessoa muito legal, parteira também e tudo. Então, você lembra, Carlos, eu dei para você o exame, o Carlos mandou para a Fran, a Fran mandou para o hospital lá, Dom Pedro, maternidade Dom Pedro, e o exame veio positivo. Oh, parece que a família entrou em revolução. Lembra, Carlinhos? Porque, inclusive, foi no mesmo ano que você casou. Então, a mamãe tava com aquele problema lá de perder o filho. E, ao mesmo tempo, estava super contente com a vinda de um, de um ser novo na família. Bom, as tias, então, nem se fala. Aí começou, inclusive, aquela gozação toda, que eu achava que a minha filha, se fosse menina, eh, chamar-se-ia Karina, Karina não, Agar. e E a turma lá da escola, lá do ginásio onde eu lecionava, inclusive falava isso, Rosali, bota o nome de Agar na sua filha, que depois a turma chega aqui e fala assim, vem cá, Agar, vem cá, Agar. Então, você já viu o que que ia ser, né? E foi aquela gozação toda de nome, aquela gozação toda na espera, e aquela, e era um tal de medir barriga para cá, e se interessar de ver se o nenê tá crescendo, se o nenê não tá crescendo, como vai chamar, como não vai chamar. E E, sei lá, revolucionou a família inteira. Aí você foi viajar na tua lua de mel, e quando você voltou, você me achou na maternidade com a menina. Inclusive, todo mundo esperando por um menino, lembra? Lembro E apareceu a menina, né, a Fabiane. Isso daí trouxe uma modificação muito grande, eu acho, para a nossa família. Muito grande mesmo. Logo depois, a Ciata também veio com a novidade de estar esperando o nenê. E foi outra alegria também bastante grande. Então, a Fabiane nasceu em setembro e no ano seguinte, em junho, nasceu o Carlos Frederico, né? E aí já tinha uma netinha e um netinho para completar a família e para bagunçar o coreto de todo mundo. E para trazer modificações também bastante grandes na nossa família. Porque... porque a gente po, a  gente precisa entender uma coisa, que (pausa) a criança Ela, ela modifica tudo, tudo, tudo. Ela modifica, inclusive, o modo e a maneira de pensar. Então, a rigidez, nós notamos o seguinte, que a rigidez do papai e a rigidez da mamãe caíram por terra com relação aos netos, certo? Então, agora nós somos os rígidos e eles são os fracotes, né? Vamos falar nesses termos. Uma inversão de valor () É, houve uma inversão de valores nas coisas. E as tias então nem se fala, né? Tia, então estraga sobrinho para chuchu. () Fala. Eh, eu

SPEAKER 1: : Você lembrou aí que o seu foi feito, a sua foi feita em Mato Grosso. E E eu lembrei que o a mim, o meu (pigarro na garganta) foi feito na Bahia. Ham Eu lembro que o maior sonho da gente foi casar e fazer uma viagem. E a gente casou duro. Casou duro, sem dinheiro. Mal e mal deu para comprar os móveis do dormitório. Estava contando negócio da aliança lá, que até esqueci de complementar, que um dia antes eu lembrei que estava sem aliança, fui procurar aliança só para contar isso aqui, porque é um fato curioso. E como não tinha aliança em lugar nenhum, eu entrei em várias lojas, não achava em lugar nenhum, porque era só encomenda. Uma hora eu desisti, entrei numa loja que não vendia aliança. E falei, bom, vou tentar aqui, se não tentar, caso com uma emprestada. E não é que chegando lá encontrei um par de alianças exatamente iguais, e as duas únicas alianças que tinha no mostruário da casa serviram exatamente que é a que a gente tem hoje. Bacana. Mas aí a gente casou e aproveitou, foi para a Bahia. Eu me lembro que a gente uniu o útil ao agradável, como eu disse, não tinha dinheiro para viajar, mas eu tinha uma viagem de montão de coisa para fazer, então a gente aproveitou. Falei, bom, uma vez que eu tenho que ir para lá, a gente aproveita, vai fazer uma viagenzinha de lua de mel. Mas para cúmulo do azar, a gente foi com uma perua chevrolet velhona, coitada, sessen ta e quatro. A danada me quebra em Jequié antes de chegar lá. Ah A hora que quebrou a, a perua, passamos quase que praticamente, âh, quatro dias lá em, em Jequié. Mas quando nós voltamos, estava já gerado o, o Carlos Frederico. Foi feitinho e bonitinho na Bahia. E aí foi aquela preocupação. E eu notei que no decorrer dos dias, como você mesmo falou, a gente vai se modificando. A gente começa a tomar consciência de uma responsabilidade, de uma série de coisas que a gente nunca pensou antes. A gente nota uma, nota que a mulher da gente torna-se, como você se tornou, diferente. Torna-se mais sensível, torna-se... Ela muda radicalmente, mesmo biologicamente, mentalmente, a maneira de pensar, uma série de coisas vão sendo modificadas. (pigarro na garganta) E E eu lembro perfeitamente que eu fiz questão de acompanhar o pré-natal dela. Toda vez que ela ia fazer pré-natal, eu ia junto, eu queria saber, me interessei. E onde ela ia, eu ia junto. No dia que ela foi para a maternidade, fui junto, me interessei em ir. A única coisa que não me foi permitida, é porque é uma norma lá da maternidade Brasil, foi de assistir o parto, o que me deixou muito triste. porque eu gostaria de ter assistido o parto, mas infelizmente não pude assistir o parto. Mas acontece o seguinte, teve uma outra alegria maior. Eu me lembro que a, o único instante em que me barraram (pausa). Então eu me lembro que a maior alegria que eu já senti na vida foi exatamente no instante em que eu estava na porta da sala de cirurgia e eu inclusive entrei até ali onde não podia entrar, toda hora me punham para fora. E a, foi o instante mais feliz da minha vida. Depois de ter passado a noite todinha ao lado do, do trabalho de parto da, da, da Ciata, a gente ficou junto com ela ali a noite toda. E E na hora que trouxeram aquela criança enrolada e abriram para mostrar que era realmente um varão, então na hora que abriram o pano e me mostraram o bebê, foi a coisa mais feliz da minha vida. E eu lembro que fiz uma coisa que acho que eu nunca mais, pensei que nunca mais ia fazer. Chorei que nem uma criancinha. E aí veio aquela preocupação, a gente depois teve que fazer outros, série de exames com Ciata. E eu me lembro que aí, cada vez que a gente ia ao médico, o médico tinha que fazer um exame porque teve que fazer uma sutura. E eu lembro que a gente sempre colaborava com a Ciata para fazer a parte de, de limpeza, entende? Para desinfeção, desinfecção, uma série de coisas. Então eu me lembro que quando foi uma vez nós fomos ao médico, E eu fiquei na dúvida se o ponto estava ou não aberto. E o médico estava examinando. E a gente conversando com o médico. O médico esteve me mostrando. Então, eu examinei junto com o médico para saber onde que estava e onde se, onde estava e onde não estava aberto, onde estava fechado. E ele me explicou como proceder em determinados casos. Quer dizer, ajudou bastante também os meus conhecimentos nessa parte. E depois a gente programou um outro neném para depois de uns dois anos, mais ou menos, para dar uma diferença de idade relativamente boa. (pigarro na garganta) Então, seguimos a orientação do médico no que fazer como, eh,  prevenção para controle da natalidade e (),eh, falha de alguma coisa. Falha mecânica Um belo dia, suspendeu a menstruação da Ciata. Falei, ó, bem, você precisa ir no médico ver o que que é, né? Ela falou, ah, vai ver que não é nada, está apenas com atraso e ficou por isso mesmo. Mas passou um mês, dois meses e eu falei, olha bem, acho melhor você ir no médico você está com problema de ovário.

SPEAKER 0: : É, nasceu o ovário depois, né. É

SPEAKER 1: : Aí quando nós fomos mandar fazer o exame de urina e deu positivo, caímos de costas tanto um como o outro. Mas aí nasceu a Karina Daniela, veio uma menina bonitinha e estamos aí.

SPEAKER 0: : Faz par per, perfeito com a Fabiane, né? É. A Agora, voltando um pouquinho, viu, Carlos, já que você estava falando aí do nascimento da, do Carlos Frederico e tal, eu me lembro que no nascimento da Fabiane, que também foi cesárea, como da Ciata, eu me lembro que depois eu vim para casa. E eu E aqui começaram os primeiros cuidados com o bebê. Então, aquele problema de cuidar do nenê, a mamãe cuidava do nenê porque a minha inexperiência era () era patente, né? E o meu des, âh, o desajeitamento também era total. Então eu me lembro bem que aí começou um outro tipo de coisa. Um outro ti, eu comecei com outro tipo de preocupação. Alimentação do nenê, então era mamadeira de três em três horas, era banhinho todo dia, era trocar a fralda toda hora, era o que a Fabiane, a Fabiane dormir, não dormia à noite, a saúde do nenê, tudo isso. Aquele, aquele problema lá de começar a dar vacina depois de algum tempo, bom, eu fiquei aqui um mês. Depois desse mês que eu passei aqui, que eu já adquiri uma certa experiência, e eu já estava melhor da cesárea, eu fui para casa. Aí eu comecei levar a Fabiane no pediatra. E comecei a, a, a ter, assim, alguns probleminhas. O primeiro problema de saúde que eu tive com a Fabiane, não sei se você lembra bem, foi aquele problema dela ficar com o narizinho meio tampado e E o médico disse que isso era normal na criança, que todo recém-nascido tem esse problema. E ela () estava, assim, um pouquinho ama, amarelinha, eu pensei que fosse problema de icterícia, mas não era nada. Depois disso daí, também começaram, aí nós fomos para casa e começou, com um mês comecei a dar o suquinho, certo? Comecei a dar a vitamina para ela, o Adecol, até me lembro bem que foi a Fran que indicou esse remédio. Comecei a dar, âh, a começar a, a dar o suquinho, depois gradativamente fui fazendo, dando frutinha amassada, depois sopinha e, e comecei assim com a alimentação. Nessa época, eu me lembro bem, começaram também os problemas da vacina. Então, era a vacina Sabin e a Tríplice. E me lembro bem que no primeiro dia que eu fui levar a va, a Fabiane no posto, para tomar a Sabin, a primeira dose da Sabin e da Tríplice, que a Tríplice deu uma reação nela e ela teve problema de febre. E eu fiquei apavorada, porque eu nunca tinha passado por aquela experiência. Me lembro também, uma outra vez que eu fui ao cinema e deixei a Fabiane em casa com a minha secretária, com a minha empregada, E quando nós voltamos, a Fabiane estava com vômitos, provocado por tosse. Mas eu fiquei tão apavorada que eu peguei a menina e levei chorando para o hospital lá, o hospital infantil aí no Ipiranga, para ver se era algum problema de desidratação e tal. E graças a Deus não era nada disso. Bom, e depois disso daí, a Fabiane foi crescendo, foi desenvolvendo, nunca teve problema assim sério de saúde, sempre com uma saúde normal, e eu continuei dando as doses de vacina. Nessa época, eu me lembro também que eu trabalhava, você lembra, né, Carlos? E eu trabalhava e deixava a menina com a minha secretária e depois, à tarde, cuidava dela. Me lembro também quando ela começou a andar com nove meses, nove meses e pouco, ela começou a, a levantar e dar os primeiros passinhos. Me lembro também que ela vivia sempre no tapete. Você lembra, Carlos? Lembro Na saletinha, a gente tinha um tapete verde e soltava a menina lá. Então, ela virava de bruço e tudo. E a mamãe, olha, a menina vai sufocar e tal. E E, e eu deixava e ela levantava e caía. E assim que ela aprendeu a andar. E, e não sei se você se lembra bem, que quando ela tinha dez meses, ela já andava bem. E que no primeiro aniversário dela, ela foi a vedete da festa, né? Porque ela tá, ela estava tão desembaraçada que nem se, se,  hum, sei lá, não deu problema nenhum. E outra coisa também que a maternidade despertou em mim, que eu acho bacana assim de lembrar, Carlinhos, é aquele problema lá de eu nunca ter tido antes vocação para, para fazer coisas assim, jeitosas. Trabalhos manuais. Então eu me lembro que três meses antes do aniversário da Fabi, eu comecei com aqueles preparativos e fiz todos os enfeitinhos e tal e tal, enfeitinho, do a, arranjinho de mesa e todos aqueles pormenores para que no primeiro aniversário ela tivesse uma bacana de uma festa como realmente ela teve. Certo. Agora, esses mesmos problemas que eu tive, o Carlos Frederico também deve ter tido, né?

SPEAKER 1: : Foi, não e E, realmente, o, uma coisa que eu sempre fiz até hoje é sempre acompanhar as crianças em todos os lugares. Me lembro que quando a gente matriculou no posto para poder tomar a série de vacinas que toda criança normalmente toma, eu acompanhei. E, sem falsa modéstia, eu sou um expert em fraldas, em cocôs e em xixis. (riso) Sou especialista no assunto.

SPEAKER 0: : Aliás, né, você e o Gerson, vocês podem se dar a mão, porque olha até hoje o Gerson também é um, é um excelente mãe.

SPEAKER 1: : E uma coisa que você não citou, e que eu faço questão de, de, de estar sempre dizendo, é que toda vez que a criança está um pouquinho ruinzinha, tem uma coisa que eu faço. Eu não acreditava, mas eu levo. Esse negócio de bucho virado, de criança com quebrante, isso aí é meio tradicionalista, parece coisa de folclore. Mas o fato é que eu me lembro a primeira vez que o Carlos Federico estava ruim, manhoso, eu levei no médico, o médico deu uma receita maior do que eu. Acho que se o garoto tomasse tudo aquilo, ia morrer. Aí então (pigarro na garganta), eu lembro que a Ciata falou para mim, olha bem, eu acho que ele está com o bucho virado. Eu já acreditava mais ou menos naquilo, mas eu falei, bom, a mamãe eu lembro que levava a gente para benzer e tal, eu falei, essa história de benzedeira, será que é, será que não é? Aí eu me lembro que nós levamos o, o Carlos Frederico para ser uma benzedeira, a benzedeira benzeu ele de bucho virado, a criança estava irritada quando foi, na volta voltou dormindo, tranquilo, sossegado. Então agora, toda vez que acontece qualquer probleminha, Não, não é que já vou direto na benzedeira, a gente faz uma análise do tipo de problema. e vai direto dar uma olhadinha para ver o que que é. Mais ou menos baseado na cara da criança, etecetera, a gente vai. Quer dizer, isso é uma coisa, uma característica que predomina. A gente mudou, evoluiu, mas os pai, a mãe, o avô, a avó, o bisavô, bisavó, acho que faziam tudo isso. E a gente continua fazendo. É uma coisa que nem os médicos hoje acham que aceitam, um negócio desse, mas que funciona. Tanto é que funciona que, como você deve ter acontecido várias vezes, você levar para benzer, A criança sai chorando e quando volta, volta dando risada, sarou. Se é psicológico, não, não existe acho que um condicionamento na criança. Então realmente deve existir qualquer coisa. O fato é que funciona e funcionando é o que importa e é válido.

SPEAKER 0: : Inclusive, Carlinhos, eu me lembro bem que a primeira vez também que eu levei a Fabiane na, na, numa mulher para benzer, por causa de bucho virado também, que ela teve problema sério, de ela estava com problema sério, vômitos e diarreia e tudo, e eu precisei levar ela no pediatra, o pediatra de receitou uma série de antibióticos e a menina quase morreu com essa série de antibióticos, então no fim acabei benzendo de bucho virado e a menina ficou boa. Depois disso daí, a agora, Carlinhos, uma outra coisa inte, uma outra coisa assim que a gente, sei lá, é um negócio, um assunto que talvez eu falasse melhor com a Ciata do que com você, mas que eu notei também uma diferença em mim, pessoalmente. Foi a, o interesse maior, eh, por tipo, por, por alimentação, assim. Então, a Fabiane, a Fabiane, você veja bem, Carlos, ela começou a tomar sopinha, começou a comer tudo, e começou a se desenvolver bastante, certo? E nesse desenvolvimento dela, ela Ela começou também a, a recusar alimentos com a idade que ela tem.

SPEAKER 1: : Isso aí inclusive aconteceu com a gente lá. Agora, isso é um problema natural decorrente da, da criação. Agora, o mais interessante é que quando a gente tem o segundo neném, é. Diferente do primeiro, né. É bem diferente, a, a. Eu senti na, eu fiz o mesmo sistema, acompanhei da mesma maneira que acompanhei o primeiro, não pude assistir o parto, foi no mesmo hospital, tentei de todas as maneiras, não houve possibilidade de fazer a coisa. Mas assim mesmo, eu acompanhei a coisa de perto e fiquei feliz por ser uma menina. Então aí surgiu, além de todas as preocupações, o problema de associação entre os dois. Porque era um novo ser que vinha para tomar o lugar de um outro, segundo psicologia infantil e etecetera. A Gente tem que levar em consideração uma série de coisas. E nós estamos aí lutando para assimilar os dois, principalmente agora que a Karina Daniela está com nove meses, nove E o Carlos Federico já está grandinho, graças a um esforço que a gente fez de (pausa), não se interessar simplesmente pela menina, parece que está havendo um entrosamento perfeito, da mesma forma que os nossos filhos se entrosam com, com a menina, o Carlos Federico e a sua filha vivem brincando, brigam, mas levam uma vida normal, sem muitos ciúmes, e estão se desenvolvendo naturalmente.

SPEAKER 0: : Esse problema de ciúmes eu não tenho e nem terei, pelo menos por algum tempo. Mas é bacana notar que, nessa faixa de idade, o Carlos Frederico e a Fabiane estão assim plenamente amigos, o que, o que promete muito, porque são amigos inclusive nas bagunças, né. Bom, olha, nosso tempo já está quase findo, tá? Então, quero agradecer a vocês, está bom? E vamos logo, porque as crianças já estão batendo na porta, tá? Bom, então acho que nós já terminamos, né? Eh, âh Agora só basta dizer, né, Carlos, que futuramente virão outros sobrinhos, outras sobrinhas. Não. Não, outro dos outros, dos outros. Dos outros sim, daqui Dos outros. Da Rô, da Bila, do Luiz, né? Futuramente e tal. Se é que nós vamos aceitar ()

SPEAKER 1: : () O Carlos Frederico está me chamando lá embaixo e a mulher deve estar até brava porque. Está legal, tá. São dois agora.

SPEAKER 0: : São dois. Enquanto aqui que é só um ()